Editorial – Sobre a reforma das Laranjeiras

Na fase final da atual gestão, que usou o aniversário do clube para um anúncio que tem o aroma eleitoreiro, o Fluminense anunciou a esperada reforma de Laranjeiras. Contudo, os dados preliminares deixaram muitas dúvidas, como sempre.

Disse o mandatário tricolor que não adiantava a ilusão de uma obra irrealizável, conforme reprodução abaixo.

Também é importante dizer que era inaceitável o abandono de Laranjeiras. Todo torcedor tricolor sonha em rever seu amor em campo na casa que fez nascer a Seleção Brasileira, onde pisaram Marcos Carneiro de Mendonça, Welfare, Preguinho, Romeu, Batatais, Castilho, Pinheiro, Telê, Waldo, Didi e muitos mais.

Contudo, o anúncio é da capacidade de público para 7.000 torcedores, justamente num momento em que o clube teve ótimos públicos no Maracanã e ostenta orgulhoso crescimento nos números do Sócio Futebol. Capacidade essa menor do que a de partidas realizadas em Laranjeiras nas décadas de 1980 e 1990, por exemplo, quando o Maracanã era o principal palco tricolor.

Ou seja, a reabilitação do orgulho do Fluminense em sua casa tem o tamanho bem menor do que o de respeitáveis equipes do futebol brasileiro, tais como Goiás, Atlético-GO, Vila Nova, Avaí, Figueirense, Náutico, Juventude, Bragantino, Criciúma, CRB e Operário de Ponta Grossa. A rigor, a capacidade de público esperada para Laranjeiras é menor do que a de todas as equipes médias das séries A e B do Brasil atual, com exceção de Brusque e… Tombense.

Se é justo não esperar obras irrealizáveis do ponto de vista econômico, até porque o Fluminense tem uma dívida astronômica e crescente, por outro lado, oferecer aos torcedores uma capacidade de público menor do que a do século passado é exigir a ingenuidade máxima da torcida, isso para não dizer que ela está sendo tratada como otária.

A julgar pelos dados, parece claro que o objetivo, se muito, é abrigar partidas obscuras do Fluminense no Campeonato Carioca, sem apelo de torcida. Em tese, o número de Sócios Futebol do Tricolor é mais de sete vezes o tamanho da capacidade prevista, fato sem precedentes na história do futebol brasileiro. Ou, hipoteticamente, realizar amistosos especiais num calendário mais do que escasso.

Resumindo: se nada mudar, é mais uma conversa para boi dormir, que não resolve o problema de Laranjeiras mas serve como tapeação, ou ainda como grande feito para otários.

Disse o mandatário em primeira pessoa que está muito honrado em dar “mais este presente” ao Fluminense. Pelo visto se esqueceu de que não se trata de um presente, até porque não usará seus recursos particulares, mas sim de um compromisso assumido por escrito em campanha. É dever de todo gestor tricolor zelar pelo patrimônio do clube, não favor ou presente.

Por fim, com a evidente dúvida sobre que tipos de jogos do Fluminense o estádio das Laranjeiras abrigará, paira no ar uma eterna pergunta que tem tudo a ver com futebol: qual será a próxima jogada?