Fluminense: sanduíche de gente (por Edgard FC)

‘Eu fico pensando em nós dois. Cada um na sua, perdidos na cidade nua’. A cada hora que passa, conjuntamente à torcida do Fluminense, sinto que somos feitos com muito esmero, um mero e preguiçoso misto-quente, sanduíche de gente.
Assim sou eu e Fluminense, meu grande amor, graças a Deus sou Tricolor. Queria muito cantar, e canto ‘Vamos, Flusão! Vamos, ganhar! Eu sou do clube tantas vezes campeão’. ‘Hoje sou feliz e canto, só por causa de você’.

Mas a dura realidade vista à olhos nus desde o campo, mandado por Roger Machado sob ordens de Mago e Pavão, não me deixa outra alternativa se não: ‘Num apartamento perdido na cidade, alguém está tentando acreditar que as coisas vão melhorar ultimamente. A gente não consegue ficar indiferente debaixo desse céu’. ‘Na medida do impossível tá dando pra se viver’.

Com medo do que possa ser mais um dia após jogo do nosso FLU, tenho semântica reversa ao de Orlando Morais e sua paz, pois para mim tem sido uma repetição de uma preguiça de levantar e encarar a cidade, ter de rir para não chorar, sem sentir nenhuma saudade. ‘Dá tristeza só de pensar pra que tanta maldade’. Pois para o atual gestor de grupo tem sido como registrou Tom Jobim, um samba de uma nota só, como ele mesmo disse, outras peças devem entrar, mas a base é uma só. E de forma pusilânime ainda afronta: não é hora de mudar a estrutura, tendo em vista decisões no porvir.

E o mais cansativo de tudo é que, as decisões a que ele se refere, nos prende por mais quatro semanas inteiras em jogos de ida e volta, contra equipes que notadamente jogam melhor do que nós. Pois o Roger é uma síntese inigualável do desfecho da primeira estrofe de Jobim, ‘quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada, ou quase nada’. Ele já utilizou de todo elenco, ou quase, e no final não deu em nada, ou quase nada. E fica sempre sem nenhuma, fica numa nota só.

Mas vamos lá, essa é outra consequência do que acabo de dizer, como eu sou a consequência inevitável de você, Fluminense. Queria demais que o quanto antes, pra ontem, como diria a sabedoria popular, fosse Mário a imagem de Cartola, madrugada dessas com sua viola e seu banquinho, de modo sorrateiro a aguardar Roger em sua sala e lhe cantasse: ‘Ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora de partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar. Ouça-me bem, amor preste atenção, o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos, tão mesquinho, vai reduzir as ilusões a pó. Preste atenção, querida, de cada amor, tu herdarás só o cinismo, quando notares, estás à beira do abismo. Abismo que cavaste com teus pés.’