As próximas horas (por Claudia Barros)

Não quero falar de ontem ou de anteontem.

Quero falar de um tempo histórico, que não se conta em dias, mas em décadas, séculos e memórias.

Não se constrói história à toque de caixa. O tempo que matura os fatos e os transforma em memória se calcula numa outra categoria adverbial.

A história do Fluminense pode ser, assim, relembrada e celebrada.

O que foram os primórdios de Laranjeiras, palco do primeiro jogo da história da Seleção Brasileira de futebol e do Campeonato Sul-americano de Seleções, entre os anos de 1910 e 1920?

E o que foram os anos 1930? O Fluminense foi soberbo, supremo, conquistando tudo o que disputou naquela década: Cariocas, Torneio Aberto, Torneio Rio-São Paulo, Torneio Extra, Torneio Início.

A década de 1950 é marcada pelo Maracanã como o grande palco do futebol brasileiro e mundial. O magistral estádio teve seu primeiro gol marcado por ninguém mais, ninguém menos que Didi, o Folha Seca tricolor, um dos maiores de todos os tempos.

Anos 1970 e o Fluminense apresenta ao mundo craques como Felix, Samarone e Cafuringa. Não satisfeito, o Flu, sob o comando do Dr Francisco Horta, montou a Máquina Tricolor e inspirou gerações. A genialidade respondia pelos nomes de Roberto Rivelino, Edinho, Pintinho, Gil, Dirceu, Rodrigues Neto. Um dos times mais espetaculares que o Brasil já viu jogar.

O que falar dos saudosos e inebriantes anos 1980, de tantas glórias e conquistas, de tantos ídolos forjados à base de garra e identificação?

Dispensam apresentações Paulo Victor, Aldo, Duilio, Ricardo Gomes, Jandir e Branco. Romerito, Deley, Washington, Assis e Tato.

E a década de 1990? O que começou com um super-herói voando em campo, Super Ezio, findou com lamentáveis e desastrosas gestões que quase nos levam ao fundo do poço da história.

Ainda assim, na década em que de forma inacreditável caímos para a Serie C, o Fluminense protagonizou o icônico Carioca de 1995 e o mais famoso gol de barriga do mundo. Protagonizou, também, numa saga à brasileira, o Campeonato Brasileiro da Série C, de 1999.

Se o episódio da Série C serviu para algo, foi para trazer de volta ao Flu o ídolo Carlos Alberto Parreira.

Os anos 2000 foram inacreditáveis. Campeão da Copa do Brasil em 2007, vice_campeão da Libertadores da América em 2008 (essa saga tantas vezes sentida e contada), vice-campeão da Sul-Americana em 2009 e o incrível milagre de 2009, quando o Flu se livrou de um rebaixamento cuja certeza matemática era de 99% para o descenso.

Haja tempo para processar tanta coisa e para os fatos virar história.

O Time de Guerreiros entrou para a história.

O patrocinador Master que reergueu a instituição e abriu caminho para o começo do século 21, também entrou para a mesma geraria.

Os anos de 2010 a 2012 foram arrebatadores. As conquistas dos Brasileirões daqueles anos encerraram uma década de turbilhão emocional para a torcida tricolor.

E mais capítulos vieram e virão. Tantas vezes o Flu foi e é envolvido numa política de pouca valorização do patrimônio, projetos pessoais à frente da instituição, pouca defesa institucional e contas que não fecham.

Ainda assim, e apesar de tudo agora quero falar de amanhã.

Se nesse 04 de novembro de 2023, a glória vier para Laranjeiras e o tempo passar velozmente, a memória que surgirá no futuro será aquela que só as glorias são capazes de construir.

O que não funciona será suplantado como fugacidade e o que for conquistado será alçado ao patamar da eternidade.

O que é memória poderá se tornar vicissitude.

O que é desmando poderá ser corrigido pelas escolhas políticas futuras.

E no pedestal restará o empedernido fato de que conquistamos a América!

Boa sorte e muito juízo em campo, meu Fluminense!

Seremos.