Entre a coragem e a trairagem (por Walace Cestari)

Marcos Júnior foi corajoso, é verdade. Depois daquela eliminação vergonhosa da seleção brasileira sub-20, soltou o verbo e denunciou a falta de comprometimento do grupo. Isso respinga em todo mundo. Demonstra falta de comando, do técnico ao presidente da CBF.

Mesmo após vinte dias da declaração, as palavras ainda batem forte na CBF. Já passamos por isso na seleção principal e o torcedor não perdoou. A Copa de 90, por exemplo, tratou de creditar nossa derrota à desunião do grupo e às questões financeiras com o patrocinador, em lugar de render-se à sensacional atuação de Maradona naquele jogo fatídico.

Em 2006, a mesma história. Não importa qual era o time francês que nos eliminou. Não perdemos para Zidane e Cia., porque não perdemos. Perdemos pela farra na preparação, pelas noitadas, pela promiscuidade com a torcida. Fomos derrotados pela falta de comprometimento, pela ausência de dedicação dos jogadores em adquirir sua forma física, pelo pulso fraco do técnico, pelos poucos treinamentos, pelos cartolas que só queriam promover a si mesmos e embolsar uns trocados.

Marcos Júnior sabe que essas derrotas marcam uma geração. E cada uma delas tem sua própria história para aterrorizar seus personagens. Há aquelas que ocorrem por azar, por erros de arbitragem e um sem-número de outras razões. Ser apontado como omisso, preguiçoso, ser acusado de corpo mole, de farrista ou festeiro não é bom para nenhum jogador. Ainda mais quando em começo de carreira.

E Marcos Júnior não está acostumado a isso, por isso a revolta. Criou-se em meio a guerreiros. Sabe o que é ter um grupo unido e um comandante de pulso firme. Sabe bem, porque já foi deixado de lado como lição e aprendeu. Com tudo o que vê nas Laranjeiras, Marcos Júnior se recusa a não pensar como vencedor, a não ser favorito. E a revolta explode nos microfones.

Se o presidente da CBF declara que essa reação é boa, é porque as palavras de nossa joia bateram forte. Não que Marín pense realmente isso, mas viu-se obrigado a recuar e aceitar a crítica. Tenho minhas dúvidas, entretanto, se, em um meio hostil como é o do futebol, Marcos Júnior não sairá queimado do episódio.

O que se destacou como coragem pode ser entendido nos vestiários como trairagem. Não no Fluminense, onde todos conhecem o jovem, mas na seleção. Temo que seja preterido de outras convocações. Afinal, sabemos que nem sempre o futebol é o primeiro critério quando o assunto é integrar a seleção brasileira.

Que a frase de Marín não seja mera jogada para as câmeras. Que venham mudanças. E sem punições hipócritas contra nosso garoto. Quem se cria como guerreiro não aceita a derrota pela desistência da batalha. Afinal, isso é a alma de ser tricolor.

Walace Cestari

Panorama Tricolor

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Imagem: Agência Estado

Contato: Vitor Franklin