FLUMINENSE CAMPEÃO DA AMÉRICA (por Didu Nogueira)

A minha intuição funcionou de novo. Em 2008, criei um hábito em todos os jogos. Não por superstição, mas por puro prazer. Eu chegava no churrasquinho naquela rua em frente ao antigo Portão 18 e comia a melhor cafta do mundo. O cara tinha um tapeware daqueles enormes onde caberiam talvez 200, 300 caftas que acabavam em duas horas no máximo.

Como disse, em nenhum dos jogos eliminatórios e mesmo nas quartas contra o São Paulo, quando só marcamos no finalzinho com Washington, eu deixei de ter a certeza da classificação.

Já na final, e isso guardei por esses longos 15 anos, assim que cheguei no Rei da Cafta tive a péssima sensação de que não seríamos campeões, o que infelizmente acabou acontecendo.

Dessa vez, embora meio ressabiado, tinha a certeza da vitória.

Tudo começou na sexta-feira, quando recebi do meu querido Dalmo Castello a camisa em homenagem ao Cartola, parceiro dele, e em seguida fomos prum churrasco na casa do maestro do nosso time dos anos 1980, meu querido Deley.

Como resolvi dormir na zona sul por conta do fechamento no entorno do Maraca, peguei um Uber aqui no Méier pra cumprir minha agenda, que ainda teve uma reunião com o poeta e compositor Paulo Cesar Feital para alinhavarmos o roteiro do show “Poesia, Violão e Vozes”, que faremos com Jorge Simas dia 21 de dezembro no Teatro Brigitte Blair, em Copacabana.

O Uberman era um cara que me pareceu não ter nem 30. Falante na medida, o futebol é sempre a pauta e foi aí que se sucedeu uma avalanche de recalques e, não tivesse meus 61 bem vividos e tendo visto futebol de verdade, tudo o que disse seria até capaz de abalar minha convicção no título. Perguntou pelo meu time e no que respondi, disse ele:

– O senhor vai me desculpar, mas independente de torcer pro clube de remo, juro por tudo o quanto é mais sagrado que sonhei essa noite que o resultado seria de 1 a 1 e vocês perderiam nos pênaltis. Não lembro se me disse que tinha tricolores na família, mas pelo jeito de falar, acho que os eliminaria um a um como nós a todos os adversários na fase de mata mata.

Não satisfeito em detratar Felipe Melo e Marcelo pela idade, além de alguns outros por supostas deficiências técnicas, o desinfeliz jurou que é da mesma comunidade do John Kennedy em Santa Teresa, que o menino continua morando lá depois de comprar uma casa maneira, mas que desce de moto armado zoando na favela nos dias de folga.

Sigo pra encontrar o Dalmo, pegar a camisa e partimos juntos pro Deley, não sem antes de encontrarmos aqueles que só vi no campo do Chico, e quem viu em campo atesta sem pestanejar que eram dois craques: os queridos Afonsinho e Nei Conceição.

Tomamos quase todas, fui pra minha irmã – a quem tinha pedido pra fazer um caldo pra segurar a rebordosa, apesar do churrasco pilotado pelo Karrá estar da melhor qualidade, mas como não tenho modos pra beber, prefiro não acordar nas ressacas industriais pelas quais sou acometido.

E parto para a Arena Gloriosa dos queridaços Henrique e Bethania, onde já se apresentavam Cesinha e Mari e para bela surpresa Luiz Castro, um torcedor do América Mineiro, e Cris Vignolli, tricoloríssima e já num estado TPJ de fazer inveja ao Nandão. E foram chegando Bigu, Paradinha, Mario Presidente, Welington e Helena, Lidinha, Madeira, Afonso Nunes e sua Alice, mais uma ruma que lotou as dependências da Gloriosa a ponto de serem colocadas mesas extras no lado externo das dependências.

Juro que não sei hoje em dia qual seria o cantor que arrancaria gritos histéricos como foram os dados a Sidney Magal, Roberto Carlos e Fábio Jr. em priscas eras por exemplo. O que mais me impressiona são algumas meninas berrando na cobrança de um lateral no meio do campo no início do jogo, o que infelizmente não as leva à rouquidão, mesmo que parcial, durante o match, para nos deixar melhor concentrados.

Com um time em que todos sem exceção jogaram bem, com domínio de quase ou 80% do jogo, seria um outro Maracanazzo se perdêssemos. Não, não dava. Eu só fiquei definitivamente tenso nos últimos cinco minutos do tempo normal, pois além do cansaço o Boca ficou pressionando nas bolas altas e aí, mais um baile de nossa defesa. Ainda teve aquele chute de fora da área que acho que o Fábio não pegaria.

Prorrogação e aí me lembrei do querido amigo e ex-capitão do Vasco, Alcir Portella, de quando a gente no Maraca assistindo ao clássico e eles empataram, ele disse:

– Agora começa do zero.

Bom, quem sou eu pra discutir com quem teve uma carreira de quase 30 anos? E foi isso que me deu ainda mais a certeza de que o título seria nosso. Não, não vou falar sobre o jogo e nem sobre o insuportável do Cano, das assistências do Keno, do André, do Felipe Melo – que entra em campo numa concentração absurda -, da falta de sorte do Guga, do gol perdido pelo Diogo Barbosa e nem do moleque que, caso se confirme a história do uberista recalcado, pego carona na moto dele e inda dou uns tecos pro alto pra comemorar esse campeonato que, na verdade só comecei a digerir na manhã de domingo.

Queria agradecer a todos que acompanham essas mal traçadas linhas antes e depois dos jogos da Liberta, e avisar que com muito medo e orgulho elas virarão um livro que o Paulo Andel, do Panorama Tricolor, me convidou a fazer.

Mas antes, por favor, quem tiver nos seus e mails as crônicas de 2008, me mandem pois não as tenho mais.

Beijos a todos e ano que vem tem mais.