O comportamento do cidadão em um estádio (por Zeh Augusto Catalano)

Semana passada, todos vimos as cenas lamentáveis protagonizadas por elementos da torcida do Grêmio ao ofender o goleiro Aranha, do Santos.

Fui pela primeira vez ao Maracanã com seis ou sete anos de idade, levado por um tio botafoguense, num jogo noturno contra o Fluminense. Fui, sem saber, ver a Máquina jogar. O Botafogo levou uma tunda, sendo goleado por 5 a 1. Lembro que, no final do jogo, na torcida do Botafogo, o folclórico Russão inclusive, se encaminhou exatamente para onde estávamos, atrás do banco do Botafogo e começou a gritar:

– Fora Joel! Fora Joel! (o técnico de então)

E, pra minha completa surpresa:

– Filho da puta! Filho da Puta!

Na minha casa não se falava sequer um “merda”. Um merdinha qualquer e o pau comia. Então, pra mim, um garoto de seis anos, aquilo era uma coisa inacreditável.

Tempos depois, conversando com meu pai, veio a história de que o sistema de som do Maracanã, nos anos 60, pedia que o torcedor não falasse palavrão, pois poderia haver uma senhora ou crianças ao seu lado. Era o começo do que vemos hoje em dia nos estádios.

Sábado passado o Vasco escreveu (mais) uma página vergonhosa de sua história em São Januário, sendo goleado por 5 a 0 pelo poderosíssimo Avaí de Santa Catarina. Elementos da torcida conseguiram piorar a situação. Amigo meu, cara pacífico, partidário de Julio Brant, principal candidato de oposição, foi surrado na saída de São Januário por motivos eleitorais. Por estar vestindo a camisa do candidato. Só foi salvo de mal maior porque a PM interveio.

A era do politicamente correto é muito chata. Espécie de patrulhamento ideológico que vai te cerceando as liberdades pouco a pouco. Mas a distância entre o deboche, a molecagem e o ódio é muito tênue.

Os cariocas que iam ao Maracanã anos atrás se acostumaram a lembrar o goleiro Julio César, então Flamengo, do antigo relacionamento de sua mulher, Suzana Werner, com Ronaldinho. Um deboche. Uma molecagem. Forma de desestabilizar o jogador. Xingar o goleiro adversário é coisa corriqueira. E não dá pra imaginar que se passe a jogar flores para o time de fora.

Mas isso é muito diferente de ódio puro e destilado, como no caso do goleiro Aranha. Os berros de “macaco” da torcedora e os gestos imitando macaco da torcida não são deboche, brincadeira. E têm de ser combatidos. Num time no qual Tarciso foi ídolo, no qual até bem pouco tempo Dida agarrava, chamar Aranha de macaco sequer faz sentido.

Punir o clube? SIM! Só doendo em toda a torcida e jogando a própria torcida contra essa gente é que se conseguirá resolver esse problema. O Vasco perdeu dez mandos de campo porque num jogo fora de casa a torcida se defendeu da agressão alheia.

E o Grêmio? Nada?

abraços

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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