A goleada sobre o Coritiba não é parâmetro (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, passado o período de maior revolta – cujos motivos jamais serão esquecidos – voltamos nossas atenções exclusivamente ao Campeonato Brasileiro que, nos últimos sete anos, acabou sendo nosso último refúgio de competição – e na grande maioria das vezes, brigando apenas pela manutenção na Série A. Noves fora a efeméride do título da Primeira Liga há quatro anos, competição que infelizmente não emplacou, o Fluminense parece vir numa descendente desde que resolveu, no dia da entrega da taça de campeão brasileiro, perder aquele jogo para o Cruzeiro por 2 a 0 no Engenhão e fazer o mínimo possível para pontuar além do que já tinha feito. Ali seria traçada a tônica do restante da década. Uma Libertadores em 2013 jogada em São Januário, com uma eliminação melancólica pro Olímpia nas quartas-de-final, encerrou de vez nosso ciclo vitorioso, nos relegando a uma decadência cada vez mais acentuada.

A partir de 2014, passamos a figurar na Copa Sul-Americana na maioria dos anos, mas acumulamos eliminações para o Goiás na segunda fase, o fatídico erro de Romarinho em 2017, que nos privou de ir às semifinais, a doída semifinal em 2018, em que caímos no Maracanã para o futuro campeão, a covardinha de Oswaldinho que nos derrubou nas quartas-de-final ano passado e, finalmente, a “Calerada” de Odair esse ano. Na Copa do Brasil, acumulamos vexames na maioria das vezes. Eliminação na terceira fase pro América-RN em 2014, naquele jogo patético no Maracanã, para o Corinthians nas oitavas-de-final em 2016, para o Grêmio novamente nas oitavas-de-final em 2017, perdendo os dois jogos, para o Avaí de forma vexatória na terceira fase em 2018, e esse ano para o Atlético-GO na quarta fase, também de forma patética. Somente em 2015, quando chegamos às semifinais e fomos roubados na cara dura contra o Palmeiras, e em 2019, quando saímos nas oitavas-de-final para o Cruzeiro, mas nos pênaltis, podemos dizer que fizemos campanhas dignas.

No Brasileirão, então, o ano de 2013 já prenunciava o que viria a seguir. Seria o rebaixamento, não fosse o “caso flamenguesa” (que poderia ser facilmente “caso André Santos” caso não houvesse a “coincidência”), em que a Portuguesa se condenou ao esquecimento e à quase extinção pra salvar sabemos quem. Em 2014, uma sexta colocação,a mais honrosa pós-título; depois, décima-terceira posição em 2015 e 2016, décima-quarta posição em 2017, décima-segunda em 2018 e novamente décima-quarta em 2019. Nosso atual presidente deve olhar para esse retrospecto com orgulho, pois de 2015 pra cá realmente nos tornamos um Fullham. E, na maioria desses anos, também lutamos contra o rebaixamento em sua maioria, não obtendo mais de 50 pontos em nenhuma oportunidade. Logo, é muito difícil analisar o resto do ano com otimismo, visto que Odair já entregou suas credenciais contra o La Calera e contra o Atlético de Goiás. A sétima posição que ocupávamos no começo da décima-terceira rodada parece extremamente efêmera, principalmente se considerarmos o que o time vem jogando.

Não, amigos, a goleada contra o Coritiba não é parâmetro, posto que se trata do time mais fraco do campeonato. Ainda assim, passamos perto de amargarmos outro empate por conta da covardia de Odair e do time. Não fosse o “gol milagroso” que achamos, talvez o resultado tivesse sido distinto. É claro que o técnico não tem culpa dos desfalques do time por COVID-19. A culpa é de quem achou que era uma boa ideia retomar as competições em meio a uma pandemia. Mas um bom treinador saberá usar os ovos que tem para fazer um bom omelete que se mantenha minimamente competitivo. Temos o time sub-23 que ainda pode nos ceder jogadores para completar o elenco, e há alguns bons nomes ali a serem testados. Temos condições de fazer da desvantagem uma oportunidade para encontrar opções que talvez não estejamos enxergando. Difícil é confiar que o atual comandante tenha competência para isso.

Botafogo é um time que, embora tenha avançado na Copa do Brasil sobre o Vasco, amarga péssimos resultados no Brasileirão e acabou de demitir seu treinador. Ainda não perdemos para eles esse ano, já vimos que eles são mesmo limitados, mas não consigo estar confiante. E acho que esse é o problema. O time é capaz de golear o Coritiba e dar vexame contra o Atlético-GO. É capaz de vencer bem o Vasco e perder do Bragantino e do Sport. A gente olha pra tabela e vê o Fluminense com condições de pegar G4. Não sei nem há quanto tempo não uso esse termo aqui na coluna. Vemos uma sequência em teoria boa: Botafogo, Goiás, Bahia… times que estão na rabeira. Imaginem nove pontos, amigos. Mas aí é que está… é difícil realmente acreditar no conjunto da obra, ainda mais com tantos desfalques. Wellington Silva se machuca sempre que joga bem. Ganso, que poderia ser a opção pra mudar uma partida, também está afastado. Quando Fred cansa, a opção é o Felippe Cardoso, amigos. Mais do que nunca, teremos que torcer na principal acepção da palavra. Torcer, principalmente, para a nossa desconfiança ser infundada.

Curtas:

– É quase impossível que Dodi realmente esteja pedindo 500 mil de salário pra renovar. O que está acontecendo é muito simples de entender. Essa será a desculpa da gestão para ele sair de graça no fim do ano. A pedida dele provavelmente foi mesmo 250 mil de salário; todavia, parte da torcida pode achar que é até justa (eu penso que não é; o valor que o Flu ofereceu a ele é justo), já que algumas barangas do time (ou que são reservas) ganham isso ou até mais. Mas uma pedida de 500 mil não tem conversa. Toda a torcida ficará contra o atleta. E isso poupará a gestão de mais pedradas por perder um atleta de graça. Nesse caso, não há muito o que fazer. Dodi quer ganhar mais do que efetivamente vale. Se não aceitar a oferta do Flu, que seja feliz (e provavelmente reserva) em outro clube da Série A.

– Lucca chegou. Léo Jabá, não. A posição em que Lucca joga não é carente – se não considerarmos os atuais desfalques – mas ele pode acrescentar qualidade ao time, sem dúvidas. Todavia, só saberemos após vê-lo jogar. Espero que realmente puxem Mateus Pato do sub-23, como parece que farão. Depender apenas de Fred e Felippe Cardoso(!) no comando de ataque será duro.

– Palpites para as próximas partidas: Botafogo 0 x 1 Fluminense; Goiás 0 x 1 Fluminense.

Panorama Tricolor

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