Clássicos, apelidos, horários e venda de produtos (por Zeh Augusto Catalano)

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Sou do tempo em que o clássico era o grande destaque do fim de semana. Do tempo em que o jornal era todo preto e branco. Lá pelos anos 80, às segundas-feiras, era normal que apenas uma das fotos fosse colorida: a do clássico. Pouco importava se esse tivesse sido uma pelada horrorosa ou um grande jogo. Era valorizado e tinha glamour.

Parênteses acerca do glamour: sempre tivemos jogadores com apelidos engraçados, fazendo alusão à sua capacidade de marcar gols dentro ou fora das quatro linhas. Eis que hoje temos um “brocador”. Não sou puritano. Mas tenho de contar que minha mãe, com seus cerca de 70 anos, me perguntou a origem do apelido. E, claro, fez as cruzes ao entender do que se tratava. É grosso, baixo, de péssimo gosto. E olha, não digo por causa do time em que joga. Podia ser no Vasco. Na seleção do Vaticano. Ia continuar sendo tétrico.

Voltando ao clássico, que era a grande atração da tarde de domingo, este nem mais à tarde é. Se já era ruim o horário de 18:30, agora impõem aos torcedores o descabido horário de 19:30h para uma partida no domingo. O sujeito sai do Maracanã às 10 da noite. Esvazia-se a transmissão, pois o jogo não é mostrado ao vivo em tv aberta. Esvazia-se o público, porque o horário é insalubre. Esvazia-se o estádio com preços aviltantes. Esvazia-se os clubes. Esvazia-se o futebol.

Voltemos aos jornais. Papel. Um jantar pode ter vários pratos. Mas há um principal. Quando alguém pergunta: o que você jantou? Um filé! Tinha uma entradinha ótima. A entradinha tava uma delícia. Patezinho fino. Vinho maravilhoso. Mas a resposta mesmo é “o filé”. Então o que leva o jornal a trocar o filé pela entradinha? O filé deve ser horroroso e a entradinha uma maravilha.

Mas se eu estou servindo um jantar – entrada, prato principal e sobremesa  – por que eu mesmo iria depreciar meu prato principal?

“Aproveita pra comer essa entradinha porque ela é maravilhosa.”

Uma possibilidade é a de que eu esteja abrindo uma fábrica de pastinhas. A entradinha é minha. Eu faço. Pretendo ganhar muito dinheiro com ela. Então, pouco importa o filé. Qualquer frango assado de padaria serve. Aliás, o filé importa sim. Quanto pior for o prato principal, melhor, pois vai exaltar mais ainda os sabores maravilhosos da minha pastinha. Comprem!

Pobres dos donos das casas de carnes. Não terão chance. O povo vai comer é pastinha.

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E o caso Portuguesa fede mais e mais…

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Foto: reprodução

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