Dez dias para Marcão (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, o Fluminense deste sábado foi diferente do Fluminense da partida contra o Atlético-GO. E o que foi diferente na partida afinal? A resposta para isso eu soube com alguma antecedência: a ausência de Hudson e Nenê.

Reparem que se esses dois jogadores tivessem condições de jogo, eles seriam escalados e nós teríamos levado um caminhão de gols do São Paulo, mesmo que o São Paulo não estivesse minimamente interessado nisso.

Com a ausência de Nenê e Hudson, Marcão ganhou liberdade para escalar dois jogadores com maior capacidade de imposição física. Optou por Yago e, para meu desespero, por Wellington.

É uma coisa que me perturba a mente há anos que ninguém no Fluminense tenha percebido até hoje que Wellington não é jogador profissional.

Não obstante, pelo menos fechou um dos lados do campo e o Fluminense equilibrou o duelo tático com o São Paulo. O que nos mostra que algumas conclusões sobre Marcão possam te sido precipitadas. Com uma pequena melhora na escalação o Fluminense fez sua melhor partida com Marcão. E isso foi contra o líder do campeonato.

Só que o Fluminense teve um problema tamanho família, que foi a incapacidade de criar jogadas de gol. É claro que as dificuldades do Fluminense foram as de todos os adversários do time que tem a defesa menos vazada do campeonato.

O que me leva a sugerir uma pequena viagem no tempo, quando se criou por aqui a lenda de que o modelo de jogo do Diniz no Fluminense deixava a defesa vulnerável. Tudo isso enquanto o Fluminense estava entre os times que menos permitia aos seus adversário finalizar em gol.

Só que tem episódios que explicam toda a história. Um deles é o Fluminense e Cruzeiro no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, quando o Cruzeiro deu um único chute a gol durante 90 minutos e o nosso valoroso goleiro Rodolfo aceitou.

A questão é que como as mentiras, as lendas acabam precisando de lendas acessórias para se perpetuarem e não desmoralizarem a fonte. Então criaram a lenda de que o Diniz evoluiu para chegar ao momento atual, obviamente que em atenção as críticas que se baseavam na lenda original.

O mundo do futebol é fantástico, amigas, amigos.

A única verdade, por mais que ela contrariasse interesses, era de que o Fluminense perdia porque era assaltado todo jogo pela arbitragem e juntando os nossos dois goleiros não dava meio. A coisa só entrou nos eixos quando o Marcão (viva Marcão!) efetivou Marcos Felipe como titular, lembrando que Marcos Felipe estava na equipe desde o início da temporada.

Aliás, se há um erro grosseiro do Diniz é justamente ter insistido naqueles dois goleiros.

Voltando ao jogo deste sábado, nós temos mais um dilema para resolver. O Fluminense, apesar da derrota, jogou melhor, e a razão maior para isso, não tenho dúvida, foi a ausência de Hudson e Nenê. Será que o Marcão viu isso ou ele vai novamente insistir com esses senhores?

Mas tem uma outra questão importante. É que a gente está descendo o sarrafo no Marcão porque ele não consegue jogar mal e vencer os adversários, como fazia o Odair. Pois vejam a que ponto nós chegamos.

Talvez haja um erro coletivo de avaliação nosso. Falo “nosso” porque é incrível o surto de unanimidade acerca dos temas relacionados ao Fluminense nos últimos tempos. É que esse futebol mequetrefe que nós vimos o Fluminense jogar no segundo tempo do jogo contra o Vasco e contra o Atlético-GO é o mesmo que o Fluminense vinha jogando com Odair.

O que me faz recuar um pouco mais no tempo, porque, como bom brasileiro, eu também tenho problema de amnésia crônica, e lembrar que eu mesmo dizia que o Odair estava moldando o time para ter todos os medalhões em campo. E isso significa que já no final do primeiro turno o Fluminense fazia a maior parte dos seus gols em jogadas de bola parada, porque era um time que tinha uma dificuldade abissal de construir.

O problema é que nós estamos colocando tudo isso na conta do Marcão. Se é para colocar na conta dele, então, amigos, amigas, vamos dar dez dias para Marcão.

O que eu percebi ontem é que o Marcão quer mesmo reinventar o Dinizball no Fluminense. Eu não acho a ideia ruim. A questão é se Marcão domina o método de trabalho para produzir esse futebol, porque não é só mandar o pessoal tocar a bola. Taticamente, o Fluminense ontem espelhou o São Paulo, não na disposição das peças, mas no conceito de jogo.

E a outra questão é que não adianta você querer jogar Dinizball, que é um jogo de intensidade e atenção absurdas, escalando esses caras que eu canso de falar. E isso inclui o Wellington Silva.

O Fred fez uma partida surpreendente. Marcou um golaço e por pouco não computa uma assistência cinematográfica. Mais uma vez mostra que pode ser útil, mas é preciso convir, também, que parte da nossa dificuldade ofensiva se deve à sua presença em campo. Reparem que em momento algum você vê os meias acertando um passe para o Fred receber em progressão.

A melhor jogada do camisa 9 foi vir buscar a bola na intermediária e dar um passe com açúcar para o Wellington lá no começo do jogo. Só que nós não tínhamos esses homens para fazer infiltrações, atacar espaços vazios. Então, o Fred ia fazer essa jogada para quem?

Tanto que nos segundo tempo Marcão colocou o jogador que ataca esses espaços e o Fred o deixou na cara do gol. Agora, você também não pode começar a tentar construir o time para se encaixar no jogo do Fred.

Para nós não ficarmos aqui a vida inteira, eu acho que o Fla-Flu nos dará respostas. Marcão vai barrar Wellington e Danilo Barcelos? Vai manter Hudson e Nenê no banco? Marcão vai barrar Yuri? Vai iniciar o jogo com Martinelli? Vai iniciar com Miguel? Reconheceremos um modelo de jogo e fundamentos que consubstanciem esse modelo?

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Aliás, o Danilo já enganou o que tinha para enganar. Coloca o Julião de lateral esquerdo, que é melhor que Danilo e Egídios juntos.

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Aliás, falando em lateral-esquerda, os caras dizem que isso é plano de carreira, mas eu queria saber que plano de carreira é esse que exclui o próprio clube.

Estou falando da negociação do lateral esquerdo Cesar, que onze em cada dez analistas apontavam como titular da posição no time atual do Fluminense.

A notícia é que o plano de carreira para o César, de 20 anos, é uma venda para o Portimonense. O clube português comprou 70% dos direitos do atleta por preço desconhecido (haja transparência!), ficando o Fluminense com 30%, torcendo para que nos próximos quatro anos o jogador seja revendido.

Outro lateral-esquerdo, Mascarenhas, está emprestado ao Vitória de Guimarães, que tem opção de compra pela bagatela de 1 milhão de euros.