Ainda sobre Xexéo (por Paulo-Roberto Andel)

A morte do escritor, jornalista e dramaturgo mexeu com o emocional de muita gente importante na imprensa e na vida cultural brasileira. Contudo, uma situação me chamou atenção: em diversos momentos tanto na Globo quanto na GloboNews, ao ser mencionado o fato de Artur Xexéo ser torcedor do Fluminense, imediatamente alguém dava a réplica dizendo que isso era por acaso, que ele não ligava para futebol, enfim, num tom estranho que parecia querer minimizar o fato.

É certo que Xexéo não era um torcedor das arquibancadas, mas nem precisava sê-lo: João Gilberto, por exemplo, foi um apaixonadíssimo torcedor do Vasco, embora não haja registro de suas passagens pelo Maracanã ou mesmo São Januário. Aliás, não há registro da presença de João em quase nenhum lugar, exceto no Olimpo da nossa música popular. Gilberto Gil e Maria Bethânia são torcedores apaixonados do Fluminense, ele dedicadíssimo e ela mais pela paixão que aprendeu com o pai. Os dois me falaram pessoalmente. Nossa maravilhosa Fernanda Montenegro é absolutamente tricolor, e não se espera que conheça todas as escalações que tivemos no século XXI. Vale o mesmo para Ângela Rô-Rô. Já a atriz Fernanda Rodrigues sabe tudo de Fluminense. O bom Serguei, de quem tenho a honra de ser biógrafo, estava sempre de olho no Fluminense, louco por Fred, mas sem esquecer do nosso time dos anos 1950, em especial Castilho, definido pelo biografado como um homão.

Por que se deveria evitar o fato de Artur Xexéo ser torcedor do Tricolor? Um negócio sem pé nem cabeça.

Nesta terça, me deparei com uma postagem de Ricardo Cravo Albin, uma das referências da pesquisa musical brasileira e, claro, torcedor do Fluminense, falando sobre Xexéo. E aí o mestre não deixou dúvidas:

E então Xexéo, celebrado merecidamente pelos colegas como uma biblioteca ambulante, recheada de nomes de atores, peças, filmes, novelas e quinquilharias das ruas – no melhor estilo do botafoguense Ivan Lessa -, levava como uma de suas referências o goleiro do seu time. Qualquer que seja a justificativa, ela passa pelo torcer. Não se idolatra Castilho em vão.

Lembro de um nome fundamental da história da imprensa esportiva brasileira, dotado de texto primoroso, que era um apaixonado torcedor do Fluminense, embora jamais tenha demonstrado em público: Teixeira Heizer.

Com o tempo, a imprensa apagou as paixões de Tostão e Leônidas da Silva pelo Fluminense. Você, que me lê agora, sabia disso?

Que Artur Xexéo descanse em paz, deitado em berço esplêndido das três cores, queiram ou não os que tentaram minimizar seu sentimento tricolor.

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O Fluminense joga nesta quarta-feira à tarde, sem TV, sem imagem, provavelmente sem áudio. Para alguns, o empate com o Corinthians já foi uma grande vitória… E parece que o goleiro Rodolfo ainda tem vínculo com o clube. Tem o Reginaldo, caso estranhíssimo.

Sinceramente, tou cansado. Depois do jogo o pessoal resenha seriamente em nossa página no Facebook e por aqui.

Abraçaço.