É melhor evitar o Febeapá tricolor (por Paulo-Roberto Andel)

Continuamos felizes. A Libertadores trouxe a paz. Acabou a obsessão. Tudo muito bom.

Enquanto isso, o Flu se prepara para o Mundial de Clubes enquanto encerra sua participação no Brasileirão.

Ótimo! É um momento fascinante para se torcer pelo Flu. Imagine os garotos de treze anos vendo Arias, Cano e Marcelo. Arrancadas de Nino. Grandes defesas de Fábio. São cenas que ficarão para sempre.

Eis um ponto.

O problema está nas besteiradas da internet, com alguns de seus inusitados “influêncis” sentenciando aos quatro ventos que estamos vendo o maior Fluminense em 121 anos. Uma espécie de Febeapá tricolor.

Vale como galhofa, só não dá para levar a sério, ao menos para quem conhece a história tricolor. E quem não conhece fala bobagem.

Estamos vendo um grande Fluminense campeão, que conquistou um dos maiores títulos da história do clube neste 2023.

Qual o sentido dessa briga com os fatos? Querer pertencer ao que há de melhor de alguma forma? Reivindicar a propriedade da verdade?

Eu, que fui garoto campeão de 1980, me apaixonei por aquele timaço. Meus antecessores ficaram loucos pela Máquina. Os mais antigos, com Samarone, Manfrini e Lula. Os veteranos tiveram Telê, Didi, Waldo, Pinheiro. E muito antes disso, o tetracampeão de 1906-09 e o tricampeão de 1917-18-19 davam as cartas no pedaço.

É muita história para ser resumida em oito meses. Isso em nada desrespeita o grande campeão de 2023, mas ajuda a refletirmos.

Sobre Máquina Tricolor, já escrevi muitas vezes e espero fazer um livro se der tempo. É um time tão espetacular que continua discutido quase 50 anos depois. Em 1976 tivemos a maior média de público da nossa história. Félix, Assis, Silveira, Marco Antônio, Pintinho, Cléber, Zé Mário, Mário Sérgio, Zé Roberto, Cafuringa, Gil, Renato, Doval, Dirceu, Paulo Cezar Lima, Dirceu, Rivellino, Miguel, Carlos Alberto Torres, Edinho…

Quando a Máquina foi desfeita, ganhou a Taça Teresa Herrera. Tinha Wendell, Edinho, Marinho Chagas, Pintinho, Cléber, Rivellino, Doval e os veteranos Dirceu Lopes e César Maluco. Não deu certo em campo como se queria, mas era um timaço.

Não vou perder tempo com essas besteiras do tipo “a Máquina ganhou pouco”. Quem quiser ser ignorante, que seja.

Nos anos 1930, o Fluminense passou o trator. Depois de 12 anos sem títulos (mas vice campeão cinco vezes), o Flu foi o grande time brasileiro entre 1936 e 1941, deu substância para a Seleção Brasileira conquistar sua primeira grande colocação em Copas – terceiro lugar em 1938 -, e muito provavelmente seria a base do Brasil campeão mundial de 1942, não fosse a suspensão da Copa em função da Segunda Guerra. Feras como Batatais, Renganeschi, Brant, Russo, Romeu, Tim, Carreiro, Rodrigues. Campeão de 1936, 1937, 1938, 1940 e 1941.

Nem falei de 1980, nem do tricampeão dos anos 1980, nem do nosso resgate no começo dos anos 2000, nem do grande vice-campeão da Libertadores 2008. Não precisa.

Os atuais campeões merecem todo nosso respeito e consideração, festa e carinho. Seus antecessores, também.

Os mais jovens podem comemorar tudo. É legítimo. Só que o Fluminense não nasceu em 2019, ressalte-se.