Educação (por Ernesto Xavier)

IMG_20140420_130520 Eu tinha apenas dois anos e meio de idade. Meus pais me pegaram pela mão e levaram ao falecido “Jardim Escola Nova Vida”, um pequeno colégio no bairro de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Estávamos em 1987. Minha mãe grávida de Luana, o amor da minha vida. Ali se iniciava o Maternal (ainda chamam assim?). O “Jardim Escola…” fechou as portas em 1994.

No ano seguinte entrei no Colégio Cunha Mello, em Santa Cruz, na 5° série (hoje 6° ano). Foram os anos mais felizes. Fiz amigos que me acompanham até hoje. Aprendi sobre as letras, os números e a vida. Ali também se iniciou minha vida artística, foi também o período de nascimento da paixão tricolor. Fiquei lá até fim do ano 2000. Neste mesmo ano terminei o curso de inglês que iniciei 8 anos antes no Fisk.

O terceiro ano do segundo grau eu fiz no Colégio Bahiense, em Campo Grande. Apenas um ano. E que ano!

Depois desse período vieram os 4 anos de faculdade de Jornalismo na Estácio da Barra da Tijuca. Junto: o curso de espanhol, o teatro no Tablado, as aulas de Cinema na CUFA em Madureira, a pesquisa científica sobre o Hip-Hop no Brasil, livros, livros e mais livros. Não me cansei e parti para as aulas de francês em 2009. Em 2011 o curso de roteiro cinematográfico da Escuela Internacional de Cine y TV de Cuba. O francês na Aliança segue até hoje…

Até o momento são 27 anos de estudos sem parar. Ainda me sinto um completo ignorante. Pretendo conhecer o mundo, as pessoas, as ciências, a mim. Podem me tirar quase tudo. O conhecimento, jamais. São ensinamentos que correm em cada mililitro de sangue. Não só o que aprendi nas instituições de ensino, mas também o que passaram meus pais, avós, tios e até amigos. A educação começa em casa.

Torcedores de arquibancada “das antigas”, foram educados em outros tempos. Aprenderam com gerações diferentes das de agora. Iam aos estádios, pois era o correto a se fazer. Ver o jogo pela televisão? Isso praticamente não existia. Ingresso caro? Nunca. Violência nas arquibancadas? O risco de se ferir era ao vibrar com um gol no abraço efusivo com um desconhecido. Times medíocres? Às vezes sim. Sem raça e amor a camisa, não.

Os interesses da TV, que percebeu o potencial lucro com o velho esporte bretão, iniciou a “deseducação” do Arquibaldo. Levaram o torcedor para dentro de casa. No máximo para as cadeiras de um bar. Esse virou o limite de quem ama o futebol. A nova geração aprendeu que ir ao estádio é complicado, demorado, perigoso, caro e desinteressante. Pelo menos no Brasil. Não disseram a ele que a magia do futebol ao vivo é incomparável.

Reduzir o preço dos ingressos, que alcançaram níveis sobrenaturais, é um dos passos importantes. Tirar a violência dos estádios e entornos é medida crucial. Melhorar o acesso ao jogo e a venda de ingressos também. São passos que demoram a serem dados. Mas que se feitos com perseverança, sem olhar para trás, nos levarão aos patamares de décadas passadas.

Reeducar não é simples. No caso da nova geração: EDUCAR (pois estes nunca souberam o que é o prazer de ir ao estádio com regularidade). Pode ser que leve outros 27 anos, porém devemos começar agora.

O futuro do clube depende disso.

Somos a torcida do futuro.

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