Daniel e o enigma Marcão (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, o jogo de ontem teve dois personagens centrais: Daniel e Marcão. Daniel retornou ao time titular depois de ter sido barrado por Oswaldo de Oliveira. Marcão voltou a comandar o time, como acontecera na primeira partida das quartas de final da Copa Sul-Americana, contra o Corinthians.

A vitória sobre o Grêmio deve ser atribuída a um conjunto de fatores. Nossa equipe voltou a construir jogadas ofensivas, principalmente pelo lado esquerdo. Muriel está em grande fase e a arbitragem virou a casaca de vez. Fico, inclusive, inclinado a acreditar que algo aconteceu nos bastidores.

No jogo de ontem, tivemos dois lances em que, em outras épocas, o árbitro apontaria a marca da cal sem piscar os olhos, recebendo adesão inarredável do VAR. Pois ontem não houve VAR que convencesse o árbitro a marcar pênalti contra o Fluminense, ainda que tenham sido lances interpretativos, não tanto quanto aquele sofrido por João Pedro.

O que melhor explica o Fluminense fora do Z-4 é exatamente essa mudança de mentalidade das arbitragens com relação ao clube. Mas temos que dar todo crédito ao Gravatinha e ao Muriel, que vêm fazendo grandes atuações. Quem tem goleiro e sorte ganha até campeonato.

Devemos ressaltar que o Fluminense já se apresentara dignamente diante do Santos. Dignidade, no entanto, não é tudo de que precisamos. O Santos de quarta-feira parecia uma peneira em seu setor defensivo e, mesmo assim, precisamos de Muriel. Ontem, ao contrário, foi mais a falta de pontaria dos gremistas que a grande atuação de nosso goleiro.

A diferença de quarta para ontem foi que ontem houve equilíbrio na criação de oportunidades, ao contrário do que ocorreu contra o Santos, quando nosso gol só saiu graças a uma obra prima do Gravatinha, que foi aquele golaço contra marcado pelo santista.

Vale ressaltar que os titulares do Santos são melhores que os reservas do Grêmio. Sendo assim, não há razões para euforia. Nossas atuações nos credenciam, no máximo, a uma fuga do rebaixamento com alguma antecedência em relação às últimas rodadas.

Marcão abriu caminho para a vitória com três medidas:

  • escalou Daniel, que é o melhor jogador do Fluminense na atualidade;
  • adotou marcação em bloco baixo, tentando evitar espaços para as rápidas e envolventes trocas de passes do Grêmio;
  • resgatou traços do modelo de jogo de Fernando Diniz, deixando o time mais à vontade em campo.

O Fluminense começou o jogo tentando sair com a bola dominada de seu campo de defesa, mas as trocas de passes não eram precisas e Ganso quase deu um gol para o Grêmio numa jogada de pura displicência. Aliás, Ganso esteve mal ontem. A braçadeira de capitão não parece ter-lhe feito bem.

Quem comandou o time no primeiro tempo foi Daniel, que restaurou o dinamismo do nosso meio de campo, acelerou o jogo nos momentos certos e iniciou a jogada do primeiro gol, acionando Yony nas costas da zaga. Aliás, Yony, com Daniel em campo, subiu muito de produção em relação às últimas partidas. Foram dele as duas assistências para gol.

Nenê marcou o primeiro gol, mas voltou a errar em demasia. João Pedro voltou a se movimentar muito e a ser uma das principais peças da engrenagem tricolor.

Ver o Fluminense tentando resgatar o futebol jogado com Fernando Diniz é muito animador, mas a própria exibição de ontem mostrou que precisaremos fazer uma boa caminhada para recuperar aquele nível de apresentações.

Eu, se sou dirigente, deixaria Marcão treinando o time mais uma semana para ver o desempenho contra o Botafogo. Havendo evolução dentro do modelo, inclusive com uma marcação um pouco mais adiantada, manteria o mesmo no comando.

Só tem uma questão que incomoda numa possível permanência de Marcão no comando técnico. O peso político de sua contratação pode significar interferência direta de Celso Barros na escalação da equipe, o que caracterizaria uma gestão amadora das quatro linhas, algo imperdoável nos dias atuais.

Tirando esse pormenor, a questão é saber se Marcão é capaz de resgatar a metodologia de treinamento de Fernando Diniz, pois é ela a responsável por tudo de positivo que ainda conseguimos ver nesse time. Não basta apenas colocar os jogadores para atuarem próximos, tentando valorizar a posse de bola e reduzir os espaços do adversário sem ela. Isso requer metodologia de treinamento, com foco no cognitivo e na periodização tática, ou nós veremos aquelas trapalhadas de ontem se reproduzirem.

O simples retorno de Daniel ao time titular já é uma mensagem clara de que o pessoal que anda tendo ejaculação precoce com a perspectiva de rebaixamento do Fluminense pode terminar o ano em estado de grande frustração.

Quanto a nós, tricolores, quem sabe Marcão não nos surpreende? Continuo afirmando que nosso elenco tem muitas qualidades. Com a perda de Pedro e de Matheus Ferraz, parece-me inconcebível pensar em algo mais que uma confortável água de salsicha, que é aquele lugar na tabela em que nada acontece. Por outro lado, com um técnico que treine o time corretamente e que escale sem invenções o Fluminense tem time e elenco para terminar a temporada com toda tranquilidade do mundo.

Talvez a nossa maior ambição esse ano seja voltar a jogar um futebol capaz de resgatar a torcida para as arquibancadas do Maracanã. Quanto ao futuro, vamos ter que falar sobre isso em outra ocasião.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

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