Flu x Bota: uma tarde só de pênaltis (da Redação)

Em 05 de outubro de 1988, o Brasil inteiro estava atento na promulgação da nova Constituição Federal. Mas o futebol não parava: em pleno Maracanã acontecia uma inesperada… disputa de pênaltis com portões abertos entre Fluminense e Botafogo, depois de uma partida que havia acontecido um mês antes.

O restante dessa incrível história de 27 anos atrás você confere abaixo, em reproduções do Globoesporte e da revista Placar

“Era para ser emocionante, mas acabou irritando os competidores. Em 1988, a CBF decidiu inovar no regulamento do Campeonato Brasileiro. O problema é que as mudanças aconteceram no decorrer da competição. A entidade criou a Lei dos Pênaltis: todo jogo que terminasse empatado teria de ir para as penalidades máximas.

Além disso, a vitória passou a valer três pontos. Triunfo vencido nos pênaltis, dois, e derrota nas bolas paradas, um ponto. O historiador e jornalista Roberto Assaf lembra a falta de organização que imperava no futebol nacional.

– O curioso disso não é nem o fato de ele ter tido esse regulamento em si da disputa de pênalti, mas o fato desse regulamento ter sido aprovado quando o campeonato já tinha começado. Um representante da CBF viajou a Salvador, às pressas, para comunicar oficialmente o árbitro da partida entre Vitória e América, na Fonte Nova, quando ele ia iniciar o segundo tempo – afirmou o jornalista e historiador.

José Araújo de Oliveira Filho era o árbitro dessa partida. Na ocasião, ele declarou o seguinte:

– Ele (o representante da CBF) me comunicou em pleno estádio, depois de eu ter adentrado o gramado, que houve uma determinação da CBF – disse.

Hugo, do América, também foi pego de surpresa no intervalo da partida.

– Estou sabendo agora (no aquecimento) que, se empatar, vai ter disputa de pênalti. Mas tudo bem. Vamos vencer se a gente ganha nesses últimos 45 minutos – declarou o jogador, antes de o duelo acabar empatado por 0 a 0 e ir para as penalidades máximas.

No dia seguinte, Botafogo e Fluminense se enfrentaram no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro. Eles empataram por 1 a 1 e não aceitaram ir para a disputa de pênaltis. Foi o que contou o árbitro José de Assis Aragão.

– Terminou a partida empatada, eu chamei ambos os capitães e eles disseram que não iam cobrar as penalidades.

Um mês depois, no dia 05 de outubro, dia da promulgação da Constituição de 1988, Botafogo e Fluminense foram obrigados pela CBF a voltar ao Maracanã apenas para cobrar os pênaltis. A entrada foi franca.

– Provavelmente, não deve ter acontecido isso em lugar nenhum do mundo. Você entrar no estádio, se preparar, aquecer e o público ir ao jogo só para ver as cobranças de pênalti. É um fato inédito – disse o ex-zagueiro Mauro Galvão, então zagueiro do Botafogo, ao se lembrar do público de pouco mais de 5 mil pessoas, com esmagadora maioria alvinegra.

O ex-jogador Ademir Menezes criticou a decisão da CBF:

– Isso é ridículo. E quem marca isso nunca jogou futebol – desabafou à época o craque p.

Em doze minutos de disputa de pênaltis, o Tricolor bateu o Glorioso e levou dois pontos. Um campeonato que começou com polêmica em Salvador e terminou com o título do Bahia.”

Uma das testemunhas presentes foi nosso cronista Paulo-Roberto Andel, à época um jovem estudante universitário com vinte anos de idade. Paulo conta:

“Saí da aula perto de meio dia, fiz um lanche e me preparei para ir ao Maracanã. Eu estudava na UERJ. Claro, tudo naquele dia foi estranho e inusitado, mas divertido também. Os botafoguenses ficaram loucos! Eles eram 80% do público, botaram faixas e o diabo a quatro, secando até o coitado do Cláudio Adão, o maior 9 que vi jogar no Flu, então jogador alvinegro. Lembrando que naquele tempo havia uma pressão imensa no Botafogo pelos 20 anos sem títulos. Ainda teve um fato estranhíssimo, que foi ver Deley, eterno craque do Flu, marcando um gol de pênalti contra nós. Ah, e no fim, é claro que teve porrada entre as torcidas, apesar do público reduzidíssimo (risos).”

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