É sério que querem futebol em plena pandemia? (por Paulo-Roberto Andel)

O assunto já foi abordado aqui, tanto no editorial quanto na coluna de O Trio, do qual faço parte orgulhosamente, mas o impacto da questão é muito grande e, por isso, permite a repetição do assunto.

Noutras situações, o futebol já sofreu baques fortes. Por exemplo, durante a gripe espanhola – que não era só espanhola – há um século. Ou nos anos 1940, que não tiveram Copa do Mundo por um motivo óbvio – a Segunda Guerra Mundial -, bem explicados em belo livro do escritor Roberto Sander.

Quem vê minimamente além do próprio nariz já sabe, mas não é demais repetir: estamos em situação de guerra mundial, com milhões de pessoas infectadas e milhões de mortos, uma vez que a notificação da Covid19 dificilmente passa de 10% dos casos em média mundial. Imagine no Brasil, que é pentacampeão de subnotificação de qualquer coisa.

Num momento em que milhões de desempregados se espalham pelo país na mesma proporção da pandemia, mais a quebra de milhares de empresas, todas vitimadas pelo drama da Covid19, por que o futebol, este belo esporte bretão que tanto amamos, deveria furar a fila de prioridades e voltar normalmente diante de um cenário completamente anormal?

É sério que querem futebol em plena pandemia? Para atender à megalomania do Flamengo com a operação pra lá de multimilionária? Sabe-se lá o que levou o Vasco nessa, tendo um presidente que é médico…

Faça-me o favor!

Jogos sem torcida, posteriormente com pessoas sentadas a no mínimo dois metros de distância, com entrada e saída britânica do Maracanã.

Deveria ser piada de mau gosto num país onde as pessoas fazem questão de furar fila e se sentirem malandras por isso. E logo onde?

Com o delirante procedimento britânico, teríamos quantas pessoas no estádio a partir da liberação? Cinco mil? Para jogar onde? Ou o Maracanã isentará o Fluminense de despesas no período?

Ninguém é louco de não saber todos os custos e contras envolvidos nessa história, mas um pouquinho de lucidez indica que futebol, cinema e teatro, por suas características próprias, estão no fim da linha de liberação de aglomerações – um jogo vazio no Maracanã equivale a uns quinze cinemas cheios, teatros idem ou até mais.

Nem falei aqui da desumanidade que seria comemorar o futebol enquanto cadáveres se acumulam nas geladeiras dos hospitais.

A volta ao futebol depende da ciência e não do empirismo. Profissionais da Saúde, estatísticos, economistas, cientistas sociais, um monte de gente precisa estar envolvida nisso.

O futebol é maravilhoso. Uma parte muito importante das vidas de todos nós, mas não é exclusivamente A vida de ninguém. Ao menos, não deveria ser.

A defesa da vida humana é o item mais valioso de todos e, sinceramente, o Fluminense me deu um grande motivo de felicidade, com sua posição contrária a qualquer retomada do futebol sem os devidos amparos legais e científicos. Há muito tempo não vibrava tanto com um feito do meu clube.

Parabéns a todos os envolvidos no processo, do presidente e do vice-presidente ao funcionário mais humilde – e não menos importante por isso. A Saúde não pode nem deve ser objeto de politização, seja ela qual for. Ao ficar do lado da ciência e da lucidez, o Fluminense honrou suas tradições.

Nota: sobre Brasileiro e competições internacionais, alguém já definiu como os times vão viajar duas vezes por semana em aviões que não vão poder decolar lotados?

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Aproveitando: apoiar uma atitude digna da direção do clube não me torna eleitor dela.

Quem segue as mais de mil colunas que publiquei neste espaço – SEM UM CENTAVO DO CLUBE, DE SEUS DIRIGENTES OU DE OUTROS ATORES POLÍTICOS E FUNCIONAIS, O QUE NEM TODXS PODEM DIZER – sabe muito bem o que penso sobre a política do clube e seus personagens, dos mais relevantes aos mais caricatos – e estes não são poucos.

Da mesma maneira, sigo com a consciência tranquila: para elogiar ou criticar, não preciso de alianças espúrias e boquinhas que uns e outros se esbaldaram por aí. Nunca aluguei minhas opiniões, nunca bajulei sequer as pessoas em quem votei, nunca combinei textos e tuítes com candidatos, nem virei a casaca por não concretizar meu emprego no clube – emprego este que eu JAMAIS procurei.

A quem se sentir prejudicadx com o parágrafo anterior, estou à disposição para uma conversa pública. Será um prazer.

Panorama Tricolor

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