Fla x Flu: grandeza e elasticidade (por Paulo-Roberto Andel)

O futebol é diferente de todos os outros esportes por algumas características próprias.

Primeiro, sua grandeza. Numa estrutura tão grande, é possível conseguir resultados e até títulos importantes sem deixar de carregar eventuais falhas, e o próprio Fluminense é assim.

A elasticidade do universo da bola ajuda a atenuar praticamente tudo de ruim quando a fase é boa ou pelo menos razoável, e aí está o nosso Tricolor que não nos deixa mentir, com escalações improvisadas, substituições extraterrestres e uma verdadeira toupeira no cargo de auxiliar técnico, sem contar a desastrada perda de vantagem nas semifinais do Carioca. Mas agora Inês é morta, aí estão dois Fla x Flus e o que nos cabe é seguir em frente.

Raras vezes o Fluminense teve um Flamengo tão azeitado pela frente como agora. Compactado, veloz nos contra ataques e com uma defesa titular invicta, o Rubro-negro joga por dois resultados equivalentes para chegar à final. É favorito e, por isso, pode até se preocupar porque num grande clássico o favoritismo muitas vezes joga contra.

O Fluminense é mais lento e demora para sair da defesa para o ataque. O foco tricolor deve ser nestas duas questões: ser mais rápido no geral. E uma terceira: inteligência. Salvo um desastre para uma das partes, o Fla x Flu não se decidirá hoje. Portanto, a administração do jogo de logo mais é importante, qualquer que seja o resultado deste primeiro confronto, desde que não seja um placar dilatado.

Os dois têm desfalques, hoje o Flamengo é mais time. Ok, só que precisa mostrar no campo. Na decisão do ano passado também era, tinha a vantagem de dois gols mas acabou atropelado por uma goleada histórica. E se o Fluminense parece inferior no conjunto, os valores individuais também podem decidir. Como motivador extra, os onze clássicos sem vitória do Flu desde a decisão do Carioca 2023. E o fato de já termos vencido o rival muitas vezes em situações desfavoráveis.

O pessoal chiou do horário, mas os embalos de sábado à noite no futebol carioca vêm de longe, desde os anos 1970. E se vale uma coincidência, em 1984 havíamos perdido para o Botafogo por 4 a 2, tal como agora, e precisávamos vencer o Urubu para chegar ao triangular final. Vencemos, chegamos e Assis espatifou Fillol. Flu bicampeão.

Ingressos praticamente esgotados para os tempos modernos, bares cheios e a sorte está lançada. É decisão. Podemos até não ser favoritos, mas nem por isso eles estão tranquilos. Nessa história, muita libra já pesou. Os velhos fantasmas tricolores, que vão de Barthô a Cano, passando por Assis, Ézio, Renato Gaúcho, Flávio Minuano…