Descobrindo Albino (por Paulo-Roberto Andel)

Minha amiga Marô Sussekind merece um livro inteiro por conta de sua paixão pelo Fluminense, catapultada já em idade madura. Num belo dia de 2008, foi com os amigos para o Maracanã e, num súbito, a rara presença se tornou uma vocação tão avassaladora que se pode dizer sem errar: ela é a torcedora do Fluminense que mais viu de perto o time jogar no século XXI, isso em qualquer estádio brasileiro ou estrangeiro. Podem pesquisar a respeito, pois não há nada parecido: ela já viu o Flu em todos os buracos e furadas possíveis nos últimos 14 anos. E é justamente a amiga que me permitiu conhecer uma história saborosa.

Dia desses, conversávamos no WhatsApp quando Marô me perguntou a respeito de Albino, jogador tricolor que eu não conhecia, embora desconfiasse pelo nome. Um half, como diziam os jornais nos tempos dos grounds onde o referee era o senhor supremo. O zagueiro vem a ser antecessor de uma das amigas de Maria Clara, filha de Marô e irmã do nosso Raul aqui no PANORAMA.

Maria Clara – Clique aqui.

Contemporâneo de Preguinho, Albino jogou pelo Fluminense entre 1926 e 1933, uma época difícil para o clube pela escassez de títulos, portanto pouco falada ; contudo, isso não o impediu de ser um ídolo, requisitado e citado em diversos jornais, justamente num período em que o futebol começava a se distanciar do amadorismo e caminhava para a era profissional. Pelo Flu, conquistou o Torneio Início de 1927, ano que ficou marcado no football carioca pela famosa história da Taça Salutaris, assunto que fica para outra ocasião. E também defendeu o Tricolor em provas de atletismo.

Na mesma época em que Albino se destacava na defesa tricolor, seu irmão surgia para a posteridade da música popular brasileira: Custódio Mesquita, inicialmente baterista e a seguir considerado um dos gênios da composição no piano, integrante de uma linhagem onde constam Ernesto Nazareth, Ari Barroso (ok, rubro-negro) e Antônio Carlos Jobim (sempre Flu). Custódio, que pertenceu ao grupo de escoteiros que se reunia no Fluminense quando criança, teve como um de seus grandes parceiros musicais Mário Lago, um dos símbolos da dramaturgia brasileira e, claro, torcedor apaixonadíssimo do Fluminense, assim como seu filho Mário Lago Filho, parceiro de Didu Nogueira, prócer do samba e também colaborador do PANORAMA (somente para partidas internacionais).

Já formado e trabalhando como procurador depois do futebol, Albino teve uma carreira de sucesso e chegou até a ser Secretário de Agricultura no governo de Negrão de Lima no Rio de Janeiro, de onde se mandou rapidamente por “não se adaptar ao gabinete” (no que mostrou prudência). Também foi secretário do PSD. Teve sete filhos com Dona Elza, e um deles acabou sendo não somente um escudo do Fluminense mas da vida cultural e boêmia carioca: o tricolorzaço Albino Pinheiro, fundador da Banda de Ipanema, do Projeto Seis e Meia e de tantas iniciativas que deram luz à arte no Rio. Que família!

Em meio a um Fluminense atual marcado pela mistura de arrogância e incompetência, cabe aqui o pleno agradecimento a Marô Sussekind por ajudar a achar a ponta do fio desse novelo, a jornada tão bacana de um ídolo de quase 90 anos atrás, mostrando que o Tricolor é um manancial de boas histórias que precisam ser resgatadas, divulgadas e publicadas.

Tenham um grande sábado.