Flamenguesa, dez anos depois (da Redação)

Oito de dezembro de 2013.

O Brasil acordava para acompanhar a última rodada do campeonato brasileiro de futebol.

Fluminense e Vasco, com grave risco de rebaixamento, protagonizaram todas as manchetes esportivas.

Contudo, havia algo errado.

Na véspera, sábado, o Flamengo jogou com o Cruzeiro, escalou irregularmente o lateral esquerdo André Santos e, pelo regulamento da competição, não apenas seria punido mas tinha sério risco de rebaixamento no domingo.

Flamengo e Cruzeiro jogaram para uns 200 jornalistas esportivos, talvez um pouco mais.

No maior ataque de amnésia da imprensa esportiva do Brasil, ninguém se lembrou do fato na hora de escrever as manchetes. Foi a maior omissão de informação grave já praticada pelo jornalismo esportivo no país.

Informação que mudaria todo o cenário daquele dia, se divulgada fosse.

Dado o cenário de horror para o time da Gávea, somente um golpe de muita sorte poderia garantir o Rubro-Negro na série A, caso o assunto viesse à tona: a perda idêntica de pontos de algum time à sua frente.

E não é que aconteceu?

E não é que o raio caiu duas vezes no mesmo lugar?

A pobre Portuguesa de Desportos também escalou um jogador irregular, Heverton.

Mesmo tendo vencido o Bahia, o Fluminense foi rebaixado porque simplesmente não se sabia do ocorrido desde a véspera.

Agora, o plano perfeito era o Vasco perder para o Athletico em Joinville. Assim, os dois cairiam e tudo ficaria por isso mesmo.

Numa partida sem policiamento, uma pancadaria sem precedentes aconteceu e o lógico teria sido o adiamento do jogo. Mas não aconteceu, por incrível que pareça. E se alguém fura o silêncio da imprensa e, no dia seguinte escreve “Vasco tenta se salvar e pode rebaixar Flamengo, que perderá pontos por irregularidades”? Fizeram o jogo assim mesmo… O Vasco foi goleado.

Na terça feira, 10 de dezembro, começaram a lembrar do ocorrido no sábado. Imediatamente, o Fluminense passou a ser apedrejado por todo o Estado Maior da imprensa esportiva do país, com direito a cenas de verdadeiros urros coléricos, caso de Mauro Cezar Pereira. Juca Kfouri, Antero Greco, Renato Maurício Prado e grande elenco formaram uma espécie de frente pelo ódio ao Fluminense, que teria dado uma virada de mesa, mesmo sabendo que quem se salvou com a perda de pontos da Portuguesa foi o Flamengo. Algo como “eu sei que é verde, mas pra mim está azul”. Enquanto isso, tricolores chegaram a ser agredidos na rua por haters contaminados com o discurso sujo de estúdios e redações.

O tempo passou, o Fluminense foi inocentado, a Portuguesa e o Flamengo foram punidos com a perda de pontos, o assunto foi abafado das manchetes e os culpados jamais foram punidos. A Lusa caiu numa decadência sem precedentes políticos e esportivos, do qual nunca mais se recuperou.

Andre Santos nunca falou claramente a respeito do tema que protagonizou, nem Heverton – que logo encerrou a carreira.

O tresloucado procurador de justiça Roberto Senise aos poucos desapareceu, foi citado em um caso de corrupção e morreu há alguns anos.

A imprensa esportiva jamais explicou o que provocou o apagão da informação daquele sábado, 07 de dezembro. Nunca tocou no assunto. E poucos abordaram o tema.

Ninguém pediu desculpas pelos crimes cometidos contra o Fluminense.

Dez anos depois, tudo ficou como uma grande coincidência.

Carl Jung riria disso.