Fluminense 5 x 0 Horizonte (por Walace Cestari)

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O mar estava revolto, repleto de tormentas e o horizonte era uma linha imaginária insuperável. Estávamos à beira do naufrágio, apregoavam as vozes mais pessimistas. Eis então que nos surge um Cristóvão que, tal qual Colombo, descobre uma nova terra de riquezas, mas sem o financiamento das joias de Castela. A grama do Maracanã de ontem transformou-se em calmaria para uma navegação tranquila rumo à classificação.

Em que pese o fraquíssimo time do Horizonte – que nos bateu com méritos em seus domínios – não ser dos adversários que permitam um apuro maior de análise. Mas era apenas a estreia, apesar de repleta de pressões e desconfianças por conta dos acontecimentos das semanas anteriores.

A equipe cearense veio para armar uma retranca no Rio de Janeiro e fazer valer a vantagem conquistada no jogo anterior. Não deu tempo. O Flu mostrou uma vontade que parecia perdida no passado e dominou a partida desde seu apito inicial. Não tardou e Conca marcou o primeiro. E no primeiro tempo vieram ainda o segundo e o terceiro. O resultado aí já era o que menos importava.

O time parecia ter sofrido uma verdadeira revolução, mas daquelas básicas: em lugar de uma organização de ataque “indígena”, o Tricolor apresentava-se como uma verdadeira equipe de futebol, taticamente bem posicionada e com total domínio das ações da partida. Um time jogando coletivamente e com objetivos bem definidos.

Os jogadores eram os mesmos, mas suas atuações não. O Flu atacava pelas laterais e a liberdade do esquema fez renascer Carlinhos: veloz e insinuante fez sua melhor apresentação no ano. E mesmo Bruno, tão criticado, fez boa partida, ainda que lhe falte mais precisão nos cruzamentos. O meio campo trocava passes rápidos, muitas vezes de primeira, envolvendo a marcação, convidando a uma participação mais ativa dos volantes. Jean e Diguinho cobriram bem as laterais e se apresentaram como opção na armação por todo o jogo.

Com toques rápidos, Conca se destaca. O pensamento ágil e a habilidade incomparável do argentino encontrava deslocamento dos companheiros e tabelas fáceis para a criação das jogadas de ataque. E como imaginei que chegaria esse dia: Wagner fez uma apresentação digna do futebol que lhe credenciou a contratação. Apresentou-se incansável, ajudando a marcação, ditando o ritmo das jogadas, participando ativamente dos passes e ainda foi premiado com um golaço no segundo tempo.

Com pouco tempo, Cristóvão parece ter mostrado ao time a importância de ficar com a bola, fazê-la girar de uma ponta a outra, dos deslocamentos e da tranquilidade ao criar as jogadas. O afobamento, o excesso de chuveirinho na área e os chutões travestidos de lançamento cessaram. Ontem, tivemos uma equipe cerebral.

De negativo, vale ressaltar que a zaga tentou entregar suas paçocas tradicionais e só não conseguiu transformar o jogo em um drama porque Cavalieri fez duas boas defesas e a trave nos salvou em outra ocasião. Mas, seria injusto dizer que houve pressão do Horizonte ou que eles fizeram por onde balançar nossas redes. Elivélton, por exemplo, foi expulso em uma pixotada dispensável. Pelo menos é garoto e ainda tem o que aprender. O fato é que precisamos de reforços para a zaga, onde só posicionamento e tática não resolverá nossos problemas.

Fred fez gol. Além disso, um bom cabeceio perigoso rente à trave. E foi só isso. Não jogou bem, ficando preso à marcação e não apresentando grande mobilidade. Sobis voltou bem à titularidade, marcou gol e mostrou a disposição sobrecomum de sempre (ah, paradoxos futebolísticos!). Walter entrou, deu bons passes, mas não apareceu de maneira decisiva. Registre-se que teve pouco tempo em campo, num momento em que o Flu já administrava o resultado.

O jogo em si foi de tranquilidade celestial. Início arrebatador, com marcação sobre pressão e gol nos primeiros quinze minutos. Depois, o árbitro contribuiu expulsando de maneira exagerada pelo segundo amarelo um jogador do Horizonte ainda no primeiro tempo. Sem ter tido tempo para pensar como reorganizar-se em campo, levou em sequência o segundo e o terceiro. No segundo tempo, com dez em campo, tratou de torcer para o tempo passar e, ainda assim, levou o quarto e quinto gols. Conseguiu alguns contra-ataques e boas finalizações em vacilos de nossa zaga, nada mais.

Como São Cristóvão protege os motoristas, esperemos que o milagre do nosso beato seja o de direcionar a equipe não só às vitórias mas às boas apresentações como a de ontem. Posse de bola, movimentação, troca de passes e velocidade são qualidades possíveis de serem extraídas de um elenco que já estava se acostumando às críticas. Contudo, nunca é demais lembrar que o horizonte por que passamos não era habitado por monstros e perigos tenebrosos. Estejamos preparados para as tempestades que virão.

Panorama Tricolor

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