Arrivederci (por Paulo-Roberto Andel)

flu x inter macaé 01 06 2014

I

Quando a fase é boa, a torcida surge. Vejam o caso de ontem em Macaé: mais de seis mil torcedores, muitos vindos do Rio, num domingo à noite já em clima de despedida do futebol no Brasileirão. Nas arquibancadas, festa e apoio. No campo, um jogo parelho entre Fluminense e Internacional, empate justo: o Flu não merecia perder o primeiro tempo e nem o Inter o segundo. Para apimentar a disputa, ideal ver no placar o mais querido do Canindé levar uma sonora sapatada dos azuis, nossos principais adversários por ora.

Todo mundo que tinha de ir, foi. E os de sempre não faltaram, em especial o Maurício Lima, sempre atento ao saboroso cuscuz vendido no Moacyrzão – o que seria impossível no Maracanã by FIFA – três pratos para preparar o apetite para o Lamas. Nossos jovens astronautas também: Vitor e Gabriel em órbita lunar de alegria com doze satélites e cada um com suas inúmeras rotações peculiares. A turma ria como nunca. É sempre bom estar in loco nos acontecimentos, o cronista precisa essencialmente fotografar as memórias do front, os camaradas, a turma onde quase todo mundo se conhece ao menos de vista ou de olá.

II

Primeiros 45 minutos, o Flu melhor, bem melhor, uns quatro gols perdidos: chute fraco do Sóbis, balão do Carlinhos, Walter sem muitas chances, Bruno avançou feito um touro e quase acertou o ângulo direito. Na única bobeada do time, em mau lance de Diguinho (ainda com muito crédito, mas em noite abaixo do padrão recente), o Inter marcou. Naquela situação do cara a cara, talvez tivesse sido melhor o Cavalieri sair para decidir em vez de esperar. Engraçado o Jorge Henrique, cada vez mais empenhado em parecer um cover físico de Romário – nada de futebol, por favor. Depois empatamos com o bom chute do Jean, também em noite rasa, depois da ótima escorada do Sóbis. Reitero: o Fluminense não merecia perder o primeiro tempo de jeito nenhum. Para a virada, a Marô praticou uma tradicional superstição: jogo de Sudoku, aquele dos números, no intervalo para dar sorte – segundo ela, sem a prática o Flu perderia porque dá azar. Apoiei a iniciativa, claro.

III

Na volta, a coisa desandou. Numa raríssima noite opaca de Conca, Jean devagar, Diguinho instável e Chiquinho também, o Fluminense perdeu o meio de campo, ficando sem a pegada de outras partidas. Aí o Inter ocupou o ataque de vários meios, muitas vezes com o veterano Kleber pela esquerda, oferecendo perigo. D’Alessandro, um chato: cria, bate e catimba. Então brilhou o principal reforço para esta partida: Cavalieri, liberado para jogar mesmo estando na lista extra da Seleção. Não estivesse ele de volta ao gol, a coisa ia ficar bem pesada. E o corvo da arbitragem também atrapalhou em diversas situações: Walter teve dois lances ótimos, ele parou no sopro. O Inter descia o sarrafo, era tudo tranquilo. Boa a estreia de Fabrício, ainda mais pelo fato de jamais ter se firmado noutros times. Dos trinta até o fim, sufoco. Conseguimos superar. Troca-se este empate em casa pela vitória sobre o Palmeiras fora e fica tudo bem na média. Foi boa a paralisação do campeonato agora: o Fluminense vinha de um segundo tempo ruim contra o Bahia, a apresentação contra o time de Minas e agora esta. Momento de dar uma folga, respirar e reorganizar as coisas para a volta. Ainda tem o amistoso contra a Itália, mas é uma festa. O empate foi justo: não canso de repetir que o Flu não merecia perder o primeiro tempo e nem o Inter o segundo. Ponto.

IV

Quando voltamos noite afora para o Rio, fiquei vendo na janela a estrada passar. Os silêncios, a turma toda quase dormindo, os fiéis em descanso, os amigos queridos. Então pensei em Maurício Torres e Marinho Bruxa. E lembrei de quem não devia pelo motivo da falta de motivo. Caldeira num silêncio enorme. Mais tarde, um acidente com vários carros parados, alguém sem vida, a tristeza por quem não se conhece e o alívio pela estrada ter prosseguido. Pensei em como vão ser os próximos meses, os anos, como serão estas viagens apaixonantes por centenas de quilômetros apenas para ver o Fluminense jogar, numa procissão que não tem fim. Onde estão nossos decanos como Tia Helena e Seu Armando? E os anônimos que um dia escreveram as melhores linhas das nossas arquibancadas? Serão noites e noites, quarenta, até poder voltar a deslizar pelos asfaltos que nos levam ao amor em campo. Tudo isso leva à reflexão de que, ao contrário do que os bandidos travestidos de maus jornalistas tentaram fazer e provar, o Fluminense está cada vez mais vivo e digno nos gramados. Nunca a tabela de pontuação do campeonato brasileiro foi tão justa em combate à subversão da história claramente manipulada no fim de 2013. Estamos muito na briga. Precisamos rever as finalizações e equilibrar as atuações.

A estrada está cheia de tricolores. O futuro agradece.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: pra