Brigadão, Arias (por Paulo-Roberto Andel)

Não gosto de despedidas. Aliás, as detesto. Só que elas fazem parte da vida e não há como fugir. Envelhecer é dizer adeus, o nunca mais tenta nos abraçar a toda hora.

Uma vez eu estava no Maracanã com meu pai, era a última partida do Fumanchu no Fluminense, isso foi em 1979. Me senti mal. Eu tinha onze anos. Lá se foi o tempo. Depois o Fumanchu passou pelo Flamengo. Fluminense, nunca mais. Era despedida mesmo. Fumanchu e Nunes jogaram menos de um ano pelo Fluminense, mas fizeram quase 100 gols em parceria. Ninguém lembra.

Bom, é o fim do caminho de Arias no Fluminense e um sentimento de vazio é inevitável. Nestes últimos anos ele foi o motor do time, a referência, a esperança. Com Cano formou um ataque arrebatador e o Flu encerrou não somente o jejum de títulos, mas também conseguiu a sonhada Libertadores. Outros jogadores foram muito importantes também nesse processo, mas Arias se distinguiu não apenas pelo talento, mas pelo jeito de agir e encarar as coisas.

Nunca reclamou de nada. Aceitou calado críticas injustas, para não dizer insanas. Sempre se dedicou ao máximo, sempre correu e lutou, assim colocando seu nome na calçada da fama tricolor. Teve um comportamento impecável. Aguentou até as barbeiragens tradicionais da diretoria e de treinadores. Nunca deu um pio. Suas respostas foram em campo.

O vazio é por isso tudo, não que Arias não mereça ir para o exterior. É que é tão difícil ter um ídolo de verdade que nosso desejo era que ele ficasse para sempre. Porém, depois do show na Copa do Mundo, já sabíamos que a saída era inevitável.

Entendo bem os garotinhos de onze anos daqui a pouco no Maracanã. Eles vão arregalar os olhos, vão querer enxergar todos os lances e e podem até chorar. Meninos ainda, viram um jogador fantástico em campo. Arias, assim como Martinelli, é daqueles que merecem todo respeito.

Cinco da tarde e eu, já velho, volto no tempo. Depois do Fumanchu veio o mundo. Saíram Zezé, Robertinho, Mário, Edinho e Rubens Galaxe. O Fluminense passou um sufoco por dois anos, mas depois se reinventou e fez um dos grandes times da sua história. Naquele tempo ser campeão era mais importante do fazer rodízio comercial de jogadores.

Arias passou, infelizmente. Tudo tem que passar. A gente arregala os olhos, chora e espera por um novo dia, um novo craque, um novo ídolo.

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