Flamengo 1 x 0 Fluminense (por Edgard FC)

Embora sejamos adestrados a dizer que domingo é o primeiro dia da semana, a verdade é que ele encerra, fecha, dinamita, para o bem ou para o mal, por vezes bem e mal, na mesma medida e mesma proporção e intensidade.

Mas esta última semana que passou foi péssima mesmo, não tinha como encerrar com um biscoitinho de alegria, tanto pior com a notícia da partida de Preta Gil, filha do mestre Gilberto Gil, tricolor de primeira hora a quem a cultura nacional deve tanto, à ele e à família aquele abraço.

Semana intensa com a sabida, porém relutante despedida de nosso craque maior dos últimos anos: Jhon Adolfo Arias Andrade da pequena Quibdó, capital do departamento de Chocó, banhada pelo Rio Atrato, pouco mais de cento e trinta mil habitantes, de onde é comum jogadores de futebol e miss surgirem para o mundo.

E a perda dele se deu de modo lúgubre, esdrúxulo, com ímpetos de nos apunhalar o esôfago, pois a negociação que o pôs a correr do clube foi feita por quem tem muita prática em deixar ao clube um preço módico, quase simbólico, nos deixando perplexos, pois faz de propósito.

No sábado, que deveria ser de aleluia, o senhor Mário Henrique Bittencourt, para distrair a massa de tricolores que ainda não entendeu o modelo de jogo que guia os esquemas, elucidados com inúmeras estatísticas, sempre de forma trágica, fez aparição pública ao lado do nosso ícone Jhon Arias, a quem o Fluminense jamais esquecerá.

No monólogo ególatra, mais manjado que jogador em vestiário pelo mesmo mais a turma do Rayban, o pontífice tricolor danou a falar sobre o quão humano e preocupado com os interesses alheios o é, fazendo corar o mais miliciano decano do Rio de Janeiro, dos controladores de gatonet, passando pelos criadores de suínos e subtratores de automóveis de carga, ele é imbatível, cutucava, um cidadão na sede de Laranjeiras, devidamente manjado e delatado pelo prosélito regente e tangente gestor.

Sua pantomima foi tão risível quanto os balanços que sua horda de gentios publica, sempre na rabeira do prazo devido, todos os anos, como peça de ficção capaz de assustar Spielberg, Asimov, Ganymedes e tanta gente que ganha a vida fazendo da ilusão sua lição.

O fogoso mandatário conseguiu mais uma vez, a gente ficou a falar mais de sua evolução na auto-entrevista do que das ações nefastas que vilipendiam o erário tricolor; a saber a pior quanta: até então ninguém consegue precisar por qual quantia o Wolverhampton da Inglaterra pagou de fiança para que Arias se junte ao André Trindade em suas fileiras, para lutar pela sobrevivência na Premier League, campeonato Anglo-britânico de Football Association.

Um jornalista com boa credibilidade na Grande Ilha do Norte cravou que a resma para a transferência do meia-atacante foi de quinze milhões de libras. Já o disse-me-disse da imprensa canarinho, fala de valores, como se a matemática não pudesse ser mensurada pela ciência exata, tratada quase como filosofia experimental, tamanha a descrença com os dossiês.

Uns falam em dezessete milhões de euros, outros chegaram a deslizar e ventilar dezesseis milhões de dólares, todos para cercarem o valor aproximado do que cravou John Percy do Telegraph, mas sempre deixando uns milhões de reais fora da métrica, quando observamos a conversão monetária, valores esses que podem ficar em algum limbo por aí. Vai saber.

Da outra derrota em casa para um Cruzeiro varonil, houve ao fim da partida, um evento canônico: em voz fúnebre, parte importante da torcida entoou aquele monolito insólito concerto em coro grego: ‘ei, Mário, vai’ para algum lugar entre Aracaju, Botucatu ou Cachoeiras de Macacu, lugares ótimos para relaxar e gozar a alegria de ser quem é.

Na dilatada coletiva dada no sábado, o fã incondicional de Fábio Egypto e que flerta em semântica com Dom Eurico Miranda, entregou que o episódio melódico o tirou da tranquilidade togada que gosta de posar ter, chegou a ameaçar pessoas de dentro do clube que possam se manifestar contra seus súbitos contra a instituição, se utilizando de câmeras do clube a fim de fiscalizar quem usa rede social de forma que não seja apenas para curtis amenidades e futilidades cotidianas.

Toda essa contenda acabou por buscar abafar o enxofre que exala desde a sauna até o sótão, onde encontram-se engalfinhados, móveis, troféus, documentos importantes, derivando e decompondo no tempo, sem contar os betumes acumulados no passeio público da sede social, culminando com as arquibancadas do lendário Estádio das Laranjeiras que estão em sopé de miséria, sendo sustentados pelas histórias e memórias de tanta gente que partiu, em rabos de foguete.

