Garra Uruguaia (por Zeh Augusto Catalano)

Meu bolão apontava o Uruguai como campeão. Comentei isso com alguns amigos, que vieram tirar sarro virtual comigo após a melancólica derrota do meu favorito – no sentido de vencedor – ante à poderosíssima Costa Rica. Minha resposta foi que tenho medo do Uruguai. Que só acredito na eliminação deles quando os vir embarcando de volta pra Montevideo.

O Uruguai x Inglaterra de hoje foi uma amostra disso. Contra tudo e todos, o Uruguai disputou sua 1a final de Copa e, mesmo tomando um empate tardio e passando a ser empurrado pra trás pelo english team, conseguiu encontrar uma vitória fundamental pra sua sobrevivência no torneio. O segredo está nas fisionomias e nos olhares de seus jogadores. Não é só vontade. É obstinação, uma necessidade de dar 101% de sangue pelo país. A famosa garra uruguaia.

Por outro lado, me impressionaram profundamente as fisionomias de pura tensão de Steve Gerrard e, na véspera, de Iker Casillas. Deu pra ver e sentir, nas duas seleções, a falta de confiança em si próprios, um olhar de fatalismo de quem sente que o pior virá.

A Espanha já estava derrotada quando pisou o gramado do Maracanã. Errado. Foi antes. Quando se perfilou para entrar em campo, as caras tensas e preocupadas pareciam anunciar o que viria em seguida. Se portou em campo como um time combalido que compareceu ao próprio velório. Não teve forças para reagir a um Maracanã chilenamente hostil. Casillas parecia desejar o apito final desde o início. Só Iniesta escapou da mediocridade e tentou alguma coisa. Busquets perdeu um gol incrível por volta dos 15 do 2o tempo e esse lance pareceu o tiro de misericórdia no resto de confiança da Espanha.

Vai persistir o mistério: como Vicente del Bosque conseguiu levar uma seleção rachada ao meio entre dois times inimigos figadais a um título mundial.

Já a Inglaterra segue sendo um bando com dois craques, defesa fragilíssima e sem peças de reposição. Precisando de gols nos 15 minutos finais, o técnico teve de colocar em campo o poste Lambert, do Southampton. Falta completa de alternativa. No rosto de Gerrard, o ar de preocupação se tornava desespero. Ainda há uma tênue chance. Mas os deuses do futebol vão precisar querer muito ajudar os súditos da Rainha.

Farewell, my friends.

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A Copa do Mundo avança e as seleções sul-americanas seguem firmes. Para desespero dos responsáveis pela segurança nos estádios e cidades onde há jogos. Enganam-se os que pensam que os torcedores que aqui estão são “turistas”. São fanáticos por futebol e farão qualquer coisa pra assistirem os jogos e apoiarem suas seleções. A invasão dos chilenos no Centro de Imprensa foi um episódio menor e sem consequências perto das batalhas que podem estar por vir. Um Brasil X Argentina na final sonhada pela imprensa não será um amistoso. O pau vai comer. E a nossa torcida, de abastados convidados por empresas, de ricaços que podem pagar fortunas para terceiros por ingressos, vai ser engolida por barrabravas, que berrarão o tempo inteiro por cima do “muito orgulho e muito amor” dos brasileiros.

O mais engraçado dessa história é que os brasileiros estavam preparados para a guerra. A Fifa não. Não considerou preocupante a situação e não deu bola pras considerações das autoridades brasileiras. Ainda veremos muita confa nas ruas. A acompanhar.

Panorama Tricolor
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