Chiquinho Zanzibar e as mensagens de amor (por Alva Benigno)

 

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CONTÉM LINGUAGEM FORTE

UM E-MAIL AMEAÇADOR COM TIPOGRAFIA DE MÁQUINA DE ESCREVER

Happybath poderia ter preparado a própria corda para seu enforcamento, depois de ter mandado um e-mail suspeito para Chiquinho Zanzibar:
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Política do club? Desavenças sexuais? Ciúmes homoafetivos? Desacordos por negócios suspeitos de um passado recente?

Chiquinho ficou uma fera com a mensagem eletrônica. Cuspiu fogo e se sentiu Madame Satã no auge da fúria.

Imediatamente ligou para Filhão, querendo rastrear o envio do e-mail, desconfiando de que fosse um texto fake enviado por algum blogueiro comunista. Cogitou o nome de Paulo Andel mas foi imediatamente rechaçado: “Esse ai quer ver o Happybath com dez tiros de fuzil no peito”. E se fosse Antonio Gonzalez, o portentoso lutador careca de medidas generosas? “Tá louco? Era mais fácil aquele maluco tê-lo coberto de porrada”. E o tal do Fagner? “Esse é comunista mas tá isento”.

Chiquinho pensou com seus botões bregas e suspirou para si mesmo: “Tem roupa na corda”, a expressão clássica que o grande cantor Mário Reis utilizava em suas incursões no Country Club, quando percebia que alguém de fora estava prestando atenção indevidamente em sua conversa. Traduzindo: a presença de um “alemão” na parada, levando e trazendo informações importantes sobre os acordos políticos e o mainstream homoafetivo das três cores da sauna.

E falou grosso: “Eu vou mandar um bilhete pra esse merda. Quem ele tá pensando que é? Eu criei esse bostinha à minha imagem e semelhança, iniciei ele, era um molequinho de recados e agora quer cantar de galo comigo? Ele que vá tomar no cu com sal grosso. Espera só, depois te chamo”.

Desligou e partiu para o notebook na sala de estar. A resposta foi vigorosa, também em fonte de máquina de forma, como se quisesse confundir o interlocutor:

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Duas horas depois do chilique de Chiquinho, o telefone tocou:

“Zanzee, me desculpe. Eu estou muito nervoso, é muita pressão, esse negócio de política do clube é foda. Me desculpe mesmo. Se quiser conversar logo mais, tem acordo. Você para mim é um tio, um padrinho, um irmão e sabe disso. Você é um pau para toda obra”.

Menos alterado, o transviado de cabelo acaju acendeu o cachimbo da paz:

“Vamos combinar o lugar do encontro mais tarde no Whats, somente eu e você. Sem gracinhas, minha loka, meu benino de ouro. Me chama às sete da noite e partimos. Hoje é um dia bom, porque vai ter evento no clube, muita gente, não vão reparar a nossa ausência”.

Com o ok de HB, se sentiu um Batman, desligou e telefonou para seu pupilo Filhão, o verdadeiro Robin de Pecadópolis:

“Eu vou encontrar esse infeliz logo mais. Quer que mande algum recado?”

“Fala pra ele o de sempre: se quiser, tem sempre um acordo”.

O velho Francisco da Zanzibar y Zanzibar não titubeou:

“Sua bicha safada! Kkkkkkkkkkkkkkkkkk!”

“Quer que eu vá também, beninão?”

“Nada disso. Não sou desses que fazem ménage com qualquer um, sua danada!”

Terminada a conversa, CZ voltou para o notebook. Foi ao YouTube e escolheu uma canção romântica, pensando na reunião que viria mais tarde, enquanto pegava um scotch no bar de sua sala e refletia. Cada segundo de espera no aplicativo Whatsapp rendia uma década de emoções.

“Estou perdido na noite de muitos/ Sempre à procura da mesma ilusão/ Estou perdido na noite e sozinho/ Pelos caminhos sombrios/ Eu vou/ Estou perdido como tantos perdidos/ Que nao se encontram sem saber a razão/ E como tantos perdidos/ Eu sei que é necessário encontrar alguém.” 

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Panorama Tricolor

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Imagem: zan