Abel Braga tem crédito (por Leandro Capela)

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O desumano calendário do futebol brasileiro não me deixa mentir. Um levantamento em O Globo trouxe dados que assustam e que se repete todo ano. Cada um dos oito classificados para as quartas-de-final da Liga dos Campeões da Europa, caso consiga se classificar em todas as competições que disputa até a final, jogará entre 54 (Bayern de Munique e Borussia Dortmund) e 65 partidas (Monaco).

No mesmo levantamento, fazendo o mesmo exercício de imaginação com os quatro grandes do Rio, o Fluminense será o clube com mais partidas (88), seguido de Flamengo (86), Botafogo (82) e Vasco (59). No caso do Tricolor, que é o que interessa aqui, é uma frequência potencial absurdamente alta. Considerando os 30 dias de férias dos jogadores, mais 15 dias de pré-temporada, chegamos a uma média de praticamente dois jogos por semana, ou mais precisamente, um jogo a cada 3,6 dias.

No caso do Monaco, com o mesmo período de férias e considerando uma pré-temporada com o dobro do tempo, 30 dias, chegamos à média de um jogo a cada 4,7 dias. Algo próximo a três jogos a cada duas semanas, um número bem mais humano que aquele que o destino pode reservar para o Fluminense.

Existem agravantes no nosso caso: o baixo grau de investimentos e o elenco enxuto. Com isso, a quem tem a caneta na mão, cada decisão sela o destino. Por isso, se fosse feita a opção por escalar mais titulares, nosso destino na Copa do Brasil poderia ter o risco de ser semelhante ao que tivemos na Libertadores de 2012, também com Abel. Em uma final ganha no Carioca, Deco foi para o jogo e, nele, se machucou. Já estávamos sem Fred e, sem os dois, caímos para o Boca Juniors.

Parece que Abel aprendeu com essa escolha. Vou além: pensou grande, como estrategista. Pensou nos grandes títulos que quer voltar a conquistar pelo Fluminense. Ou alguém se lembra de quem foi o campeão da Taça Rio de 2016? Pois é. Foi um troféu disputado pelos pequenos. Nem pela tradição se considera essa competição. Tampouco nos daria o título direto do Carioca. Portanto, preservar os titulares foi, na minha opinião, a decisão mais acertada, pensando no contexto global.

Muito se criticou o comandante do elenco tricolor por ter escalado um escrete quase inteiramente alternativo no domingo. Os argumentos contrários à escolha do treinador foram desde premiação – esta, inferior à da Taça Guanabara – até estatística contra o rival. Não discordo deles. Provavelmente, nem mesmo Abel. Além de tricolor, é um cara que odeia perder. Mais ainda se for de muito.

Por isso, entendi que ao colocar Sornoza e Richarlison no segundo tempo, quis diminuir a vergonha do 3 a 0 estampado no placar. A imprensa se deleitaria com um chocolate, até pela proximidade da Páscoa. Porém, com os dois melhores então suplentes em campo, essa diferença teria mais chances de ser reduzida, ou, quem sabe, se buscaria um empate, que apesar de não dar a classificação, dignificaria a alma do time.

Nesse sentido, a medida de urgência surtiu algum efeito. Não sofremos mais nenhum gol e conseguimos diminuir a diferença, que transformou a manchete da “goleada” em uma manchete de “vitória polêmica”, com direito um dos erros mais grotescos da arbitragem brasileira, validando um gol do Botafogo com cinco jogadores em posição de impedimento.

Quando seu cobertor é curto, não resta alternativa senão arriscar. Ou você arrisca perder uma partida, ou arrisca perder um ou mais jogadores para um confronto mais importante. Abel fez uma escolha. Perdemos a semifinal da Taça Rio, é verdade, mas não fomos nada afetados nas finais gerais do Carioca. Além disso, vamos com o time completo contra o Goiás e, portanto, aumentamos as nossas chances na competição que considero a segunda mais importante do ano para o Fluminense – atrás apenas da Sul-Americana.

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