Desculpe-me o mau jeito (por João Leonardo Medeiros)

CristóvãoQuerido Cristóvão,

Sou seu fã declarado desde os tempos em que comandavas a nau de nosso rival luso. Defendia, entre amigos, tua contratação desde então. Sei que fostes vice-campeão brasileiro com um elenco limitado e que brilhastes na Copa do Brasil, que escapou por pouco. Sei que fizestes boas campanhas em outros clubes. Sei que sabes de futebol, estou também encantado com as atuações do meu tricolor sob teu comando, percebo bem o papel essencial que tivestes ao pacificar um Clube (Clube e torcida, acrescento) em guerra com as pombas brancas da bola bem jogada.

Começo com elogios para, como normalmente ocorre, pontuar com uma consideração crítica. Não quero que os leitores me entendam errado: não estou aqui fazendo campanha do para derrubar-te, Cristóvão. Não sou louco, não estou cego para a revolução que implantastes em tão pouco tempo nas Laranjeiras. Mas – e agora chego aos finalmentes – errastes muito no último sábado, na partida contra o fraquíssimo Coritiba. Na minha opinião, errastes demais e, temo, este tropeço nos custará caro ao final do campeonato.

Todo mundo sabe que o Flu entrou em campo pressionado pela necessidade da vitória e que encontrou um adversário fechadinho, baixando o pau sob a complacência de um juiz para lá de suspeito. Todo mundo abriu o olho com a gente e agora sabem como jogamos. Estamos marcados, Cristóvão, e estaremos até o fim de tua Era no Clube (que, espero, seja longa). O erro começa aí: ficou claro, nos primeiros minutos, que a gente precisava de algo diferente e nem o gol (já injusto ali mesmo, porque o adversário era melhor, confessemos) foi capaz de superar esta impressão.

O pior estava por vir, no entanto. Não falo do resultado apenas. Não falo do fato de o Fluminense ter tido uma atuação pífia no segundo tempo. Falo de outras três coisas. Primeiro: Cavalieri saiu todos os tiros de meta (menos um) com chutões. Um absurdo para quem tem um meio-campo que se propõe a jogar. Não entendi, lembrou-me o time do ano passado e fiquei com vergonha. Segundo: o time recuou para segurar o resultado de 1×0 em casa. Isso ficou claro. Dispensa dizer que isso também é vexatório.

Reservo um parágrafo para o terceiro problema. Cristóvão, meu querido, com todo respeito que te devo e não é pouco, nem insincero: quem tem Fred, Diguinho e Walter no banco simplesmente não pode preferir Chiquinho e Edson. As substituições foram uma tragédia, empurraram nosso time para trás e acabaram com a qualidade técnica do meio, pois Jean foi para a lateral-direita e Conca foi jogar de centroavante (!), deixando o meio para Valência, Edson, Chiquinho e Wagner. Em particular: nenhuma explicação tática me convence de que Chiquinho deveria entrar e Fred não. Por que não mudar para um 4-4-2 basiquinho e surpreender o adversário?

Poderia desdobrar o argumento recordando que, com a entrada de Fabrício, Elivélton teve de ser deslocado, o que conformou uma dupla substituição (entrou um jogador, mas mexemos em duas posições), exatamente como fizera Felipão na tragédia da Copa. Para fazer uma dupla substituição, não podia ali ter botado o Edson no lugar do Valência e deslocado o colombiano para a zaga? Nos pouparia de ver o Fabrício entregando a rapadura, como fizera por diversas vezes.

Enfim, foi, de fato, um dia infeliz, como disse nosso patrimônio tricolor, Caldeira. Mas creio que a maior infelicidade foi tua, Cristóvão querido. Não me furto a expressar aqui, com toda educação, minha diferença de opinião. Porque tu és um grande treinador, um grande profissional e, pelo que parece, uma grande pessoa. Mas não és maior que o Fluminense. Se teu erro prejudica o Flu, cabe-nos, tricolores, assinalar, para não passar a impressão de que nada ocorreu.

Com isso, creio, não te prejudicamos, pois, se de fato és um grande treinador (como creio que seja), erros como os de sábado não se repetirão com frequência. E assim, quem sabe, voltamos a aspirar a taça ao final. Porque agora, pelo menos agora, ela ficou bem distante.

***

Por favor, esqueçam Wellington Nem ou outro atacante de velocidade que pese no bolso do clube. Agora, precisamos de um zagueiro, urgentemente, para o lugar do Gum. Não foi uma torção, como pensou Andel, mas uma fratura de fíbula que tirou nosso guerreiro do campeonato. Se é para gastar agora, que seja num zagueiro de bom nível (Thiago Silva não dá, né?). Que nossos olheiros achem um menino veloz e bom de bola na várzea, em clubes pequenos, na segunda, terceira, quarta divisão para jogar de atacante de velocidade. Não gastem grana nesta contratação, porque abriu um buraco na zaga e isso não se remedeia com Fabrício ou Elivélton.

Nota do editor: esta coluna foi editada para publicação às 12.05 desta segunda feira. A coluna de Paulo-Roberto Andel foi publicada à 1.00 de domingo. A informação sobre a fratura de Gum foi efetivamente confirmada somente a partir das 12 h de domingo pela Rádio Tupi, após exame do jogador. Nossas crônicas de jogo costumam ser produzidas no calor imediato das partidas e, por isso mesmo, podem não conter informações relevantes confirmadas/reveladas a posteriori. 

Panorama Tricolor

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Foto: esportes.terra

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