Caixas-pretas (por Zeh Augusto Catalano)

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Só se fala na caixa preta de um avião quando ele, infelizmente, se espatifa.

Em termos de gestão, se usa o mesmo termo. Só que a caixa preta é sinônimo de cofre. Ninguém sabe o que se passa dentro daquilo ali. As vezes nem mesmo as pessoas que trabalham na empresa, próximas do poder central. E, claro, em não havendo transparência, qualquer coisa vira verdade.

As informações de dentro dos clubes não chegam até a gente. Foi-se o tempo em que o que o jornal dizia refletia o que se passava de verdade nos bastidores. Hoje em dia, veículos de comunicação com equipes minúsculas potencializam o efeito das assessorias de imprensa dos clubes e de jogadores, que plantam à vontade nos veículos aquilo que querem ver divulgado.

A verdade? Se torna relativa.

Essa realidade facilita o trânsito de toda a sorte de sombras nos clubes. Empresários. Dirigentes remunerados. Eminências-pardas que, quando aparecem, é porque o avião ameaça cair. Se já não tiver caído.

Essas sombras contratam e vendem jogadores. Aliciam jogadores das divisões inferiores. Recebem comissões por contratações.

Influenciam no time que você vê em campo. Ou você acha que os onze jogadores que vão a campo são escolhidos por critério técnico apenas?

Antigamente, os jogadores pertenciam aos clubes. Hoje não mais. Pertencem a empresários. Grupos de investimentos. Novas caixas-pretas que agem sobre os clubes. De onde vem a grana? Pra onde vai? Qual a influência dessas pessoas (a parte visível delas) naquilo que vemos?

Domingo passado, Martin Silva, goleiro do Vasco, foi sacado do time no intervalo do jogo contra o Palmeiras. Cumpria uma atuação catastrófica, tomando três gols em 45 minutos. No final do jogo, Celso Roth fez o que se espera de sua personalidade: colocou a derrota na conta do goleiro. A resposta veio enriquecida de palavrões. O empresário do jogador (e de outros integrantes do elenco, dentre eles Julio dos Santos, esquecido pelo comandante) descascou o técnico via twitter.

Sabe o Cartola FC? Mais ou menos isso. Só que de verdade.

O empresário planta seus produtos em clubes espalhados Brasil afora. Gerencia seus “bens” e certamente exerce sua influência para que eles atuem nos clubes onde estão, e não fiquem encostados na reserva, ou pior, fora até do banco.

É inegável o ruído que isso deve causar nas estruturas das equipes. É claro que isso é a razão para que aquele pereba que está atuando no seu clube esteja sendo escalado, ao invés de dar lugar pro atual reserva, anos-luz à frente do titular.

Tudo isso embrulhado pra presente pela imprensa.

Como exemplo, as notícias vindas da Gávea fazem crer que lá está uma administração maravilhosa. Os blues, como os jornais e a flamengada os chamam, já teriam reduzido a dívida em muitos milhões de reais. Será verdade?

O Vasco, de Eurico Miranda, odiado pela mesma imprensa, exibe o quadro oposto. A cada dia uma nova tragédia se abate sobre o clube. Invenções? Duvido. Apenas interessa mostrar a realidade de São Januário.

E o Flu? Aparentemente vai muito bem. As notícias dão conta de que há uma grande adesão ao programa de sócios torcedores estimulada pela chegada (100%) do Ronaldinho. Os números divulgados são surpreendentes. Reais? Como comprovar?

Mas será que é isso mesmo que está acontecendo?

Será que temos empresários circulando pelas Laranjeiras? Quem são? Que jogadores possuem?

Infelizmente, enquanto isso não mudar, o que se vê em campo será uma espécie de peça de ficção que teimamos em acreditar ser real. Tudo visando o lucro. Não dos clubes, mas dos bolsos de uma meia-duzia.

Transparência é a palavra do futuro. Quem conseguir atingi-la primeiro, ganha.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: google

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