Casa de pedra e pau, nota oficial (por Alva Benigno)

george-michael-tricolor

A SERRA DO DESEJO

Do seu berço esplêndido verdamarelo CBF, Chiquinho Zanzibar acorda não apenas de falos erectus, mas com o fraldão todo ejaculado. A imensa poça no super preservativo representava o tesão de uma noite inesquecível, a qual fazia tempos que não curtia o justo sono dos anjos pornográficos. Pouco antes de dormir, soube, entre uma e outra brizola no espelhinho com motivos de safári, presente de um importante comerciante entendido e a ele chegadíssimo na era do Apartheid, que a mocréia loira corna não impediria a vitória de seu herói. A república da meritocracia, de bandido preto e latino bom é preso ou morto, da polícia que não dá mole pra pobre, finalmente tinha encontrado seu maior representante. Seu coração disparou quando viu o resultado final dos vermelhos do bem, tornando resplendoroso o mapa da alegria neoliberal. Colocou seus vinis de Barry White na vitrola, um homem de cor com voz de Sinatra, um barítono de ébano que, na primeira nota o fazia gozar ao som de “You’re the first, the last, my everything”. Meia garrafa do melhor uísque, com a melhor cocada boa, que há muito não se dava ao luxo de consumir, fizeram a mistura da autopremiação num ano que se anunciava como sendo um dos melhores de sua existência!

img_20161109_071619

Havia uma promessa a ser cumprida: ir ao salão de cabeleireiros, na Rua Belford Roxo, e pintar e cortar o cabelo igual ao de seu ídolo! Só um evento como esses, pelo qual rasgou as calças e feriu seus joelhos de tanto rezar na Igreja Santa Cruz dos Militares, e nas rodas de oração do Opus Dei, faria mudar seu cabelo de Acaju do Cerrado para Fogoió Conservador. Chiquinho estava se metamorfoseando numa espécie de Caco Antibes de Álvaro Chaves. Finalmente voltariam triunfantes ao poder máximo do centro do mundo o racismo, a misoginia, a meritocracia branca dos bem nascidos, a casa grande, a xenofobia, o neoliberalismo explícito do Estado mínimo que salva dívidas de banqueiros e grandes empresas; a predominância do mercado financeiro, a Ku Klux Klan, a limpeza social, a tolerância zero, a teoria da janela quebrada, e, quem sabe, a revogação dos direitos civis!

img_20161109_192847

Todo perfumoso, conseguiu hora ainda pela manhã com Silvinho Bofe, o coafér, com quem se acostumou a dar um tapa no visual e na branquinha de carreira. Estava radiante, pensando na sua aceitação para curso intensivo on-line de pastor, o que lhe credenciaria para participar diretamente da teocracia carioca que há dias havia sido inaugurada. Os contatos com as monas de igrejinha da cidade planejada já haviam sido feitos, afinal elas, todas elas, de família, claro, tinham muito medo do que os dossiês chiquínicos do pau cagado, dos tubos de esgoto, e das chuvas de meteoro e prata pudessem ocasionar. A prefeitura de sua cidade havia sido conquistada pelas urnas, uma coisa muito bacana e econômica, pensou Zanzibar: afinal, nem havia preciso dar um golpe para voltar à Idade Média, e nem bancar o machão além do estritamente necessário. Uma delícia…

Para que o ano de 2016 terminasse com chave de ouro, era necessário que a avassaladora onda chegasse ao seu ninho futebolístico. Fazia dias que o Dr. Happybath teria pedido que o ajudasse em sua milionária jornada pelo reino tricolor dos céus. O que sobrava de malandragem jurídica, lhe faltava nos recônditos das falésias eróticas do prazer sexual subterrâneo tricolor. Zanzibar teria lhe imposto algumas condições, na verdade uma poderosa agenda de merdificação tricolor: só contratar técnicos horríveis, que não entendessem nada de futebol e nem tivessem moral com o elenco e os funcionários; que ele, Zanzibar, pudesse observar todas as sessões de massagem, fisioterapia, no recanto de Capacetópolis com seus menudos proteges; os blogueiros vermelhos jamais voltariam a pisar em nenhum lugar oficial do clube; a sauna seria reformada, com projeto de seu arquiteto gostoso e jovial, no padrão #ZanzibarFeelings; o elenco não teria limites de número de jogadores coxudos para contratar, e nem seriam obrigados a treinar, desde que continuassem a lhe pagar seu levadinho mensal pelos gigantescos contratos assinados.

Não teve jeito: o príncipe teve que atender à PEC 2469 de Chiquinho Zanzibar, que havia conseguido com um amigo do grupo de estudos de Mein Kempf um espaço urgente para anunciar a campanha de seu sócio na vetusta revista Cegueira, de grande circulação na prefeitura do maior centro financeiro reconquistado pelos ricos e bem nascidos da América Latina.

Naquele dia, depois do salão, Happybath e seu choffeur buscariam Zanzibar para uma estratégica ida à cidade imperial. Era preciso conseguir adeptos, mais até do que simpatizantes, para que a urna favorecesse o golpe disfarçado. Chiquinho queria provar que quem mandava nas eleições, argh (!), cospe, rápido, álcool em gel na boca, socorro (!), era a tchurma da sauna dos horários alternativos, especiais. Tudo havia sido acertado com a juventude hitlerista, tudo para que Happybath conseguisse prosear com sua lábia de Don Juan da Vila Mimosa, daqueles que fazem a puta beijar na boca e dizer eu te amo, depois de afirmar que teria chegado ao seu ponto G. Era o que ele tinha de melhor! Recomendou um chegado ao amigo, dizendo que era preciso uma verdadeira dança das cadeiras. Enquanto isso, Chiquinho tinha um encontro misterioso, seu próprio circuito…

img_20161013_220835524

Um alfaiate havia sido recomendado por seu amigo Adolfenito, influente empresário local. Era o único que fazia as mais perfeitas réplicas, sob medida, dos uniformes da SS e da KKK. Estava planejando o dia em que, diante de enorme comoção, seria honrado com tais vestimentas diante da construção que salvou o Brasil da maior onda comunista da história do país! No atelier do Sr. Franz, um étnico de alma branca, imigrante do Congo, de mãos ásperas, mas gestos delicados, provou as vestimentas. As pernas bambearam. Sorveu um pouco de vinho da melhor vinícola sul africana, dessas fundadas nas terras dos Zulus, que purificaram uma parte do sofrido mundo de Cã, oferecido pelo melro costureiro.

Recomposto, caminhou com desdém por tudo e todos, ensimesmado nos pensamentos, desejos satisfeitos e a promessa do melhor réveillon de sua existência. Era preciso, primeiro, passar pela casa do inventor tricolor do babado, depois passar pela avenida mais nobre do lugar e ver a realeza passear em sua cavalgada, defecando e andando como um nobre deve fazer, sempre. Por último, no ápice do Caminho de Compostela do DOI-Codi, já no crepúsculo wagneriano serrano, postou-se diante da Mansão de Pedra. Lágrimas pelo rosto, imaginou como foi bom ter estado ali, como expectador do espetáculo da limpeza política da honra da Revolução Redentora da moral do povo brasileiro. Observou uma árvore frondosa, na qual poderia trocar de roupas, guardadas na discreta sacola de supermercado, à tira colo. Primeiro, SS. Colocou em seu IPhone das melhores canções dos meninos arianos e fez o símbolo do poder maior. Em seguida, a Klan. Como a rua estava deserta, colocou toda a roupa, parecendo um Gasparzinho do inferno. Ereto, não se conteve, se masturbou e a ejaculação não veio a demorar. Melou uma pobre árvore.

Tomou banho no clube local, onde já havia feito bons negócios nos anos 1970. Ao sair, deu as vestimentas para um mendigo e esperou o zap de Happy para lhe dizer onde deveria ser buscado. O carrão importado fumê antivisão da pobreza logo chegou, impetuoso, com o protogangster fumando um charuto e rindo de canto de olho. Tudo perfeito! Que dia! Dali saiu com a certeza de que o bem apessoado grisalho e o jovenzinho presunçoso teriam o mesmo fim da mocréia… Era questão de poucas semanas para o Fogoió rir por último!

the-communards-3

NOTA OFICIAL

Retornando a Copacabana, Chiquinho Zanzibar se sentiu tão importante que resolveu publicar uma nota oficial nas redes sociais, já tentando capitalizar politicamente no clube as decorrências do sufrágio estadunidense. Sentado na mesa de jantar, abriu seu notebook e se sentiu o blogayro Téo Pereira, personagem marcante de novela interpretado pelo grande ator Paulo Betti. E digitou:

“Eu, Francisco da Zanzibar Y Zanzibar, do only you do azul da estrela, conclamo a todos os tricolores que votem no candidato que represente a macheza, a pureza e a tricoloridade plena de quem veste essa camisa. Ela não é para qualquer um; é coisa de gente de bem, com berço e sobrenomes finos, importados. Nós somos a elite e devemos nos comportar como tal. Entendam: o meu Fluminense não é para gentinha. E antes que venham com mimimi, declaro que sou um digno representante desta elite tricolor. Nunca me aproveitei economicamente do clube; pelo contrário, trouxe excelentes beninos para o nosso convívio. São jogadores privados e respeitosos, que me deram muitas alegrias e a todos vocês também. Sou um tricolor apaixonado e trabalho 24 horas por dia em prol desse clube. Hoje é um grande dia para todos nós: Deus salvou a América e há de salvar o Fluminense do mal. Que todos os tricolores tenham toda a felicidade que eu tenho tido na sauna. Que todos um dia possam se vestir com um elegante robe grená. Que todos possam celebrar o fim desses bandidos que parecem ebós em nossos caminhos. Que a paz esteja convosco. Rumo à vitória! Renova, Fluminense: sauna para todos!

Que todos estejam em paz e que o amor adentre todos os corações.”

Apertou o publique-se e deu sua tradicional risada de crápula. Uma vez escroque, sempre escroque.

tiao-gaviao-green

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: blum