O Colégio São Bento, as peladas e os torneios (por Marcus Vinicius Caldeira)

1.

Eis que ontem à noite, Paulo-Roberto Andel envia-me por whatsapp a sugestão do novo livro do José Trajano, de nome “Os beneditinos”, onde ele fala sobre futebol e Colégio São Bento, onde estudou. Como estudei lá, também, tenho excelente memória e realmente histórias boas para contar do meu tempo de São Bento… Bingo!

2.

Era sonho da minha mãe que eu estudasse lá. E como meu pai tinha uma boa condição por ser analista de sistema em uma multinacional, dediquei-me naquele ano de 1981 a estudar para passar na prova de admissão do colégio para a quinta série. Era bom aluno e estudei muito. Conclusão: passei em segundo lugar.

Minha adaptação foi difícil. A matemática (hoje sou formado em Matemática) era bem difícil e como era da zona norte, a chapa era quente. Minha primeira turma tinha uns alunos filhos de ilustres (filho do Manoel da Conceição, o grande violonista, tinha filho de ministro e tal) e tudo da zona sul. Eu tinha dificuldades de adaptar-me. E o futebol me salvou.

Eu explico.

Quando eu era moleque, modéstia à parte, jogava muita bola. Numa bela tarde, teve um professor que faltou, liberando os dois últimos tempos. Como eu estudava em regime semi-interno, não pudia ir embora antes do tempo, e então fui para o “campão”. Este era um campo de Society grande que tinha no pátio do recreio (se não me engano seis na linha e um no gol) e neste dia desfilei meu bom futebol. O garoto tímido chegou no dia seguinte para a aula com a turma toda já sabendo que eu jogava bem e o craque da turma, Alex Palma, querendo ver essa novidade.

Entrei para o time A da turma e nunca mais saí.

3.

Os sábados de conselho de classe eram assim. Todos assistiam à missa em canto gregoriano às 8 horas da manhã. Depois, os pais iam para o conselho de classe e nós, os alunos que jogávamos bola, íamos para o famoso torneio de futebol no campão. Os torneios eram espetaculares.

Em verdade, eu não gostava muito da minha turma. Eu gostei foi da turma seguinte. Não me adaptei àquele pessoal. No ano seguinte, mudei de turma. A outra turma que entrei era sensacional, e me fez adaptar-me ao colégio totalmente. Eu era azedo, retraído, e na nova turma fiz amizades de verdade e tudo pelo futebol. Acho que ter muita gente da zona norte e Barra e pouca da zona zul explica um pouco, também. O pau quebrava entre zona norte e zona zul no colégio.

4.

O time da 51 de 1982 era bom demais. O goleiro não me lembro. Da linha nunca esqueci a formação: eu, Walfrido (parente de Walfrido Tubagi Salmito, superintendente da SUFRAMA na época, e que morava em Bonsucesso), Muniz (que morava no Grajaú), Ricardo Marinho (meu vizinho de Tijuca), Carleto (também do Grajaú) e Zé Augusto (morador do Barramares). Este jogava muita bola. Canhotinha com drible de salão. No aperto, era dar a pelota para ele que resolvia.

O time da 53 era bom demais, também. Lembro-me do Estrela (vulgo Parafina) e dos irmãos Baidek. Tinha o Mauricinho que jogava muito. Todos os quatro times eram bons.

Meu primeiro torneio pela turma nova e a bola usada era a famosa Naranjito da Adidas, para a Copa do Mundo de 1982. Lembro-me que na primeira cabeçada que dei para tirar a bola da nossa área, caí para trás. Ela começava pesada e depois ia ficando leve. Fomos campeões!

No segundo torneio, a decepção (a vida não é só de vitórias). A final foi para os pênaltis e desperdicei chutando na trave. Pouco antes da cobrança, Zé Augusto orientou-me para não chutar de bico. Não sei porque ele fez isso e pior, entendi ao contrário. O cara era o craque do time, sabe lá. Obedeci… Trolha. Porrilhão na trave e perdemos o campeonato.

Depois veio aquela preocupação de menino: “Vou perder a vaga no time A” que era o que jogava no campão.

Nada disso. O grupo era unido.

Bons tempos! Bons tempos!

Epílogo.

Dos meus tempos de Colégio São Bento trago muitas recordações…

Muitas.

Das peladas, eram as principais. Mas tinham as bagunças; a matemática extremamente puxada pelo método Papi de ensino; Dom Irineu, o gênio da matemática do colégio; de quando um amigo meu destruiu o Boris, xadrez eletrônico de Dom Irineu; de quando quase fui expulso por sair do colégio para comprar chiclete Ping-Pong com figurinhas do álbum da Copa de 1982; dos finais de semana na casa de um amigo de turma em Araras, e suas primas; das professoras de francês e inglês, inspiradora das fantasias daqueles adolescentes; do Professor Cunha de Português e suas orações coordenadas sindéticas e assindéticas; do Irmão Eduardo, que me ajudou muito com a matemática; de quando Dom Lourenço entrou babando na nossa turma para nos expulsar por conta da história dos chicletes Ping-Pong; da fantástica biblioteca que me fez apaixonar por leitura; dos micos que não podíamos alimentar; dos campeonatos de Atari; do McDonald´s da Praça Mauá; da boate Flórida na Praça Mauá, que a gente queria entrar e não deixavam; dos filmes no grêmio…

E claro… Do tricampeonato carioca e brasileiro do Flu!

A gente era feliz e nem sabia.

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Panorama Tricolor

@PanoramaTri @mvinicaldeira

#JuntosPeloFlu

Imagem: cald