A mágica de Afonsinho (por Paulo-Roberto Andel)

Na terça-feira passada, participei de uma mesa de debates na FLIPA – Festa Literária de Paquetá – ao lado de outros escritores amigos. Raras vezes me senti tão bem em um lugar. As pessoas, a amabilidade, a calmaria da ilha, o cheiro das letras e, principalmente, ter um dia de alegria depois do verdadeiro inferno que foi a noite de segunda-feira no Maracanã.

Ao término da FLIPA, fomos para a festa de encerramento no Quintal da Regina. Um bar de primeira, com pizzas e cachacinha de primeira. Ah, e com uma biblioteca, creiam: homenagem da Domício Proença Filho, imortal da ABL e prócer de Paquetá. Em certo momento, vinha um camarada passando e, claro, outra referência da ilha, do Rio, do Brasil e do nosso futebol: Afonsinho. Foi então que me reencontrei com o Fluminense que mais amo – o que eu vivi.

xxxxxxxxxx

Finalmente pude abraçar meu botão de 1981. Afonsinho, um dos maiores craques do futebol brasileiro, tem uma história que já virou filme, livro e merece uma peça de teatro com grandes atores. Antes de Sócrates, ele já era o Doutor dos gramados do país (é médico de profissão e ofício) e, com sua coragem, desafiou a ditadura dos cartolas e políticos (vejam “Barba,cabelo e bigode” por favor, ou pesquisem no Gúgol). Craque dos quatro grandes cariocas, do Santos (ainda com um tal de Pelé), seria nome certo nos mundiais de 1970 e 1974 caso o Brasil fosse um país normal à época, se me entendem.

Jogou no Fluminense por três meses no final de 1981, onde encerrou a carreira. Naquele tempo eu sonhava com tempos melhores que só viriam dois anos mais tarde. Mas o fato é que Afonsinho fez do Fluminense um canto do cisne maravilhoso. Os jornais da Biblioteca Nacional não deixam mentir: em quase todas as partidas daquele período, disputadas pelo Carioca que valia muito a pena, ele foi ou o melhor em campo, ou um dos melhores e sempre o coordenador das jogadas do Flu – num meio que tinha também os jovens Deley e Mário, duas feras que dispensam apresentação para quem os viu. Foi o que eu precisei para que se tornasse meu ídolo, muitas vezes no estádio, noutras na velha Rádio Globo com Jorge Curi narrando, Saldanha comentando e outros craques na latinha. E claro, meu pai tratou de me contar a história de Afonsinho num todo, o que só fez aumentar minha admiração, a ponto de tê-lo registrado em um dos meus livros tricolores que, para muita gente que leu, é o mais bonito de todos.

Há tempos eu já cogitava entrevistá-lo, bater um papo, trocar um abraço etc. Temos amigos em comum como Antonio Leal e Thereza Bulhões (nossa cronista do PANORAMA). Depois de tantos anos, finalmente falei com meu herói, tudo registrado pelo nosso craque Silvio Almeida. Noite de gala em Paquetá: livros, comida, bebida, amizade e, por alguns instantes, as lembranças dos melhores anos da minha vida. O Fluminense de Afonsinho foi efêmero e sem títulos, mas jogou de cabeça erguida, com a bola nos pés e uma elegância que é até difícil de descrever.

Voltarei a Paquetá. Vocês vão saber do resultado.

xxxxxxxxxx

O Flu de 1981 estava em crise, mesmo com um meio de campo formado por Afonsinho, Deley e Mário (o craque da 10, favor não confundir com subcelebridades). Tinha Paulo Goulart e Paulo Victor, o heróico Rubens Galaxe, o bravio Aldo, Robertinho e outros.

Um time que, se fosse hoje, seria vinte vezes melhor do que o atual (ainda que este, se fosse minimamente melhor treinado/escalado/reforçado, poderia oferecer resultados melhores do que os que temos visto).

xxxxxxxxxx

O caos que o Fluminense já vive há tempos me desmotivou completamente a falar dessa porcaria que chamam de política do clube, exceto com amigos muito próximos.

Salvo raras e honrosas exceções, um bando de anônimos deslumbrados em busca de autopromoção para ilustrar suas vidas vazias de realizações, ética e competência, caçando oportunidades.

A torcida está de saco tão cheio que desistiu das arquibancadas (criminosamente esfaceladas por um projeto fascistoide). E não cai mais na conversa de uma situação deplorável e uma oposição que, em sua maioria, era a sustentação dos (merecidamente) criticados de agora. Basta recordar 2003, 2006, 2008, 2009, 2013, 2015, 2017 e este 2018. Ou relacionar as temporadas com dirigentes, grupos políticos, investidores, empresários, negociações, nanocelebridades da internet, páginas de fofocas etc. É um lixo só, sem reciclagem.

Fui trouxa duas vezes, com Siemsen e Abad. Não serei três, mas também não me alinharei a farinhas do mesmo saco, que até outro dia pagavam de patrões e têm muita culpa nesse cartório.

Tomara que em 2019 haja alguma luz no fim do túnel, e que os bueiros estejam tampados.

xxxxxxxxxx

América-MG (37 pontos) e Vitória (36) foram solapados ontem por Palmeiras e Cruzeiro. Estão pela bola sete.

Chapecoense e Sport trocam o beijo da morte logo mais.

Na Fonte Nova o Fluminense (42) tem que se garantir, mas entra menos intranquilo do que se esperava.

Dando tudo certo nesta noite, o foco é a Sula. Oxalá.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel