Fluminense: entre os equívocos da tabela e da gestão (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, há algum tempo já que sabemos que o Fluminense é a Casa da Mãe Joana, mas nunca esteve tão zoneado quanto nesta última semana. Quem só acompanha o noticiário do clube talvez nem perceba o fato, contudo. É nas redes sociais tricolores que as coisas aparecem, umas mais evidentes que outras, é claro. Só nos últimos dias, não necessariamente nessa mesma ordem, tivemos censura escrachada às organizadas partindo diretamente do departamento de arenas – o que obviamente foi uma orientação do presidente –; “campanha“ com candidato a prefeito e candidata a vereadora visitando o CT, cabendo até interrupção das atividades para tal; um certo escritor (ou, ao menos, é o que me pareceu) que, em vez de fazer oposição, se propôs a espalhar lixo ideológico nas redes e, finalmente, o “caso dos 20%”, em que até Conca se manifestou. Este último, diga-se, carece de provas ainda e o processo dará o que falar, mas todos os demais são fatos.

Porém, não vou perder tempo comentando nada disso. Primeiro, porque a melhor maneira de resolver boa parte destes absurdos é no voto, e isso somente daqui a dois anos. Logo, se você se sentiu indignado, associe-se ainda neste mês e, se você já é sócio, não desista. Segundo, porque alguns desses assuntos não serão resolvidos por mim ou por você de qualquer maneira. Pode caber aos órgãos competentes ou ao Conselho Deliberativo do Fluminense (o que é uma pena, pois a maioria apóia cegamente o mandatário e nunca irá questioná-lo) fazê-lo. Além disso, o próprio editorial do PANORAMA já se encarregou de tratar boa parte deles com muito mais propriedade do que eu poderia fazer (ou certamente ainda se encarregará). Assim, o que me cabe, enquanto cronista, é comentar estas situações da maneira que as domino: de forma rasa, sem objetivar, com isso, formar opinião. Recomendo que os interessados em saber mais sobre tudo o que citei procurem informações a respeito.

Enquanto a política do Fluminense borbulha, o time em campo segue, aos trancos e barrancos, na parte de cima da tabela. Duas vitórias com muitos gols bem mentirosas, mas bem-vindas, e um empate desnecessário no clássico nos colocaram em sexto lugar. E para quem vê o futebol que o time tem jogado, o Fluminense parece ser o famoso elefante no meio da sala. É tão difícil realmente entender nossa posição atual na tabela quanto era entender a posição do Vasco há algumas rodadas, por exemplo. Isso quer dizer que acabou a subida e agora é ladeira abaixo? Não sei. Tudo depende. Odair tem dado bastante sorte, mas apenas isso não será o suficiente para nos mantermos no patamar atual. As peças que ele perdeu durante a sequência de jogos mais fáceis estão voltando, para nosso alívio. Mas se ele não utilizá-las e insistir com os refugos da vez, de nada adiantará. O Bahia não é o Goiás, e fuzilaram o “Ramonismo” com três gols e depois encararemos ninguém menos que o líder do campeonato que, a despeito da derrota pro Fortaleza, tem o melhor ataque do campeonato.

O que me leva à constatação mais incrível desta coluna: o Fluminense tem o segundo melhor ataque. Óbvio que as goleadas ajudaram, já que fizemos oito gols em duas partidas (o que talvez demorássemos uns dez jogos pra fazer), o que pode mostrar que, mesmo com limitações, esse time pode conseguir ser decisivo. Basta que Odair DEIXE os caras jogarem! Ninguém vai me convencer que não é o próprio Odair que orienta o time a recuar quando sai na frente no placar. Só espero que, depois de ter que ficar se justificando tanto, ele desista disso e deixe que a equipe apresente seu jogo da melhor maneira possível. Calegari voltará, barrando Julião. André voltará, e pode barrar Hudson tranquilamente. Se quiser manter o time no 4-3-3, Michel Araújo pela esquerda, Luiz Henrique pela direita, Fred centralizado. Eu escalaria Ganso armando o jogo, mas sabemos que ele não vai tirar o Nenê. A questão é que opções voltarão a existir. A desculpa pra escalar certas barangas ou colocá-las em campo durante as partidas vai acabar.

Ok, vamos agora a um pouco de otimismo? O Bahia tem a defesa mais vazada da competição, ao lado do lanterna Goiás. O Galo é oito ou oitenta: ou ganha, ou perde. Ainda não empatou no campeonato porque o estilo de jogo do Sampaolli é meio maluco. Ainda que eficiente, não é invencível. As derrotas do Atlético-MG foram para Botafogo, Fortaleza, Santos e Inter. Os dois últimos são competitivos, mas Fortaleza e Botafogo são times talhados para o contra-ataque, jogam melhor de forma reativa (exemplo foi a derrota do Palmeiras no meio de semana para o Bota). E isso o Fluminense de Odair faz bem. A função de um técnico é saber quando variar sua proposta de jogo e seu esquema. Contra o Bahia tem que ser o protagonista da partida. Joga em casa, é o favorito, tem que se impor, meter gol e continuar atacando pra fazer mais. Contra o Atlético-MG, não precisa se atirar ao ataque e transformar o jogo num “tudo-ou-nada”. Dá pra fazer um jogo de paciência, quebrando a velocidade do time adversário e indo na boa.

A sequência desta semana, com Bahia em casa, Atlético-MG fora e Ceará em casa dá pra render pelo menos 7 pontos se fizermos tudo direito. Ceará começou a descer a ladeira e o Bahia dá sinais de que pode se recuperar, mas ainda não tem consistência. Arrumar um empate com o Galo não seria um desastre. E com esses pontinhos estaríamos com 28 pontos ao final da 17ª rodada, faltando dois jogos pro final do turno, o que seria excelente. Há muitos times com jogos a menos, é verdade, mas o primeiro destes que está abaixo de nós é o Vasco, com 18 pontos. No máximo, empatariam conosco em 21 nesse momento, isso se ganhassem a partida que lhes falta. Os de cima tendem a se distanciar, pois só o Inter tem 14 jogos. Mas não podemos nos preocupar muito, nesse momento, com os outros. Temos é que pontuar o máximo possível e melhorar nossas apresentações. Se nos tornarmos realmente competitivos agora, o segundo turno pode ser bem melhor e mudar nossas aspirações. Torçamos!

Curtas:

– Jogador ganês? Atacante do Barcelona de Guayaquil? São essas as soluções em termos de reforços que vamos mesmo buscar?

– O Fluminense lidera o Brasileirão sub-20. A solução em termos de elenco para as nossas próximas temporadas indubitavelmente passa por esta geração que está despontando. Mas não se continuarmos com as práticas de hoje. Vender Pitaluga pelo valor que vendemos ainda vai nos fazer lamentar muito.

– Marcos Felipe, Calegari, Digão (Nino), Luccas Claro e Danilo Barcelos; André, Dodi, Michel Araújo e Ganso (Nenê); Fred (Lucca) e Marcos Paulo. Gostaria muito de ver esse time sendo testado, ao menos contra times mais fortes. O 4-3-3 que citei mais acima funciona razoavelmente bem contra times mais fracos, mas precisamos ter variação. Bato nessa tecla desde o início do ano. Até o 3-5-2 deveria ser experimentado. Odair não pode ser só a bucha de canhão da diretoria, precisa mostrar outros atributos pra continuar como técnico.

– Palpites para as próximas partidas: Fluminense 2 x 1 Bahia; Atlético-MG 1 x 1 Fluminense; Fluminense 3 x 1 Ceará.

Panorama Tricolor

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