Fred: maior ídolo ou grande personagem? (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, Fred é o assunto da semana, e não poderia ser diferente. Amanhã o Maracanã estará abarrotado de gente para ver a despedida do ídolo. Mas ídolo de quem?

Segundo alguns, maior ídolo da história do clube. Talvez, pela definição de ídolo, sim: “imagem que é objeto de culto e adoração”. Ninguém no momento histórico que vivemos, a partir dessa definição, ocupa tão bem a condição de ídolo dentro do futebol brasileiro.

Alguém me pergunta, então, se concordo que Fred é o maior ídolo do Fluminense, como proclamam alguns. Eu digo que não, com a maior clareza e tranquilidade do mundo. E a razão é simples: um clube não tem ídolos. Para tê-los, um clube teria que ser capaz de ter afinidade notável com o objeto da idolatria. Teria que cultuá-lo e adorá-lo.

Isso é algo que se aplica a pessoas, a escolhas feitas com sentimentos. Por mais que um clube tenha personalidade e caráter, um clube é uma instituição, não alguém capaz de escolher seus ídolos. Isso, por afinidade, cabe a pessoas.

Dirão, então, que o Fluminense é sua torcida. Se ela diz que Fred é o maior ídolo da história do Fluminense e o Fluminense é sua torcida, então é apropriado dizer que Fred é o maior ídolo do Fluminense. A que torcida, no entanto, nos referimos? Àquela que esteve no Maracanã em 1970, na final do Brasileiro contra o Atlético? Que viu Félix, Samarone, Galhardo, Assis, Toninho, Marco Antônio, Flávio, Lula, Cafuringa, Didi, Denilson e Mickey?

Seria a torcida que viu os shows da Máquina de Rivelino, Paulo César, Pintinho, Edinho, Gil e Cia? Ou seria a torcida do final da década de 1930, que viu Romeu, Tim, Hércules, Batatais e outros atropelando adversários e conquistando o tricampeonato?

Ou, ainda, seria essa torcida a que viu o Casal 20, Romerito, Deley, Ricardo Gomes, Branco, Tato, Paulo Vitor e tantos outros na década de 1980? E eu poderia falar de tantos outros, inclusive recentes.

Um clube não têm/ ídolos, pessoas os têm. Pessoas formam suas idolatrias a partir de estímulos e experiências. Quem viu Castilho, Píndaro, Pinheiro, Didi, Jair, Bigode, Marinho, Telê, Jair Marinho e Cia ganharem o Mundial de Clubes de 1952? O que as pessoas têm é o seu tempo, e nesse tempo Fred é a grande referência.

Não obstante, reafirmo que um clube não tem ídolos, tem grandes personagens. E Fred é um grande personagem da história do Fluminense Football Club, que, por essa razão, merece todas as homenagens.

Quem vos fala é alguém que esteve no Maracanã no último sábado e, por ironia do destino, acabou misturado com um grupo de torcedores que viveram juntos aquele período mágico que se iniciou no último quadrimestre de 2009 e terminou no final de 2012. Por que todos choravam e se abraçavam? Porque a figura de Fred remete a nosso imaginário aquele período.

Fred se junta a todos esses a que me referi e a tantos outros, como Preguinho, Marcos Carneiro de Mendonça, Orlando Gomes, Arnaldo Guinle, Oscar Cox, nosso fundador eterno, Nelson Rodrigues, nosso poeta, Afrânio Antônio da Costa, primeiro medalhista olímpico da história do Brasil, Gum, Dario Conca e tantos outros, na galeria de grandes personagens da história do Fluminense.

Repito que o Fluminense não tem ídolos, porque é um clube e não uma pessoa. O Fluminense tem personagens, e, se me perguntassem qual é o grande personagem da nossa história, eu diria que não tenho a menor ideia. São tantos e com contribuições tão gigantes! Se, por outro lado, me perguntarem quem é o grande personagem da história do Fluminense, eu responderei com uma gargalhada, tamanho o absurdo da pergunta e a impossibilidade total e absoluta de encontrar uma resposta. Tanto pior se me perguntarem quem é o meu maior ídolo na história do Fluminense. Mas talvez eu tenha e resposta para ambas as perguntas. Para mim, o maior personagem da história do Fluminense e o meu maior ídolo no Fluminense é o Fluminense.

Não, não confundam as coisas. Estarei no Maracanã sábado torcendo pela vitória tricolor e para que Fred faça o gol duzentos. Estarei tão emocionado quanto todos que lá estarão, unidos pelas lembranças inenarráveis, da mesma forma que no sábado passado. Lembrarei daquela virada antológica sobre o Cruzeiro em 2009, do golaço no Fla-Flu do Centenário, das semanas de aflição e esperança vividas em 2009, pela fuga do rebaixamento. Lembrarei das campanhas memoráveis, os gols, a artilharia, em 2011 e 2012. Lembrarei da arrancada com Muricy em 2010.

Fred é uma referência histórica, porque nos remete aqueles momentos. Porque remete ao Fluminense gigante que espero ver renascer, e vejo renascendo sob o comando de Diniz. Porque remete ao tempo em que éramos temidos, como agora, e gritar campeão foi tão normal quanto ganhar Fla-Flu. O culto e a idolatria a Fred é o culto e a idolatria a um Fluminense gigante, protagonista, campeão. Essa, no meu entendimento, é a perfeita simbologia do momento. Que, aliás, lembra a simbologia de Muricy Ramalho, outro grande personagem de nossa história, dizendo não à Seleção Brasileira para cumprir sua missão de ser tricampeão brasileiro pelo Tricolor, seguindo fielmente as ordens, vindas do além, de Telê Santana.

Que o nosso presente seja capaz de reviver e espelhar esse passado. Agora com Diniz, Ganso, Germán Cano, Arias, Samuel Xavier, Manuel, Nino, André, Matheus Martins, Caio Paulista, Martinelli, JK e cia.

Em outras palavras, só tenho mais uma coisa a dizer, que eu acho que diz tudo:

TE PEGOU!