No Maracanã tem Fla-Flu, e diria uma canção de boi maranhense: ‘a galera vai vibrar’, mas a tricolor há tanto sabotada e humilhada, quase sentiu vergonha em comparecer no outrora ‘maior do mundo’, pois são tantas coisas acumuladas, que não cabem no poema, no dilema, na prosa nem no verso.

O escrete comandado pelo comandante que diz ter comando, Renato Portaluppi, enviou seus comandados com três zagueiros, dentre eles o capitão Thiago Silva, três volantes, dentre os quais salvamos um e no comando de ataque, dois atacantes que somados não chegam a 1/3. Nas alas, dois rapazes que poderiam figurar em escalações de equipes que lutam para não cair e ainda assim, seria temerário.

No banco, Jota Ká que retornou de sua missão no México, além das ausências de Ganso e Cano, que tiveram há pouco seus contratos esticados até o final do ano de dois mil e vinte e seis. Pê Agá não goza da confiança do treinador, mas Germán sim, tanto que fora titular absoluto e inquestionável na campanha da Copa do Mundo e até o último desafio, mas agora por decisão técnica, foi banido da relação.

A armada de Bittencourt e Portaluppi se arrastou em campo com a mesma vontade que um funcionário de banco, privado ou público, tem para atender e prestar melhores informações a quem precisa, era tanto medo de perder ou tomar gol, que o sono se abateu até nos jogadores em campo.

Porém, o adversário também não parecia muito interessado na partida, errava tudo que fingia tentar, fazendo da partida uma ocasião mais chata que comédia da madrugada na tevê aberta, que somente a insônia dá conta de aturar.

Mas como castigo pouco é bobagem, no apagar das luzes (que não andam muito acesas), ele mesmo, Pedro desviou para as redes, aquele que Mário transou assim que assumiu o clube para fazer um bate-volta na Itália para então cair nos braços da torcida rival, tendo sua negociação matéria confusa até hoje.

Foi um doloroso e triste fim de uma semana macambúzia, tal qual um drama, o Drama de Angélica, que Alvarenga e Ranchinho tão bem nos brindou com sua prosa perfeita de viola e perspicácia.

De bom, bom mesmo, foi a ida ao Musical Elza, que contra em canções e breves falas a trajetória e vida da diva Elza Soares, uma das maiores vozes e ícones da história do Brasil, ou seria do Planeta Fome? Como foi sua erudita e impactante resposta dada a Ary Barroso, quando este lhe entrucara: ‘de que planeta você veio?’.

Só sei que, de mazela em mazela, de dor em dor, vamos nos arrastando nessa vida severina, dia e noite, madrugada e aurora, sempre na esperança de que dias melhores virão.

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FLAMENGO 1 x 0 FLUMINENSE
Campeonato Brasileiro – 15ª Rodada
Maracanã – Rio de Janeiro/RJ

Domingo, 20/07/2025 – 19:30h (Brasília)
Renda: R$ 4.386.336,50
Público: 58.416 pessoas presentes

Arbitragem: Raphael Claus (SP), Danilo Ricardo Simon Manis (SP) e Evandro de Melo Lima (SP)

Cartões Amarelos: Léo Pereira 19’, Allan 29’, Pedro 86’ (FLAMENGO); Agustín Canobbio 34’ (FLUMINENSE)
Gols: Pedro 39’ (FLAMENGO)

FLAMENGO: 1-Agustín Rossi; 2-Guillermo Varela, 13-Danilo (17-Matías Viña 82’), 3-Léo Ortiz e 4-Léo Pereira; 21-Jorginho, 29-Allan (52-Evertton Araújo 82’), 7-Luiz Araújo, 11-Everton Cebolinha (20-Matheus Gonçalves 59’) e 10-Giorgian De Arrascaeta© (9-Pedro 73’); 64-Wallace Yan (23-Juninho Vieira 59’). Téc.: Filipe Luís. 4-2-3-1.

FLUMINENSE: 1-Fábio; 23-Guga, 4-Ignácio (7-Yeferson Soteldo 88’), 3-Thiago Silva©, 22-Juan Freytes e 6-Renê; 5-Facundo Bernal, 8-Martinelli (35-Hércules 64’) e 45-Lima (16-Nonato 77’); 17-Agustín Canobbio (90-Kevin Serna 64’) e 9-Everaldo (99-John Kennedy 77’). Téc.: Renato Portaluppi. 3-5-2.

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