Editorial – Vá ao Maracanã, tricolor

Esta quarta-feira é um daqueles dias em que nosso maior escritor, Nelson Rodrigues, diria que os mortos levantam de suas tumbas para realizar o suave milagre – e o que não falta na história do Fluminense são milagres que nos alegraram para sempre.

Tudo está contra nós: no campo, no placar agregado, na direção, nas finanças, na politicalha rancorosa, na incerteza quanto ao futuro. Até o adversário já conta com a classificação antecipada. Em suma, uma semana daquelas… muitas que, no passado e em condições semelhantes, superamos.

Diante de tal cenário, ao Fluminense resta lançar mão de seu maior patrimônio, na verdade o único: a sua torcida. A força de sua grande e apaixonada torcida, o canto, as cores, as lembranças gritadas e sentidas.

Por isso, tricolor, vá ao Maracanã nesta decisão contra o time paranaense, e também no domingo contra o time mineiro.

Vá para ser mais um numa multidão capaz de levar o arrogante impossível à vergonha.

Vá pela tua paixão, pelo teu sentimento, desimportando por alguns momentos todos os fracassos e personagens patéticos que nos trouxeram a este caos – e são muitos num clube que vive numa Faixa de Gaza entre a pavorosa situação e uma deprimente ex-situação. Todos eles são minúsculos diante do Fluminense, único motivo para o nosso amor ao futebol.

Nenhum dirigente é maior do que o Fluminense, nenhum. Nem jogador, treinador, funcionário, sócio, conselheiro, benemérito, torcedor de arquibancada ou não, jornalista, escritor, blogueiro e outros menos votados. Todos são humildes formiguinhas diante do colosso centenário das Laranjeiras, para não dizer insignificantes – e quem não tiver esta noção é por mera deficiência cognitiva ou mesmo delírios narcóticos.

Nem o amor de cada um de nós é maior do que o Fluminense. Ele está acima de todos os amores.

Tricolor, vá nesta quarta-feira e domingo pela camisa que você ama desde criança.

Vá para tentar impedir um desastre e, se você não pode entrar em campo, ajude no canto e no entusiasmo, criando um ambiente positivo de modo a lutar contra as desgraças de agora.

Vá pela empatia, pelo apreço, pelo amor próprio, para valorizar o pai que um dia te levou à arquibancada, ou um tio ou um pai de amigo ou a irmã mais velha, tanto faz.

Vá porque há quatro anos não colocamos cinquenta mil torcedores nossos e este é um bom momento para gritar e extravasar.

Vá pelo teu espírito de criança que, um dia, perseguiu o Fluminense para sempre.

Vá por todos os nossos tricolores que tanto foram ao Maracanã e hoje, mortos, torcem pelo nosso time como sempre.

Vá porque o teu time é o desafiador de definições, aríete das objetividades estúpidas, avesso do avesso de qualquer avesso.

Vá pelos poetas, artistas e personagens notáveis que construíram a nossa história dentro e fora do gramado, muito superior ao momento passageiro atual.

Vá pelo Fluminense.

Vá pelo teu sentimento mais nobre.

Por ora, ficam de lado todas as animosidades idiotas. Cada pequeno grande coração na nossa arquibancada é uma grande chama de positividade, o fogo de um incêndio de fé e esperança.

Depois, quem quiser que fique com as questiúnculas e miudezas. Quem quiser que escolha entre ser bípede ou rastejante. Ter grandeza d’alma ou pequenez de espírito.

Os grandes não fazem questão de ter razão, mas de ter e sentir amor.

E amor é Fluminense.

Todos ao Maracanã, vivos, mortos e por nascer. Se o impossível acontecer, não foi por falta de aviso ou currículo. É normal.

Até logo mais.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri