Editorial: Mário, o novo Vasconcelos

Outubro chegou e, com ele, não virá qualquer grande título para o Fluminense. No entanto, a quantidade de manchetes e notícias fabricadas como sucessos tricolores é tamanha que até os desavisados se surpreendem. Celebração do Carioquinha, obtenção de CND, um mar de sucesso. Só faltam os reforços. Bom, é melhor deixar isso para depois…

Anunciando sua candidatura à reeleição nas redes sociais, disse o presidente tricolor:

“Na primeira gestão, adotamos como pilares a credibilidade, a estabilidade e a austeridade, princípios que nortearam todas as decisões. Com organização e muito trabalho, retornamos ao primeiro escalão do futebol brasileiro, reconquistamos nosso protagonismo em clássicos; levantamos taça e o orgulho voltou. Melhoramos, mas ainda é pouco. Queremos mais. Muito mais.”

Definitivamente, uma gestão que rifou jovens a troco de banana para bancar salários de nomes como Hudson, Bobadilla, Felipe Melo, Fábio, Cristiano Moldávia, Pineida, Wellington, Bigode, Marrony, Alan e outrem não pode ser levada a sério quando o assunto é austeridade. Mas o constrangimento maior é quando o presidente trata como primeiro escalão a posição de figurante que não disputa grandes títulos, ou que até passe vexames como a eliminação na pré-Libertadores ou na Sul-americana. Nada que alimente qualquer orgulho.

Para os tricolores que conhecem a história mais antiga do clube, o confiante discurso do atual mandatário não disfarça a comparação com outra gestão do clube, a de Silvio Vasconcelos, de janeiro de 1978 a janeiro de 1981. Tempos difíceis para o Flu, que não conquistava sequer um turno. Depois de duas temporadas e meia de mediocridade, o Tricolor só se levantou com o Campeonato Carioca de 1980, com um time quase todo vindo da base anos antes. No apagar das luzes, Silvio escapou de ter um mandato sem títulos graças aos garotos comandados por Rubens Galaxe e Edinho. Ao terminar seu mandato em 1981, Vasconcelos não deixou a menor saudade nos torcedores. A seu favor, um único ponto na comparação: em 1980, o Campeonato Carioca era um título de grande expressão, o que não ocorre hoje, por mais que comemoremos.

Entre 1978 e 1981, assim como a partir de 2019, o Fluminense misturou alguns ótimos jogadores com outros medíocres, afora contratações contestáveis. Claro, naquele tempo não havia o colossal carrossel de jogadores veteranos e seus contratos generosos, o que talvez explique muita coisa sobre o Flu atual. Já o que ninguém poderia esperar é que, quase quatro décadas depois, o “novo modelo de gestão” fosse uma cópia mal feira do fim dos anos 1970.