Ele disputou três Copas do Mundo, se destacou como um dos maiores jogadores brasileiros dos anos 1970 e 1980 e viveu dezenas de tardes inesquecíveis no velho Maracanã com mais de 100 mil torcedores. Ainda garoto, foi simplesmente titular da Máquina Tricolor ao lado de campeões mundiais como Paulo Cezar Caju, Rivellino, Carlos Alberto Torres, Félix e Marco Antônio. E ninguém mais do que ele equilibrou tanta garra em campo com qualidade técnica vestindo a camisa do Fluminense.
Aos 69 anos completados nesta quarta-feira, Edino Nazareth Filho, o inesquecível Edinho, está consagrado como um dos maiores nomes da história do Fluminense. Ele foi o principal responsável por segurar o ânimo da torcida tricolor após o término da Máquina. Sempre se destacou mesmo em times menos valorizados do Fluminense. Liderou o time campeão carioca de 1980 e marcou o gol do título na final contra o timaço do Vasco.
Para os tricolores em torno dos 50 anos de idade, Edinho foi o grande ídolo, a estrela maior. Arrancava da defesa para o ataque, marcava gols, dava passes, lançava, cruzava e voltava para combater. Era uma espécie de camisa 10 jogando na quarta zaga, fazendo as duas funções simultaneamente. Enlouquecedor.
É fácil lembrar dele pelos títulos e vitórias. Com 360 jogos pelo Flu, venceu mais da metade e só perdeu 75 em nove temporadas disputadas, somadas as duas passagens pelo clube. Mas o Fluminense de Edinho era tão valente e lutador que recebia aplausos até na derrota. Foi o caso das oitavas de final do Brasileirão de 1981: o Fluminense precisava derrotar o Vasco por 3 a 0 para se classificar, e conseguiu o resultado ainda no primeiro tempo. Num jogo de muita luta, o Cruz-maltino reagiu, descontou para 3 a 2 e conseguiu a vaga. Mesmo triste, a torcida tricolor aplaudiu seu time ao término da partida. Era assim nos tempos de Edinho.
Já como treinador do clube, em sua última passagem, o eterno craque deixou a marca do que pensava sobre o Flu. Contrariado pelos dirigentes, que impuseram a contratação do veterano lateral cruzeirense Nonato, simplesmente declarou: “Jogador reserva de outro time não serve para ser titular do Fluminense”. E pediu o boné. A vitória era sua filosofia desde garoto, no futebol de praia de Copacabana.
Numa típica fake news, ainda há torcedores que apontam Edinho como “traidor” por ter jogado no Flamengo. O tamanho dessa bobagem pode ser desmentido por quem viveu a época: Edinho simplesmente tinha voltado da Itália, estava sem clube, pediu para treinar semanas no Fluminense e foi desprezado pelo inacreditável presidente Fábio Egypto, famoso apenas por ter desmontado o time tricolor tricampeão de 1983/1985. Sem saída – a não ser a loucura de encerrar a carreira aos 32 anos -, o zagueiro foi para a Gávea, ganhou a Copa União e, ao primeiro sinal de arrependimento do Fluminense, acertou imediatamente a volta ao clube, naquele tempo bem mais enfraquecido do que seu rival. Outros preferem dizer que ele era “contra o Fluminense” na função de comentarista do SporTV por uma década – o engraçado é que vascaínos, alvinegros e rubro-negros tinham a mesma reclamação em relação aos seus clubes…
Quem melhor definiu Edinho foi Seu Pinheiro, símbolo eterno do Fluminense, às vésperas de sua morte em 2011. Tive a oportunidade de entrevistar o ídolo no Tijuca Tênis Clube naquela ocasião, ao lado de Raul Sussekind e Álvaro Doria. Passamos horas divertidas conversando sobre o Fluzão e o futebol. Em certo momento, cravei: “Seu Pinheiro, com toda a sua história e títulos, campeão mundial pelo clube, homem de confiança de Castilho com mais de uma década de serviços prestados às Laranjeiras, eu posso dizer que o senhor é o maior zagueiro da história do clube?”.
Com olhar sério e emocionado, o velho Pinheiro – que sabia de tudo do Fluminense dos anos 1930 até 2010, tendo visto inclusive outros cracaços da defesa como Ricardo Gomes – um monstro! -, além de revelar inúmeros craques, cerrou as sobrancelhas, deu uma pausa e disse: “Não, meu filho. Não. Eu joguei muito bem, assim como outros, mas o maior zagueiro da história do Fluminense é o Edinho.”
Ponto final.
@p.r.andel
Adaptado do original publicado no Museu da Pelada em 05/06/2024