Cruyff e o Flu (por Felipe Fleury)

felipe fleury green 2016

O mundo deu adeus a Johan Cruyff, um dos maiores jogadores do futebol mundial, ícone do carrossel holandês de 1974 e ídolo como atleta e treinador no Ajax e no Barcelona. Sem dúvida, um dos maiores pensadores do futebol moderno.

Com a morte de Cruyff, morre também um pouco do futebol, daquele futebol romântico, mas não menos moderno e eficiente, que já vem morrendo aos poucos ao longo dos últimos anos pelas bandas de cá.

Mas o que tem Johan Cruyff com o Fluminense?

FB_IMG_14589425519658352

Segundo o blog de Mário Magalhães, no UOL, o craque holandês, que ainda jogador de futebol, atuava como comentarista esportivo durante a Copa de 1982, oportunidade em que entrevistou Telê Santana. O mestre tricolor ouviu do holandês queixas sobre o exercício da profissão de treinador em seu país, que exigia diplomas e certificados. Era desejo de Cruyff, após pendurar as chuteiras, exercer a profissão de técnico de futebol.

Telê, que sempre teve em seu coração o Fluminense, diante daquela pérola em busca de emprego, tratou de providenciar que o craque iniciasse no Clube das Laranjeiras a nova carreira.

Algumas tratativas foram feitas com os cartolas tricolores de então, mas não houve acordo quanto às bases salariais, inferiores ao que pretendia Cruyff. Soube-se, posteriormente, que por detalhes o acordo não foi fechado. Mas e se tivesse sido?

Imagino o quanto poderia ter sido importante para o futebol brasileiro – e nesse momento é preciso pensar mais do que no próprio Fluminense – se o holandês tivesse aportado em terras brasileiras para comandar o escrete tricolor.

Provavelmente seu conceito tático de jogo ofensivo, incisivo, vistoso e eficiente, que pregava a polivalência dos jogadores dentro de campo, posse de bola e domínio avassalador sobre os adversários e que mais tarde foi aplicado com sucesso no Ajax e no Barcelona, pudesse ter revolucionado o futebol brasileiro.

Talvez o 7 a 1 pudesse ter sido evitado, talvez seus conceitos influenciassem gerações de treinadores, talvez não tivéssemos que conviver com Drubscks, Endersons, Baptistas, Cristóvãos e muitos outros impostores.

Infelizmente Cruyff não veio. Foi ser treinador do Ajax em 1986 e depois no Barcelona, de 1988 a 1996, criou a filosofia que nos encanta até hoje e que tornou o time catalão um dos mais vitoriosos do mundo.

O Fluminense não foi o laboratório da sua arte por pouco. Perdemos todos os brasileiros amantes do futebol.

Mas a vida por aqui seguiu sem o holandês e o sonho da laranja mecânica tupiniquim morreu naquela já distante década de 1980. De lá para cá temos assistido de camarote ao futebol europeu sobrepujar o nosso, preço que se paga pela acomodação de quem um dia já teve o status de melhor futebol do mundo, mas jamais buscou a necessária evolução.

O futebol brasileiro estagnou-se no tempo e perdeu-se na vaidade, orgulho e corrupção de seus dirigentes.

Quanto ao Fluminense, não formou seu carrossel, mas sobreviveu às intempéries do futebol, inclusive com cinco títulos nacionais, e à sua própria incompetência que, em certos momentos, quase o levou à ruína.

Águas passadas, porém, não movem o moinho.

Hoje temos Levir, a quem minimamente devemos um sentido de organização – numa equipe vilipendiada por tanto tempo de descaso – e a classificação para a disputa da final da primeira liga Rio-Sul-Minas. Muito ainda será feito. O caos leva tempo para ser corrigido e Levir, paulatinamente, encontrará um padrão para o Flu.

Uma nova história precisa ser contada e o ano, que parecia fadado ao insucesso, nos concede a esperança de sonhar com dias melhores. Então sonhemos.

Descanse em paz, Johan Cruyff.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @FFleury

Imagem: ff