Catorze anos (por Paulo-Roberto Andel)

O tempo. O Fluminense e o tempo.

Há exatos catorze anos, eu vivia uma noite tranquila e tinha acabado de lanchar um cachorro quente. Eu, meu pai e meu irmão. Esperávamos um grande jogo, Fluminense e São Paulo pela Libertadores, o Flu precisando de dois gols para se classificar às semifinais contra o tricampeão mundial.

Tínhamos passado uma semana divertida. O rival tomou uma chinelada em pleno Maracanã, comandada por Salvador Cabañas. Depois de um bom 2007, com direito a Copa do Brasil, o Fluminense mostrava autoridade na Libertadores.

Em casa, ainda nos adaptávamos à ausência de minha mãe, falecida há quase um ano e meio. Tinha apenas 61 anos, mas uma longa história de sofrimento.

Para meu pai, o jogo tinha sabor especial: ver a batalha de seus dois amores esportivos, o São Paulo da infância e o Fluminense da vida inteira. Mas não deu tempo: um infarto de menos de dois minutos o matou. E foi assim que, em meio ao meu desespero, o Fluminense partiu para conquistar uma das maiores vitórias de sua história.

A minha vida nunca mais foi a mesma depois daquela noite e provavelmente eu nunca mais me recuperei do período que vivi entre 2005 e 2008. Isso não me impediu de viver e construir coisas, assim como não preciso esconder aquela dor. Independentemente do chamado curso natural da vida, ser órfão é uma dor interminável em qualquer idade – para os mais jovens a dor é ainda pior, naturalmente.

Por motivos óbvios, só vi a reprise do jogo meses depois. A maravilhosa virada tricolor entrou para a história. Era o Fluminense, era outro Fluminense, era outro conceito de identidade e aceitação tricolor. No fim da Libertadores ainda tomaríamos uma bordoada, mas que não apaga aquela campanha maravilhosa. Não há como apagar.

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Passados tantos anos, continuo vivendo o paradoxo de 21 de maio, um dia tão grande para mim como torcedor e tão triste como filho. Mas reconheço que, diante do inevitável curso da vida, meu pai não podia ter tido melhor réquiem.

O Fluminense ainda iria bater muita cabeça pelos dois anos seguintes, até viver tempos gloriosos entre 2010 e 2012, um período muito significativo porque, depois dele, o que nos restou foi a efêmera Primeira Liga e o Carioca de abril passado. Nada mais.

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Catorze anos depois, o Fluminense é muito diferente em tudo.

As cobranças por títulos viraram comodismo e satisfação em posições medíocres. Ir para a pré-Libertadores virou um grande troféu. Cair dela para a Sul-americana, um prêmio. E quem não se alinhar a esse coquetel da insensatez é tudo, menos “tricolor de coração”, com todo o ridículo contido nesta sentença.

No meio desse verdadeiro circo, torcedores de gestão que, para se sentir senhores da razão, defendem e corroboram as maiores sandices travestidas de trabalho.

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Quando o Fluminense toma uma chicotada do Olímpia, ou fica por um fio na Sul-americana, não se trata de azar, mas de privilegiar um modelo fracassado que despreza os jogadores da base em troca de veteranos descompromissados, funcionando como se fosse uma mera agência de aluguel da camisa tricolor.

Não adianta ficar a cada quarta-feira e domingo catando vestígios de evolução que não se sustentam na semana seguinte, quando há problemas crônicos visíveis na equipe, oriundos de seu modelo de administração, para ao primeiro e provável insucesso ficar com cara de tacho.

FLUMINENSE: PROBABILIDADE E ESTATÍSTICAS

ESTATÍSTICAS E BRAVATAS

É preciso refletir a respeito e agir.