FLUMINENSE CAMPEÃO DA AMÉRICA (por Jocemar Barros)

Quatro de novembro de dois mil e vinte e três. Um dia que entrou pra história e vai ficar gravado na memória de todo torcedor do Fluminense como o dia em que chegamos ao mais alto degrau do futebol sul-americano. A conquista da glória eterna. Um sonho antigo e perseguido desde a primeira participação em 1971, após a conquista do primeiro Brasileiro em 1970.

O clube tantas vezes campeão, como canta o Hino, de mais de 120 anos de existência, dono do estádio onde a Seleção Brasileira venceu o seu primeiro Sul-americano e que inspirou o mestre Pixinguinha a compor seu belo e famoso Choro “Um a zero”, ainda tinha vago esse espaço pra guardar a Taça Libertadores da América em sua vasta galeria de troféus, gloriosamente conquistados, como a Taça Olímpica de 1949 e a Copa Rio de 1952 – o Mundial de então – e tantos outros.

Batemos na trave em 2008, perdendo o título na disputa de pênaltis, dentro do próprio Maracanã. Uma noite de grande sofrimento pra Nação Tricolor. No entanto, os deuses do futebol estavam atentos e quinze anos depois, no mesmo palco, o Maracanã, templo sagrado do futebol mundial, nos devolveu a alegria roubada naquela noite fatídica.

Eu, assim como tantos outros tricolores espalhados pelo Rio, Brasil e pelos quatro cantos do Mundo, sofremos dias de grande ansiedade na espera pela tão aguardada final.
Venceríamos desta vez? O pesadelo de 2008 teria fim?

Enfim, vencemos. A América agora é nossa!

Assisti à partida na casa de meus pais, onde essa paixão arrebatadora começou. Lá estavam tricolores de gerações diferentes, a começar por meu velho pai, hoje com 88 anos de idade. Irmãos, filho, sobrinho, também apaixonados como eu, e não menos ansiosos, sofreram, choraram, gritaram, cantaram e se emocionaram com o resultado final.

Meu pai chorou ao final do jogo e disse aos prantos que já poderia partir em paz. A ele devo essa paixão pelo Flu e pelo futebol. Aos oito anos de idade, 1968, eu ainda não sabia nada de futebol e meu pai me levou ao Maracanã pra ver meu primeiro jogo – vitória de 3 a 2 sobre o Vasco, com três gols do saudoso ponta esquerda Lula. Em 1970, meu primeiro título no estádio – o Brasileiro da época, a Taça de Prata. Eu nunca esqueci da imagem do gramado se abrindo aos meus olhos de menino, depois da passagem pelo corredor estreito que levava à arquibancada, da subida da rampa de acesso, do mar de bandeiras com as cores do tricolor, do pó de arroz quando o time entrava em campo. Lembro da alegria de abraçar meu pai nos gols do Flu.

Na final do Carioca de 1969, eu já era completamente apaixonado pelo Tricolor das Laranjeiras e custei a perdoar meu pai por não ter me levado ao jogo. Ele temeu por minha segurança num jogo de público muito numeroso. Chorei e escutei em casa pelo rádio.

Papai comprava o jornal de segunda-feira após as vitórias do Flu. Comprava os posters dos times campeões, revistas e tudo mais.

Meu sobrinho reuniu alguns objetos, como bandeirinhas, copos, santos e um porta retrato com a foto dele ao lado de minha saudosa e querida mãe, que também era tricolor de coração. Assisti à prorrogação de ontem agarrado ao porta retrato.

Sobre mamãe, lembro de sua dedicação correndo com o almoço nos domingos em que íamos aos jogos. Gostávamos de chegar cedo pra assistir às preliminares, onde normalmente jogavam os juvenis dos times que fariam o jogo principal – os futuros craques. Quando voltávamos, lá estava ela pra comemorar as vitórias ou nos acalentar nas derrotas. Já idosa, se preparava pra assistir aos jogos conosco pela TV.

A verdade é que “não é só futebol”, como se diz hoje em dia. É muito mais, é paixão, é amor, é família, saudade, histórias de vida, lembranças de momentos de alegria e tristeza, abraços e papos com os grandes amigos de vida.

O Fluminense é isso tudo pra mim. Emoção, orgulho, paixão, amor…

Obrigado por existir em minha vida, meu Tricolor querido!

Agora a América é nossa. Chegamos lá!

“Grandes são os outros, o Fluminense é enorme!” – já dizia Nelson Rodrigues.

Dedico esse título fantástico à minha querida e saudosa mãe. Ela está feliz lá no céu.