Definitivamente, Telê não é Mário (por Paulo-Roberto Andel)

I

Aniversariante deste sábado (26), Telê Santana é uma página eterna da história do Fluminense. Super campeão pelo clube, incluindo o Mundial de 1952, ainda é um dos maiores artilheiros da história do Fluminense (sem ser centroavante). Seu nome está fincado ao lado de monumentos como Castilho, Píndaro, Pinheiro, Didi e Waldo.

II

Dezembro de 1979. Num Maracanã lotado, o Flamengo sonhava com o reconhecimento nacional que não tinha desde os anos 1960, quando germinou o sistema de campeonatos brasileiros. Jogava pelo empate diante do Palmeiras para chegar às semifinais do Brasileirão. Aconteceu que o Verdão deu-lhe uma paulada na bola que o Rubro-negro saiu de órbita. Uma partida espetacular, irretocável, Palmeiras 4 a 1. Um jogo tão impactante que, por alguns anos, acendeu as luzes da mudança no futebol nacional. O Palmeiras não foi campeão, mas o prestígio daquele jogo fez o novo treinador da Seleção Brasileira: Telê Santana. Por alguns anos, o Brasil recuperou a excelência em seu esporte maior.

III

Houve um tempo em que alguns chamavam Telê Santana de “pé frio” por causa das Copas de 1982 e 1986.

Algo tão constrangedor do ponto de vista intelectual que mais parece o medo da morte pela ingestão de manga com leite.

Antes de chegar à Seleção, Telê já era um treinador campeão no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Também era campeão brasileiro.

Depois de sofrer anos com certa estupidez popular, a última parte de sua carreira foi coberta por todos os títulos possíveis. Paulista, Brasileiro, duas Libertadores, dois Mundiais de Clubes. Com atraso, finalmente conseguiu o reconhecimento que merecia.

Muito antes disso tudo, Telê era um símbolo de sorte do Fluminense. Ele era o Fio de Esperança, magrinho, sempre pronto para desencantar num jogo difícil, levando o Tricolor à vitória com um passe ou gol.

IV

Quando declarar o time do coração era quase uma sentença de morte profissional, Telê Santana sempre afirmou seu amor pelo Fluminense. Sempre.

Hoje, o São Paulo celebra o nome de Telê Santana bem mais do que o Fluminense, fruto da estúpida política tricolor em desprezar o passado para enganar a torcida, sugerindo que os tricolores vivem a melhor época da história do clube. Outro constrangimento banhado em berço esplêndido da ignorância.

Telê sempre demonstrou amor pelo clube publicamente. Nele, foi campeão mundial e artilheiro – lembremos que boa parte de sua carreira no campo foi ao lado de Waldo, o protagonista da artilharia tricolor em todos os tempos. Depois, foi campeão como treinador em um dos maiores títulos do Fluminense, o Carioca de 1969. Lutou pelos direitos dos jogadores. Foi um exemplo de dignidade e respeito à grandeza do futebol brasileiro, fazendo seus times jogarem de acordo com a nossa tradição.

Telê faz parte da história vitoriosa do Fluminense. É impossível imaginá-lo celebrando a saída de um ídolo do clube como se fosse algo simplório, ou ainda relativizando que o Flu tenha ou não a obrigação de conquistar títulos – logo ele, que ganhou no campo – e não com prugurunduns do vestiário.

Difícil crer que Telê aceitaria o abandono do Estádio Manoel Schwartz, agora servindo de piso vulgar para micaretas que nada têm a ver com a história tricolor, mas que significam fartura financeira para terceiros.

E vigiar críticos do popô com câmeras?

Definitivamente, Telê Santana não é Mário, e isso é bom demais.