Faltou falar de Leomir, um herói discreto (por Paulo-Roberto Andel)

No futebol as mudanças são permanentes, ainda mais na era moderna – hoje criam ídolos com dez partidas e craques com cinco. Já o pereba leva mais tempo para ser identificado, dependendo da força de seu empresário e da paixão do torcedor. Bom, deixa pra lá.

Abel foi embora e, como o tempo não para, tudo indica que treinou o Fluminense pela última vez. O apreço e a consideração vão ficar para sempre. É o segundo treinador que mais vezes dirigiu o Flu, conquistando três títulos cariocas e um brasileiro de lavada. Pouco importa que a última trajetória tenha sido a mais complicada, porque o saldo é absolutamente positivo.

O que faltou dizer mesmo foi de alguém que sempre esteve ao lado de Abel nessas trezentas e tantas vezes à beira do campo pelo Fluminense, mais tantas outras naqueles inesquecíveis anos 1980.

Leomir.

Sempre discreto e elegante, ele é uma figura de longa data marcada no Fluminense, não apenas pela longa parceria com Abel mas pela trajetória no clube como jogador. Fez 256 jogos pelo Flu, marcando 31 gols e com aproveitamento de 64%.

Leomir veio do Coritiba para o Fluminense, trocado pelo ponta-direita Lela. A transação acabou sendo excelente para ambos, que foram campeões brasileiros respectivamente em 1984 e 1985. Leomir foi titular absoluto do Flu desde sua chegada até a do implacável Romerito, quando virou uma espécie de décimo-segundo jogador, daqueles que entrava tantas vezes que ninguém o via como reserva. Ecos de um tempo onde jogadores como Vica, Renê e Paulinho tinham o mesmo status, o de titulares que começavam no banco.

Volante de origem, Leomir foi meia, ponta-direita, lateral direito e até zagueiro. Sempre jogou com eficiência e qualidade, além de ter sido ótimo cobrador de pênaltis. Foi um digno sucessor de outro grande nome tricolor que precisa ser valorizado: Rubens Galaxe. Pau para toda obra, jogador de grupo, de equipe. De todos os protagonistas do Fluminense daquele tempo, é o menos falado e, por isso mesmo, precisamos fazer isso.

A discrição dos campos foi para os treinos. Há muitos anos Leomir trabalha como auxiliar de Abel, como se fizesse cobertura no gramado aos avanços do eterno zagueirão.

Somadas suas passagens como jogador e auxiliar técnico, Leomir tem mais de 600 jogos, seis títulos cariocas, dois campeonatos brasileiros, a Copa Kirin, o Torneio de Paris e centenas de vitórias. Foi campeão contra todos os três grandes rivais do Fluminense no Rio. É um dos maiores vitoriosos da história do Fluminense, sem alardes, sem holofotes, sem likes e seguidores, mas com um cartel muito difícil de superar. É a única pessoa que fez a transição do grande Flu vitorioso nos anos 1980 para o também vitorioso no inesquecível período 2010-2012.

Precisamos falar de Leomir. Precisamos valorizá-lo. Ele tem centenas de vitórias do Fluminense nas veias.

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