Esparadrapo no Fla x Flu (por Mauro Jácome)

241 - 05042015 - Esparadrapo no Fla x Flu

Em semana de Fla x Flu, nada poderia ser maior que o clássico. Nem igual. No entanto, os últimos acontecimentos que envolvem a FERJ colocaram água no chope dos torcedores. Situações absurdas e aberrações político-jurídicas tomaram conta dos noticiários. Se por um lado, ofuscou o principal, o jogo-jogado, por outro, colocou à mostra para o Brasil e, também, para o mundo, a que ponto chegou o poder das Federações sobre o futebol estadual.

Tudo isso destaca o quanto essas Federações asfixiam os seus principais filiados. Respaldadas por equações de poder, utilizam-se de artimanhas para retroalimentar o domínio do futebol local. Criam regras absurdas para evitar que os descontentes procurem alternativas que amenizem os males que os campeonatos estaduais lhes causam: limitam o número de jogadores inscritos e das categorias de base com o objetivo de impedir que os clubes possam procurar opções mais vantajosas; impedem que os clubes possam definir onde e como mandar seus jogos; colocam os tribunais como arma de repressão.

A Federação do Rio de Janeiro foi ao máximo do absurdo ao criar uma Lei da Mordaça: quem falar mal de alguma coisa será punido. Wanderley Luxemburgo e Peter Siemsen estão na mira porque desobedeceram e falaram. O técnico foi punido e teve uma ótima reação: colocou um esparadrapo na boca. A repercussão do ato foi instantânea. Correu mundo. A mídia mais independente, claro, está dando volume para o fato. Por outro lado, os veículos comprometidos comercialmente com o “espetáculo”, óbvio, estão tratando tudo com o tradicional distanciamento e frieza.

Da mesma forma que cresce a pressão para se moralizar a gestão dos clubes e para equilibrar a utilização do trabalho de seus empregados, os jogadores, há que se exigir o desmonte dessa correlação de força entre os clubes e as Federações, sob pena de serem, definitivamente, sufocados. O emblemático resultado obtido pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014 carrega em si parte dessa distorção.

Para que haja uma efetiva evolução em favor dos clubes, é necessário que mais ações como a de Luxemburgo aconteçam. O poder da mídia, talvez, seja o único capaz de mover essa montanha construída há décadas e de trincar o forte elo político existente nos diversos níveis de comando do futebol brasileiro. Quem sabe o esparadrapo seja a semente da modernização tão pedida, tão decantada, mas, ao mesmo tempo, tão inerte?

Fla x Flu

Ah! Tem jogo né? Desculpem, mas não consigo me empolgar com esse campeonato mequetrefe. Cada dia menos.

Vou assistir ao jogo, claro, mas já foi o tempo em que o clássico pelo estadual dava aquele frio na barriga. Passava a semana imaginando vitórias, goleadas. Pensava em todas as formas possíveis de derrotas, assim, evitava-as, pois nunca fui um bom adivinho. No dia, ficava com a mão suada. Nem fome sentia.

Hoje, vou para frente da televisão como se fosse um jogo como outro qualquer. Talvez, durante os noventa e poucos minutos, eu consiga sair dessa letargia. Talvez, Gerson, Kennedy e Fred consigam devolver parte daquele clima que sempre envolveu o clássico. Todo Fla x Flu era o jogo do século, o de todos os tempos. Ninguém ficava imune, nem tricolores, nem rubro-negros, nem os indiferentes. Ninguém ficava. Muito menos eu.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MauroJacome

Imagem: www.dercio.com.br

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