Bahia 0 x 1 Fluzão: um grande time começa por um grande goleiro (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, a análise da vitória da noite de ontem tem que começar, obrigatoriamente, pela atuação de Marcos Felipe. Foram pelo menos três grandes defesas, que garantiram a vitória tricolor na Fonte Nova.

Um dos maiores pecados de Fernando Diniz enquanto técnico do Fluminense no ano passado foi ter deixado Marcos Felipe no banco para as exibições bizarras de Rodolfo e do outro goleiro todo enrolado que nós tínhamos, que eu até esqueci o nome.

Um grande time começa por um grande goleiro, porque um grande goleiro é capaz de decidir partidas. Foi o que fez Marcos Felipe hoje. Mesmo que o Fluminense não tenha permitido infiltrações do ataque do Bahia, graças à boa recomposição e volume de marcação, com os ótimos zagueiros, Nino e Claro, fazendo grande partida, o Bahia ameaçou em chutes de fora da área, alguns perigosíssimos, que encontraram em Marcos Felipe uma barreira praticamente intransponível.

Aliás, falando em Bahia, a sorte nos sorri. Entraram em campo com dois homens com alto poder de criação: Daniel e Ramirez. Daniel parece que sentiu a camisa do Fluminense do outro lado e não jogou rigorosamente nada no primeiro tempo. Foi substituído no intervalo e, para desespero do técnico do Bahia, Ramirez saiu machucado logo no início da segunda etapa, deixando o Bahia acéfalo no meio de campo.

É aquilo que eu tenho falado. A Libertadores nos persegue implacavelmente e a vitória de hoje nos garante no mínimo na pré-Libertadores.  São cinco pontos de vantagem para o nosso perseguidor mais próximo, o Grêmio, e oito para um possível outro perseguidor, o Corinthians, caso o Grêmio vença a Copa do Brasil.

Mas não é só de sorte que estamos falando. A felicidade maior foi, na última partida, contra o Goiás, ter podido fazer uma análise tática da evolução do Fluminense. Contra o Bahia, mais uma vez, o Fluminense jogou bem. Não, não foi uma partida extraordinária, mas o Fluminense jogou bem.

Nossa dupla de zaga foi impecável, Calegari parece cada vez mais à vontade e Egídio, embora tenha tido um ou outro momento de Egídio, subiu de produção e justificou, mais uma vez, ter recuperado a vaga provisoriamente perdida para Danilo.

Yago foi mal nas ações ofensivas, deixando de agregar valor com uma de suas boas valências, que é o apoio, tanto atacando espaços pelos lados como entrando na área. Deu, todavia, intensidade maior à marcação, necessária para enfrentar um time mais técnico, como é o Bahia, do que o Goiás.

Martinelli andou errando um passe aqui, uma decisão ali, mas esbanjou a personalidade de sempre, sendo o verdadeiro termômetro do meio de campo.

Nenê desfilou o seu melhor repertório, quebrando a obviedade do jogo em vários lances e dando ritmo às nossas ações ofensiva. Um lançamento para Fred na área no segundo tempo poderia ter nos proporcionado um gol de cinema.

Aliás, falando em Fred, há muito tempo que a torcida não podia apreciar suas melhores qualidades. Técnica, inteligência, posicionamento e uma disposição inacreditável. Parece que mergulhou na fonte da juventude. Foi formidável no lance do gol, puxando a marcação com inteligência.

Ninguém precisa cobrar gols de um Fred que joga dessa forma. Basta dar essa ideia de estrutura ofensiva. O gol é detalhe. Quem me acompanha aqui sabe que eu não faço média com ninguém, eu analiso jogo. Aliás, eu analiso jogo de vez em quando, porque às vezes nem isso dá para fazer. O Fred de hoje lembrou trechos da arrancada do Time de Guerreiro em 2009, da arrancada do Brasileiro de 2010 e do primeiro turno de 2015, quando o Fluminense chegou a disputar a liderança.

