Basta ser guerreiro? (por Walace Cestari)

Guerreiro

Garra. Vontade. Espírito de luta. Parece que o Flu reencontrou sua marca dos últimos anos. O problema é saber se só isso basta. Nos últimos jogos, houve dedicação sem tamanho, combinada a problemas técnicos e táticos igualmente grandes. O Flu tem um espírito de pitbull raivoso em si. Apesar de andar preso demais a sua coleira.

Verdade é que o Bruxo tem trabalhado, não se pode negar. Percebe-se que está buscando soluções e mudando acertos do time em cada jogo. Nem sempre se acerta, mas é importante a demonstração do empenho em acertar. Algumas peças parece que já estão desgastadas demais para render qualquer coisa acima do que esperamos. Mesmo que não tenhamos expectativas tão altas assim.

Bruno é um desses casos. Nada contra o garoto, que parece boa pessoa, mas, desde que chegou ao Fluminense não repetiu por nem uma vez sequer as boas atuações que fazia em Santa Catarina. Entretanto, o dublê de lateral agrada aos treinadores por suas características defensivas. Na verdade, Bruno nem é grande marcador, mas, como não avança, acaba servindo para ocupar espaços na defesa. E isso só tem alguma importância porque não há a menor confiança na dupla de zagueiros que temos.

Quando se fala em zaga e em falta de confiança, pode-se brincar no exercício matemático da combinação. Temos cinco zagueiros: Gum, Leandro Euzébio, Digão, Anderson e Elivélton. Combinados dois a dois dão praticamente o mesmo resultado. São dez possibilidades e nenhuma “arranja” nossa zaga de forma confiável. Pelo menos, os últimos jogos vêm mostrando novamente Cavalieri em boa forma, salvando a equipe em muitas situações. Bons goleiros fizeram o cartaz da zaga em 2010 e 2012, não nos deixemos enganar.

Os problemas se sucedem e, quando a fase não é boa, tudo aparece para atrapalhar. O tratamento persecutório e ditatorial dado pela Justiça às questões financeiras do Flu sufoca a administração, gera desconforto e alimenta uma crise que se tenta evitar de todas as maneiras que chegue às quatro linhas. Soma-se a isso a demissão de Sandro Gomes por uma questão que, dificilmente, não era conhecida há tempos nos gabinetes e salões tricolores. Os problemas se multiplicam, a política anda agitada nos bastidores do Laranjal visando à sucessão presidencial e tudo isso pode influenciar uma equipe que busca reafirmação.

Alheios a isso (ou, pelo menos, tentando), os meninos de Xerém vão ocupando espaços e tornando-se alternativas reais para fugir de nossa mesmice técnico-tática. Cabe a Luxemburgo gerenciar a equipe de forma a evitar que outros problemas prejudiquem a retomada de rumo do time. Ainda que hoje isso se resuma à pegada e à raça, já é um recomeço promissor. É hora de Rodrigo Caetano mostrar porque tem todo esse cartaz no mundo do futebol, contornar os obstáculos e aparar as arestas de tudo o que não for futebol para que nossos atletas tenham em mente apenas os pontos a conquistar.

Em meio a um universo de incertezas, sempre surgirá o Fluminense. E com a força de toda sua história, não há como ser diferente: nós acreditamos.

Em tempo: Na coluna da semana passada citei uma frase que atribuí ao gênio Nelson Rodrigues (“A verdade incontestável é que ninguém ganha da forma que ganhamos. As nossas vitórias são cardíacas, e nos levam da extrema falta de perspectiva, do máximo sofrimento, da crueldade, ao êxtase, ao épico, ao apoteótico, tudo junto, quase sem fronteiras entre esses opostos.”). Por ser a frase genial, não duvidei da autoria. Mas estamos todos errados. Não quanto à genialidade da frase. Muito menos quanto à genialidade do verdadeiro autor: Mauro Jácome. No fundo, ter seus pensamentos atribuídos a Nelson é prova de genialidade inequívoca e soa até mesmo elogioso. Mas vale o registro do real dono da bola, algo que me deixa envaidecido por poder fazer parte de um time que conta com um talento desta grandeza! Obrigado, Mauro!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: uol.com.br

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