Fluminense em desencanto (por Felipe Fleury)

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Não demorará muito para que surjam na mídia especulações sobre a presença de Ronaldinho Gaúcho no Fluminense e o seu desempenho mais recente na competição, quando, num viés de decadência, perdeu quatro dos últimos cinco confrontos; período em que, por coincidência, R10 esteve presente em parte.

Obviamente, será uma comparação despropositada bastante comum quando advém de uma imprensa, cuja sanha por denegrir nossos benfeitos é muito maior do que averiguar as verdadeiras causas que poderiam ter ensejado a recente má-fase tricolor.

Não se olvide que o clube de regatas contratou um tal de Guerrero, que nunca estará à sombra de um R10, mas que precisa veementemente ser a “grande contratação”, o craque do campeonato para o bem das finanças de jornalecos e outras mídias de segunda categoria e da torcida que é seu público.

Assim, portanto, persistindo as más apresentações, o nome de Ronaldinho passará ser questionado.

Não caiamos nessa falácia, porém. R10 é jogador de que não se prescinde. Craque de primeira grandeza que, enquanto estiver sendo profissional dentro de campo e responsável fora dele, será sempre utilíssimo.

O problema do Fluminense é outro. Sem entrar na seara das estratégias e esquemas, posicionamentos de jogadores e outras questões técnicas do esporte, cuja expertise é toda da companheira Crys Bruno, leigo como sou, posso minimamente constatar que o mal que assola o Tricolor é a deficiência no seu comando.

Assim, como Cristóvão e Drubscky, Enderson chegou ao Flu como uma aposta. Um treinador sem respaldo curricular que o credenciasse a dirigir um gigante do futebol nacional. Ao contrário, contudo, de seus antecessores, Enderson foi mais efetivo e incisivo para minorar problemas pontuais, como a crônica questão da defesa. Além disso, deu ao Flu uma formação mais coletiva e solidária que se destacou em algumas partidas mais pela garra e determinação do que por qualquer esquema tático propriamente dito.

Ocorre que esse sopro de ousadia, em regra, se dá dentro de nossos domínios, com a torcida como testemunha presencial e onde seria impensável atuar sem o constante desejo de vencer. Nessas oportunidades, o Flu é volúpia pura. Insinuante, marca avançado e pressiona com força até desmantelar em algum momento a defesa adversária.

Mas Enderson parece ser daqueles treinadores, tão comuns no futebol nacional, que preferem a garantia do emprego – e para tanto o empate fora de casa é sempre bom resultado -, à imposição de seu pensamento de jogo de forma uniforme, independentemente do adversário ou do local da partida.

E assim é, porque reiteradamente o Fluminense se apresenta fora de seus domínios como um visitante cheio de cerimônia, que pede licença para chegar à área adversária e se contenta em disputar o jogo com o firme propósito de apenas não ser derrotado.

Por mais de uma vez, esse respeito absoluto – que se pode traduzir numa covardia despropositada de um treinador que planeja apenas não perder – nos tirou pontos importantes na competição, sendo responsável direto pelos mais recentes malogros do Flu.

Não adianta o treinador justificar as derrotas alegando simploriamente que o time jogou mal. É claro que jogou mal, mas jogou mal por quê? Uma equipe escalada para defender, pelas características de seus jogadores, jamais será capaz de ser ofensiva. É instintivo. Escalar um Pierre – apesar da eficiência nas suas funções – é dizer aos demais jogadores e a todos nós que o intuito da equipe é jogar retrancada.

E quem joga apenas por empate, invariavelmente perde.

Se ainda não reparou, tricolor, aproveite as próximas partidas e compare. O Flu do Maracanã com o Flu que joga longe de casa. Basta observar o posicionamento no momento da marcação, os avanços ou não dos laterais, o comedimento ou a ousadia. Ficará claro para você que talvez ainda não tenha percebido isso, que o Flu é um time bipolar, tão bipolar quanto seu treinador.

É claro que desfalques como o de Vinícius e Giovanni – jogador que atuava com correção, dentro de suas limitações – fazem falta. Mas não é por suas ausências que o Flu caiu de rendimento, nem perdeu seus últimos jogos por culpa exclusiva da arbitragem. A questão é crônica e é de comando. Com o elenco que tem – que não deve nada a nenhum outro do futebol nacional – não se justificam dois pesos e duas medidas na forma de atuar da equipe.

A covardia do senhor Enderson nos custou pontos importantíssimos e não sei mais quantos custará. Sem exageros, o Fluminense deveria estar lutando pela liderança do campeonato, mas não consegue se firmar entre os quatro primeiros. Alguém poderia dizer que, diante do quadro inicial da temporada, brigar pelo G4 já seria um grande prêmio. Sim, é. Lutar por uma vaga na Libertadores e, se possível, conquistá-la, será um grande galardão, mas se temos a chance de buscar o quinto título nacional, por que não fazê-lo?

O Fluminense disputa competições para vencer. Outras situações que decorram das circunstâncias do campeonato poderão ser interessantes, mas o que se deve perseguir é e sempre será a primeira colocação.

E o que falta para isso? Falta o nosso treinador deixar a covardia de lado, o receio de perder o emprego e fazer o Fluminense jogar como devem jogar os grandes clubes. Apequená-lo diante de adversários combalidos por crises e outros inferiores tecnicamente é reconhecer publicamente a sua incompetência.

Ao senhor Enderson falta ousar mais. Afinal, como já se disse, “ousar lutar, ousar vencer”. E para o Fluminense o que realmente importa é o “vencer ou vencer”. Sempre.

Panorama Tricolor

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Imagem: google