A promessa e a despedida (por Paulo-Roberto Andel)

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A Bélgica estreou, venceu, brilhou bem menos do que poderia mas conseguiu o que precisava.

Depois enfrentou a Rússia ontem no belo Maracanã todo vermelho (para desespero dos reacionários de plantão) com mais de 73 mil expectadores. E venceu com um golaço no fim da partida. Entretanto, não brilhou. Já havia um ar de empate resignado antes do 1 x 0 salvador.

O curioso é que, além das boas referências, percebe-se em vários momentos que vários jogadores belgas possuem alta qualificação técnica, mas alguma coisa fica no quase.

Ideal que as promessas se tornem realidade e mais uma grande seleção marque seu território na Copa 2014. Oxalá a Bélgica emplaque, pero no mucho. Por enquanto, está inadimplente em relação à mídia positiva.

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Não vi a goleada da Argélia sobre a Coreia. Nem precisava: um jogo de seis gols já demonstra que, no mínimo, houve um rol de momentos divertidos.

Portugal x EUA, o primeiro tempo não me agradou muito, vitória parcial lusa. O segundo, um azougue. Uma correria estadunidense maravilhosa em pleno coração de Manaus.

Além do golaço de empate, algo de espetacular nas arquibancadas: demorou décadas, mas finalmente os iânques compraram a briga do futebol. Pintados, apaixonados, gritantes, eles são o símbolo de uma lenta mas bem-sucedida colonização da bola sob o comando de Pelé. Quatro décadas depois, o futebol é uma realidade definitiva nos Estados Unidos.

Para fechar, um gol de barriga de Dempsey – um mal estar enorme para quem ficou paralisado no Maracanã em 1995. Na mesma trave. E o empate luso, fruto de muita garra e digno de comemoração aos 45 com Varela.

Cristiano é um excelente jogador, mas não é Garrincha 1962. A simpática Portugal ainda tem chances, mas remotas: EUA e Alemanha se enfrentam e o empate classifica os dois. Nós, brasileiros, não queríamos assim, mas de certa forma era quase previsível.

3

Hoje encerra-se o que para alguns significou uma era. Para outros, um movimento. Penso que foi um momento, um bom momento.

Já eliminada, a Espanha se despede da Austrália. A fragorosa derrota na estreia contra a Holanda despedaçou o asfalto, a derrota para o bom Chile significou o fim do caminho. Mas muitos já desconfiavam que depois da Copa das Confederações em 2013, já tinha entrado água na tubulação.

Longe de significar desrespeito ao grande time campeão da Eurocopa e do Mundial de 2010. Longe, longe demais, certamente. Mas talvez a rápida evaporação do domínio do futebol espanhol no cenário mundial atual tenha algumas explicações.

A primeira: apesar de ser um dos mais tradicionais e financeiramente ricos centros de futebol do mundo, a terra da Fúria nunca teve seleções que ocuparam o imaginário popular dos torcedores mundo afora. Real Madrid e Barcelona são gigantes do mundo, mas a seleção deles quase sempre foi opaca, descontando-se a naturalização de craques como Di Stefano e Puskas. Bem mais próxima da realidade de Portugal do que de outros centros de brilho efêmero, tais como a maravilhosa Hungria 1954, a Holanda 1974-1978 ou a Dinamáquina de 1986 – e aqui falo de seleções fantásticas que não obtiveram um título mundial.

Segundo: essa não vivência no primeiro pelotão do futebol fez com que a Espanha tivesse ainda um ótimo time em tempos recentes, mas sem renovação. O time envelheceu ao mesmo tempo em que deixou de ser uma surpresa no futebol mundial, num cenário comum a um país que tem nos estrangeiros a grande força de sua competição nacional.

Terceiro: com plena e absoluta sinceridade e lucidez, havia algum sinal de que a Espanha ia deter a hegemonia do futebol mundial? Não. Daí minha opinião de que foi um momento, com a diferença de que a seleção espanhola soube aproveitá-lo.

Quarto: se a Espanha teve um grande momento – e teve mesmo -, ele se deveu também ao cenário opaco do futebol contemporâneo. Desde o Brasil 2002, quem brilhou no universo das seleções? Não é diminuir a Espanha, mas sintonizar os cenários com a história.

Casillas, Piqué, Xavi, Xabi Alonso, Iniesta, David Villa e outros entraram com justiça para o rol da fama dos campeões mundiais. Mas será que o tempo fará com que em 2074 os torcedores louvem a Espanha assim como hoje a Hungria 54 é ainda falada? Ou será que o preço a pagar seja exatamente o da Hungria, sem nunca mais voltar aos holofotes?

A Espanha não merecia sair tão cedo da Copa 2014,  mas também não fazia jus ao ter recebido da imprensa esportiva o título de paradigma do futebol mundial. Foi um momento. Para renová-lo, será preciso ter a atenção que países como Inglaterra e Uruguai – eternamente presos à nostalgia de seus apogeus – não tiveram no suceder das décadas.

Alguém vai dizer que a Holanda nunca ganhou nada, por exemplo. E aí talvez esteja a graça do futebol, quando a injustiça abraça o talento e o desvirtua.

E pensar que, com todos os seus inúmeros problemas, o Brasil tem cinco títulos mundiais, esteve em todas as Copas e agora briga (de modo improvável para alguns) pela sexta estrela?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

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