A vida começa aos 46 (por João Leonardo Medeiros)

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O início sofrido da participação do Fluminense no campeonato brasileiro deste ano fez com que uma parte expressiva da torcida do Fluminense temesse pelo pior e começasse a contagem regressiva para os sonhados 48 pontos. Esse, aliás, é um hábito de muitos tricolores, por razões que não gostaria de relembrar: muitos dos nossos torcem para superar a linha de corte do rebaixamento antes de calcular as possibilidades restantes.

Alcançamos os relativamente expressivos 46 pontos e, com certeza absoluta, mais dois míseros pontinhos em dez jogos nos livram do rebaixamento. Se alguém tinha esse pesadelo, pode dormir tranquilo a partir de agora. O Fluminense está mais vivo do que nunca e já tem diante de si outra linha de corte: a que, se superada, nos levará à Libertadores.

Neste particular, também demos sorte. Caíram exatamente no nosso colo aquelas duas vaguinhas extra para acessar a Libertadores. Como só precisamos de uma vaga e estamos já com uma folga de cinco pontos para o sétimo lugar (o Corinthians do potente Marlone), creio que já podemos cravar nossa participação no torneio do ano que vem. Ouvi dizer (não conferi) que, com mais quatro vitórias e um empate nos dez jogos restantes, a coisa se define inclusive matematicamente.

Agora, tem uma galera que está sonhando com o título. É um sonho legítimo em se tratando de Fluminense. Neste caso, não é prudente calcular. A razão não deve operar para quem acalenta o sonho do título. E creio que ninguém tem o direito de acordar essa legião de sonhadores. Ao contrário, temos de torcer por eles, para eles estarem certos, temos que enlouquecer juntos, mesmo que não compartilhemos sua fé, sua certeza, sua premonição.

Eu não acho possível, honestamente. Mas vou ficar muito feliz de ver que estava errado o tempo todo, que não tive fé suficiente, que não se deve realmente duvidar do Flu. Não estou torcendo para estar certo, estou torcendo para ser feliz. E realmente nada me daria maior alegria esse ano do que faturar o título e mostrar que cheirinho de título tem nossa camisa desde 1902. Se tem um time de chegada nesse Brasil, esse time é o Fluminense. Basta ver a quantidade de partidas e títulos ao longo de nossa história conquistados em arrancadas e/ou com gols nos últimos minutos.

De todo modo, temos muito a acertar. Não sei quem vai ganhar a eleição e tenho minhas convicções sobre o pleito, sobre em quem não votar sobretudo. O que espero, honestamente, é que o vencedor, o próximo presidente, seja lá quem for, tenha a humildade de reconhecer que a gestão do futebol tem de ser drasticamente acertada (além do marketing do clube, simplesmente patético). Tem ações de curto, médio e longo prazos que devem ser implementadas agora, para ontem.

É preciso, por exemplo, equilibrar nosso elenco. A barca tem de ser grande. Dourado, Dudu, Giovanni, Maranhão, Osvaldo, Wellington Paulista, Artur, Pierre, entre muitos outros, não têm nada a fazer no clube. A questão é convencer os empresários a encontrar outro lugar para os caras, a não ser que pretendam vê-los treinar em separado até o fim de seus contratos (em alguns casos, 2020). Muito possivelmente isso trará um grande prejuízo ao clube. Que se dane, é melhor perder uma grana na rescisão do que perder jogos e grana com eles em campo, ou treinando no clube para jogar esporadicamente.

Saindo esse conjunto que desafia a matemática (elevando tudo a zero, não dá um), podemos contratar bem. Podemos trazer dois laterais titulares e um grande centroavante. O meio-campo e a defesa, na minha opinião, estão razoavelmente bem servidos, embora seja ainda necessário um zagueiro para botar o Henrique no banco. São poucas contratações, podem ser feitas cirurgicamente por gente competente (e não açodadamente pelo presidente do clube, como no início desse ano).

Quanto ao médio e longo prazos, o certo é trazer gente estudada, gente que seja realmente profissional. Quem sabe trazer alguém que tenha trabalhado com treinadores como Guardiola, Mourinho ou mesmo Sampaoli para orientar o trabalho de gestão do nosso futebol. Não dá para contar mais com boleiros motivadores e/ou laranjas de empresários. O Fluminense não pode estar na mão dessa gente.

Com dito, isso tem de ser tudo bem estudado e trabalhado. Sobretudo é preciso trabalhar com humildade, ouvir e levar a sério as vozes dissonantes, em lugar de desqualificá-las via redes sociais como inimigas do clube. Oposição é sempre uma boa, em qualquer lugar. A base da democracia é a convivência com a oposição, algo tão evidente que não precisa ser explicado no detalhe.

Nossos 46 pontos de hoje permitem discutir finalmente o futuro imediato e de longo prazo do clube. Espero que não desperdicemos essa oportunidade ímpar numa briga totalmente sem sentido para aferir quem é mais tricolor, quem ama mais o clube ou quem ajudou mais a ele. Se o Fluminense é realmente de todos nós, não devemos ser divididos entre comandantes autoritários e comandados bovinos. Devemos ser ouvidos e respeitados. Todos. Vamos adiante que a vida recomeçou agora aos 46.

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Panorama Tricolor

@PanoramaTri 

Imagem: jole