Cem mil maníacos (por Felipe Fleury)

Cem mil sócios-torcedores salvarão o Fluminense. Metade disso, nas condições atuais, com as verbas de patrocínios da Adidas e Viton 44, receitas de bilheterias, direito de transmissão, vendas de jogadores, exploração da marca já seria suficiente, estando as dívidas equacionadas, para dar uma tranquilidade financeira ao clube. Mas, cem mil – cerca de três milhões mensais, ou trinta e seis milhões anuais, traria a almejada autossuficiência, ou seja o Fluminense não dependeria de nenhum patrocínio-master, além do patrocínio de seu próprio torcedor, para se manter. E com sobras.

O sonho de se ter a torcida como maior investidora do clube não é uma utopia, mas é preciso que se conheça o seu perfil para que o produto seja definitivamente adquirido, uma vez que a volubilidade é a marca principal do torcedor, de qualquer torcedor brasileiro, e não apenas do tricolor.

Quem nunca ouviu alguém dizer, após alguns maus resultados da equipe, que deixaria de ser sócio? “Não vou dar dinheiro para esse clube que só faz vergonha!” talvez seja uma das exclamações mais lidas e ouvidas após uma sequência de derrotas. O torcedor é volúvel e essa volubilidade não se coaduna com a fidelidade que se exige de um sócio-torcedor, sobretudo quando o destino do clube está nas mãos do dinheiro que ele investe mensalmente.

E o que seria preciso fazer para fidelizar esse torcedor? De antemão aviso que não sou expert no assunto. Sou, como tantos outros, apenas um torcedor apaixonado pelo Fluminense que passa os dias tentando encontrar uma solução para os problemas do clube. Aliás, problemas que deveriam estar sendo pensados e discutidos pelo próprio clube através de seu Departamento de Marketing.

Abro aqui um parêntese para repudiar a ideia, recentemente veiculada pela imprensa, de que o projeto sócio-torcedor poderá ser terceirizado. Essa transferência de responsabilidade, a meu ver, representaria o reconhecimento da inépcia do Marketing tricolor em alavancar o número de sócios-torcedores e um risco concreto de transferir a terceiros dados de torcedores aptos a participar das eleições presidenciais do clube. Sem falar, é claro, nos custos do processo, valores estes que poderiam reverter integralmente para o Fluminense e seriam fatiados com uma empresa que, por óbvio, objetiva o lucro. Lucro que, definitivamente, não combina com paixão de torcedor.

Trata-se de uma decisão polêmica e que deverá ser debatida previamente com os setores interessados do clube (sócios e conselheiros) a fim de que se dê à mesma transparência necessária, evitando-se, assim, prejuízos ao Fluminense e aos seus sócios.

Fecho o parêntese.

E o que seria preciso para fidelizar o torcedor tricolor? Digo fidelizar; não somente associar. O torcedor deve ser fiel ao projeto, porque a sua instabilidade não pode ser fator de desequilíbrio das finanças do clube. Nesse ponto é preciso distinguir dois tipos específicos de tricolores que potencialmente se associariam ao clube: o primeiro é aquele que deseja vantagens em contrapartida ao dinheiro que sai de seu bolso; o segundo é aquele que contribui somente por amor e não deseja nada em troca. Evidentemente, o primeiro grupo é exponencialmente maior e é nele que as projeções do Marketing devem focar, sem, é claro, desconsiderar o segundo grupo; o primeiro é volúvel, o segundo, consciente, não. A partir dessa fotografia inicial dos potenciais sócios-torcedores, pode-se trabalhar com eficiência na busca dos cem mil.

Os benefícios oferecidos pelo programa, como descontos em produtos, vantagens na compra de ingressos – prioridade e preços reduzidos – possibilidade de votar nas eleições presidenciais após dois anos, acesso a áreas específicas do clube etc, são, afora os reduzidos descontos em bens de consumo, relacionados ao futebol tricolor e, portanto, não vinculativos, ou seja, se o futebol vai mal não serão as benesses a ele relacionadas que fidelizarão o torcedor como associado. Nessa toada, se o time desmorona dentro de campo, a associação fracassa fora dele.

Portanto, para fidelizar esse primeiro grupo é preciso mais, algo que o mantenha vinculado ao clube por outros motivos que não apenas o futebol. Dinheiro, leia-se sorteio de quantias mensais entre os sócios e descontos relevantes em produtos com a marca tricolor, é uma boa alternativa. O Internacional, por exemplo, possui mais de 126 mil sócios torcedores, quarenta mil a mais do que o seu rival Grêmio, e aplica diversos pacotes de associação a preços reduzidos, inversamente proporcionais à distância da residência do associado da sede do clube, no Estádio Beira-Rio. Além disso, como forma de devolver ao sócio colorado parte do que ele investe nas mensalidades, também oferece um produto denominado Fidelidade Premiada. Trata-se de uma promoção lastreada em títulos de capitalização que distribui, no mínimo, R$ 4 mil por mês entre os sócios adimplentes, R$1 mil reais por sábado.

Não seria irrazoável sugerir, também, o sorteio de um automóvel ao fim de cada temporada. São prêmios que não onerariam o clube e retribuiriam a fidelidade do torcedor, mantendo-os, por conseguinte associados independentemente das intempéries da equipe durante o ano. Não é preciso terceirizar o projeto para se pensar algo assim; é preciso pensar e trabalhar.

Por outro lado, também é necessário incutir no torcedor que ele não será um mero contribuinte. Será um investidor e a sua contribuição mensal reverterá integralmente, sem intermediários, para o pagamento de jogadores, comissão técnica e funcionários, dando-se, assim, um viés de investimento à sua contribuição. O torcedor pagará para ver o Fluminense forte e ainda terá direito às demais vantagens do projeto. Ganhará em dobro!

Hoje temos pouco mais de 23 mil sócios-torcedores, em 11º. lugar do ranking de sócios-torcedores, número bem aquém do potencial do Fluminense. Neste número estamos, em grande parte, todos aqueles que contribuem por amor; falta, contudo, abarcar o grande filão, o tricolor volúvel. Este fará a diferença e a sua fidelização será fundamental para o sucesso do empreendimento e para a autossuficiência do clube. Para tanto, será preciso dar-lhe um retorno maior em benefícios e, principalmente, mostrar-lhe que os recursos que investe serão aplicados integralmente em benefício do clube.

O Fluminense pode alcançar a autossuficiência. Não é uma quimera; é um sonho possível que se realizará quando o tricolor se conscientizar de que o seu investimento é uma ação de amor e de fé; amor incondicional pelo Fluminense e fé nos gestores que o administram – escolher o presidente do clube será, para o sócio-torcedor, estar representado no comando tricolor e acreditar na escolha realizada. Quando qualquer um dos dois faltar, nem mesmo prêmios milionários garantirão a permanência do sócio.

O Marketing sobrevive de ideias. Se pensarem um pouquinho encontrarão soluções bem melhores do que as apresentadas aqui. Basta pensar e trabalhar com afinco para o bem do Fluminense.

Panorama Tricolor

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