Celso Barros 2023 (por Paulo-Roberto Andel)

Dr. Celso está fazendo aniversário.

Nunca é demais aproveitar a ocasião para fazer registros históricos que nem todos carregam consigo, especialmente os mais jovens, ali pela faixa dos seus vinte anos. E mesmo nós, mais velhos, temos a obrigação de atualizar o que vemos pelo retrovisor, inclusive reparando ou tentando reparar erros cometidos.

Nos anos finais do século XX, a grande dúvida do Fluminense era saber se conseguiria chegar ao XXI. Destroçado, vilipendiado, ridicularizado, restava ao Tricolor a penumbra da Terceira Divisão. Algo muito difícil de acreditar e viver, mas aconteceu. Chegou até a ser cogitada uma fusão com o Bangu, acreditem. E então o Fluminense passou a ter o patrocínio da Unimed, na figura direta de seu presidente.

Um ano depois de ganhar a Série C, o Fluminense já era um dos favoritos à Copa João Havelange. Mais adiante, em 2001 e 2002, chegou às semifinais do Brasileiro com toda a dificuldade que isso significava.

PS: para os idiotas que insistem que o Fluminense “pague a Série B”, não houve Série B em 2000, e mesmo que houvesse, o Flu seria o principal favorito a conquistá-la. Mostrou isso nas campanhas acima mencionadas.

Em 2002, o Fluminense deu um salto ao ter Romário em sua camisa 11. Três anos depois da Série C, o Tricolor tinha um dos maiores jogadores de todos os tempos na equipe. A seguir, outros nomes de grande expressão como Edmundo, Ramon, Dodô, Washington, Fred, Deco, Belletti, Conca e outros que, mesmo quando não funcionaram em campanhas de título, engrandeceram o nome do clube para sempre. Em 2007 e 2008, o Fluminense recuperou o prestígio nacional com a Copa do Brasil e fez uma das mais lindas campanhas de um time brasileiro na história da Libertadores, maior até do que a de alguns campeões. O merecido título não veio, mas a história não pode ser apagada.

Até mesmo a incrível história de 2009, com o Fluminense desligando os aparelhos para, num súbito, não apenas se salvar mas partir para um grande título brasileiro, tem sentido quando pertence ao clube das Laranjeiras, acostumado que é a desafiar definições e prognósticos. Depois de 2010, dois grandes anos e o tetra brasileiro – aliás, em situação inédita na história tricolor, perfilando dois títulos nacionais em três anos, espetados por um terceiro lugar no meio.

Em todo esse tempo, Celso Barros não ocupou cargos diretivos no clube, mas era o presidente da patrocinadora tricolor.
Na verdade, acabou sendo maior do que muitos dirigentes e, sem sombra de dúvidas, é o maior personagem da política tricolor nos últimos 35 anos.

É preciso ser sincero, honesto e digno: se não fosse a ação direta do Dr. Celso, o Fluminense jamais teria tido aqueles jogadores e muito dificilmente teria conquistado três títulos nacionais. Se o dinheiro veio da Unimed, as ações foram dele. É difícil imaginar como teria sido o Flu sem aquele patrocínio, mas se olharmos para o futebol brasileiro, veremos algumas equipes tradicionais que entraram em decadência econômica e nunca mais se recuperaram.

Finalmente eleito, Celso Barros experimentou um processo de boicote inédito na história do clube – nos últimos anos o Flu passa por muitas situações inusitadas e inéditas -, mas isso não arranha um milímetro de sua trajetória já construída. Ela está invariavelmente ligada aos grandes momentos do Fluminense no século XXI – e não é à toa que, desde a saída da Unimed, o Fluminense conquistou apenas a efêmera Primeira Liga e o simpático Carioquinha 2022 – importante sim, mas infinitamente menor do que já foi.

O Fluminense tem outros nomes gigantescos e imortais em sua dirigência. Com Guinle, experimentou o gigantismo e a excelência. Com Laport e Fischel, a dignidade. Com Horta, a relevância mundial. Já Celso teve a mais árdua das missões: salvar o Fluminense da morte, da invalidez e do ocaso. Ao entrar no prédio em chamas e resgatar o Tricolor, ele entrou para a história do clube como uma liderança incontestável, das maiores. Os poucos momentos de alegria que temos vivido nos últimos anos são consequência direta de seu trabalho bem antes: não fosse isso, nem haveria quarto lugar em Brasileiro a ser comemorado, ou ida à Libertadores, porque simplesmente não haveria Fluminense – e foi exatamente esse o risco que corremos no fim do século passado: extinção.

Dr. Celso, feliz aniversário, parabéns e muito obrigado por tudo. A história não se apaga, queiram ou não.

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Aproveitando o momento, o Dr. Horta passou por breve indisposição e está internado sem gravidade, com expectativa de alta imediata. Já, já, está de volta com tudo.