Foi realmente comovente ver Fred em campo sendo Fred, mesmo que nós não acreditássemos que voltaríamos a ver isso. E não é de hoje, porque já houve sinais no jogo contra o Goiás. Se for nessa toada, joga a campanha do título da Libertadores ano que vem até como titular.

Aliás, eu quase joguei o Marcão pela janela na substituição do Fred, porque, a princípio, não fazia o menor sentido, mas falo sobre isso mais à frente.

Antes tenho que falar de dois jogadores que deram vida à ideia de Marcão: Lucca e Luis Henrique. Ambos fazendo aquela função inglória de fazer a marcação pelos lados até o limiar da nossa intermediária.

Lucca foi o responsável pelo nosso primeiro tiro a gol em decorrência de uma jogada construída coletivamente, que aconteceu porque Luis Henrique usou o que tem de melhor para deixar o marcador na saudade, ir ao fundo e cruzar a bola para trás, rasteira, do jeito que tinha que ser naquele momento, mas que poucos consegue fazer corretamente.

Luis Henrique marcou o gol da vitória, mas foi mais que isso. Voltou a agregar valor à equipe. O próprio Lucca, que tanto temos criticado, fez boa movimentação e ajudou a dar intensidade ao time.

O que eu não consegui entender, pelo menos de cara, foi o que Marcão quis com a troca de Fred e Luis Henrique, que eram as peças que davam volume e referência ofensiva na segunda etapa, pelo improdutivo Caio Paulista e Michel Araújo.

Eu até recomendaria a troca de Lucca por Michel Araújo, para dar um pouco mais de qualidade ao meio de campo. O fato, porém, é que o Bahia se tornara perigoso e a saída de Fred para a entrada de Caio Paulista deu mais intensidade à marcação. Luis Henrique, por sua vez, pediu para sair por cansaço. Também pudera. Correndo daquele jeito!

O problema é que perdemos qualidade ofensiva e o jogo ficou ali com cara de que nada iria acontecer. Só que o Bahia fez trocas para buscar mais o ataque. Então, já com Nenê sem potência física, Marcão o substituiu por Hudson, tirando o pouco de inteligência que ainda habitava o nosso meio. Acabamos trazendo o Bahia para cima de nós e a entrada de John Kennedy no lugar de Lucca de nada adiantou, porque nossos contragolpes caíam em pés pouco capacitados para construir jogadas em velocidade.

Felizmente nós tínhamos Marcos Felipe para fechar o gol nos momentos finais e levamos preciosos três pontos para casa. A partir de agora, caçamos, não só o São Paulo, mas também o Atlético-MG, nosso próximo adversário, a módicos quatro pontos de distância.

Ora, depois que o Atlético-MG perde para o Goiás, o mesmo time que quase não viu a cor da bola contra a gente, acho que podemos tudo que imaginarmos, e isso inclui o Flamengo, caso tropece no Vasco.

Era para estarmos pensando em uma fase de grupos da Libertadores, mas podemos, se o time continuar evoluindo, pensar até em um vice-campeonato, que seria um achado nessa temporada maluca. Lembrando que cada posição vale uma grana a mais nos cofres do clube.

E tudo isso se deve ao fato de Marcão, mais uma vez, estar se inclinando a fazer o óbvio. Não falo “se limitando” porque enxergar o óbvio é para poucos. Já disse na última análise que o 4-2-3-1 é a cara daquele saboroso feijão com arroz, bife e batata frita. Mas o Fluminense apresentou, mais uma vez, não foi a primeira, uma movimentação ofensiva muito interessante.

Só falta, Marcão, melhorar as substituições, porque o medo de perder pode cobrar caro quando não temos um Marcos Felipe no gol.

Você não está aí para segurar cargo, mas para mostrar que merece ocupá-lo na próxima temporada e ser campeão da América.

Saudações Tricolores!