Em busca do equilíbrio no Paraguai (por Vitão)

Quando se fala no Fluminense de Fernando Diniz, logo pensamos em posse de bola, toques curtos e controle das ações. O Flu, desde a volta do treinador na temporada passada, é uma equipe que se junta pelas laterais para aglomerar e, com superioridade numérica em torno da bola, criar suas jogadas ofensivas. Mas o habitual deixou de ser regra após a oscilação que o time enfrentou depois da goleada histórica no River Plate.

A necessidade faz o sábio e, diante de blocos baixos e reativos, ou de marcações altas vorazes em sua saída sustentada de bola, surgiu outra forma de jogar que vem se desenhando e encorpando ao longo da temporada. Essa faceta estratégica tem o 4-4-2 como sistema, dois centroavantes natos, ponteiros mais fixos para alargar as defesas adversárias e, sobretudo, mais objetividade.

No primeiro duelo contra o Olímpia, sabendo que o rival viria fechado no 5-4-1, Diniz se preocupou em fixar jogadores na última linha de ataque para sufocar e também para proporcionar o mano a mano para os seus atacantes. O Flu atacou com seis atletas no terço final e obrigou o Olímpia a se defender com sete jogadores. O time de aproximação e toques curtos, foi mais vertical e posicional.

A ideia era fazer a bola chegar mais rapidamente no último terço do campo. O Fluminense, mais uma vez, abriu mão do jogo de costura que se desenha mais atrás do campo e foi jogar lá em cima, aceitando com louvor o convite do adversário. Os dois gols iniciaram com Keno aberto e recebendo em situação favorável para criar. O atacante teve espaço para enfrentar seu marcador e soube aproveitar.

Como dito, esse plano alternativo vem se desenhando ao longo da temporada e nasceu da necessidade de fuga da obviedade estratégica. Diniz procurava soluções e precisou abrir mão de alguns dogmas para encontrá-las. Custou a entender que determinadas situações vão pedir outra base de funcionamento. A pergunta que paira no ar é como o time vai ser escalado para o duelo no Paraguai. E como ele vai atuar estrategicamente.

Contra o Athletico Paranaense, Lima e Martinelli atuaram como titulares e JK foi poupado da viagem. Alexander entrou no primeiro tempo após a expulsão de um atleta do rival e liderou a reação do time, mesmo com limites físicos nítidos depois de tanto tempo de inatividade. Será que o comandante tricolor vai escalar o time para costurar no 4-2-3-1 ou vai buscar mais verticalidade com o 4-4-2?

O grande problema de repetir o time escalado no Rio é manter Ganso como segundo volante. Para ter John Kennedy de titular, Diniz vai precisar de um segundo volante que ajude André na proteção. Esse volante vai ter que entregar intensidade tanto na fase defensiva quanto na ofensiva. A questão é que a partida pede controle do jogo através da posse. Dentro dessa perspectiva, espero o Flu no 4-2-3-1 com Martinelli ou Alexander na vaga de JK e o retorno do jogo de costura para quebrar o ritmo, como mostra o campo abaixo.

Nada impede o treinador de modular as estratégias e, caso haja necessidade, se valer das duas dentro da mesma partida. Mas, com dois gols de vantagem e superioridade técnica, o Tricolor precisa quebrar o ritmo nos 15’ iniciais e depois tentar controlar à sua maneira, costurando e aproveitando o espaço que terá para jogar. Se retrair demais ou partir para cima com tudo, não são as melhores opções. A partida de amanhã pede equilíbrio e, para alcançá-lo, basta o Fluminense executar com capricho a sua identidade dominante. Salve o Tricolor!