Fluminense 2 x 2 Coritiba (por Walace Cestari)

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Paulo, tricolor religioso, estava preso no escritório até mais tarde naquela quinta-feira. O chefe havia lhe cobrado um relatório que parecia não ter fim. Mas era jogo do Flu… o drama desenrolava-se diante do monitor. O relógio era-lhe implacável. Não chegaria a tempo.

No Maracanã, alheio aos problemas de Paulo, o árbitro apitou o início do confronto. Não foram necessários mais de cinco minutos para perceber que o Coxa viera ao Rio buscar um pontinho qualquer. Do outro lado, um Flu ligado, em blitz, pressionando em busca do primeiro gol. O gol que veio não valeu e o que era pressão virou domínio. Jogando no campo do adversário, o Flu mandava no jogo, mas errava muitos passes, insistindo nas jogadas aéreas. Nas arquibancadas, um canto uníssono em apoio. Vamos, vamos, tricolor.

À medida que passava o tempo, o jogo esfriava. Com menos calor, menor a pressão. O Coritiba, então, passou a jogar e a explorar nossas conhecidas falhas defensivas e fez o perigo rondar nos domínios de Cavalieri. De repente, o escritório de Paulo armara-se feito cenário em pleno meio campo. Burocrático, o Fluminense nada produzia a não ser a irritação de uma torcida que já se mostrava impaciente.

Paulo não chegava. Nem o futebol do Flu. E, entre os apóstolos em campo, Lucas era o maior candidato à crucificação. Entre falhas e bocejos, cedeu o escanteio que, diante de mais uma falha coletiva da zaga, originou um merecido castigo. Nossa Senhora, o diabo existe: 1 x 0. Quem viera para empatar tinha três pontos diante de milhares de joões, josés e Marias. 45 minutos, Paulo subia a rampa do Gigante. Fim do primeiro tempo e Paulo não perdeu nada.

Buscando uma boa nova, Wendel vira novidade no segundo tempo tricolor, sacando Mateus, o Norton, apóstolo em quem Tomé não cria, pois não o viu em campo na primeira etapa. Recomeça o jogo e o Flu tem a afobação como companheira.

Abel carrega a difícil missão de transformar água em vinho com um limitado elenco. Na arquibancada, milhares de Cains exigem-lhe a cabeça.

Com as bênçãos de João de Deus, Henrique, sem menção em textos sacros, traz a chama de volta e empata a partida. O Flu peca, mas pecar nem sempre é pecado: volúpia e desejo: fogo no jogo. É hora de, das trevas, surgir outro Henrique, dourado dos reis, foice nas mãos para ceifar todo o desamor. Do céu ao inferno, do inferno ao céu em dois minutos, em dois gols. 2 x 1. Êxtase. Paulo nem entendia as vaias, só vivera a glória.

Como toda via do Fluminense é crucis, não demora muito e o Coritiba obriga Cavalieri a milagres, mas que não são suficientes para evitar o empate. 25 minutos e cada lado tem dois. O Flu tem um dois a menos, com a troca de evangelistas: sai Lucas, entra Mateus, o Alessandro. Porém, é a tensão que volta a reinar nas arquibancadas.

O fim está próximo! Gritavam os profetas do apocalipse. E, assim, mais um evangelista deixava o campo: Marco, o Júnior, dava lugar à esperança endiabrada Wellington Silva. Paulo, enfim, entendeu o carma da partida.

Já não havia mais regras naquela batalha do bem contra o mal. Eram onze em campo guerreando sem general, sem tática… movidos tão somente pelo coração. E, da mesma forma, sofriam os infortúnios dos contragolpes. Era o purgatório dos quarenta minutos e João de Deus ecoa pelo estádio.

Sete trombetas, sete selos, o fogo corta o céu, anuncia-se o apocalipse. Os homens correm, os guerreiros cansam. Paulo, cabisbaixo, vai embora pensando no relatório do dia seguinte. Já não há nada a se fazer. O gosto da derrota suplanta a verdade do empate. Só um ponto. Diante de nós, adversários dificílimos. Dá para sentir o cheiro do enxofre. Na tabela, o inferno é logo ali.

Panorama Tricolor

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